Caros leitores,
"Você está gastando uma imensa energia controlando situações e pessoas na tentativa de evitar problemas?"
Obviamente o controle é necessário para mantermos um mínimo de ordem em nossa vida, mas já imaginamos o que o excesso dele faz no nosso dia-a-dia?
Em muitas situações não só o controle é bem vindo como é extremamente necessário. Por exemplo, os horários de nossos compromissos de trabalho, estudo, as datas de pagamento de nossas contas, a lista de compras do mercado, os dias de limpeza de nossa residência, os horários das refeições - nessas situações o controle aparece como um auxiliar de nossa disciplina - quando temos ordem e disciplina em nossa vida, a parte emocional, espiritual, psicológica torna-se mais fluida - nossos pensamento fluem mais leves e até por vezes, mais profundos.
Porém se nos tornamos obsessivos em apenas nos ater a esses compromissos materiais, sem um intervalo entre eles, nossa vida terá sido em vão - quer dizer, nos tornaremos pessoas extremamente eficientes, mas também entediantes para os outros e irritadiços, cansados, sem meta para nós mesmos.
Assim, o controle é útil em nosso cotidiano em relação às nossas coisas materiais, mas em se tratando de relacionamentos pessoais é quase sempre muito inadequado.
Na tentativa de darmos uma resposta razoável para a pergunta inicial, recordemos realmente quanta energia gastamos controlando as pessoas no nosso dia-a-dia.
Há um tempo atrás, tive uma experiência em minha casa na ocasião da pintura externa da mesma. A pergunta é: "preciso controlar como a pintura será feita?" Compramos as tintas das cores desejadas, contratamos um pintor e explicamos como gostaríamos que a casa fosse pintada - as cores em cada local - portas, janelas, paredes e perguntamos a ele o prazo, se ele necessitava de mais alguma coisa, tipo ferramentas, escada, lona para os dejetos da raspagem. Terminada essa fase, o pintor ficou entregue ao seu trabalho - afinal de contas é a sua função e ele saberá realizá-la a contento - não há necessidade de controle em sua tarefa. Ou há?
Esse exemplo é fácil de compreender, principalmente porque se trata de uma pessoa a qual não temos intimidade - é uma relação de trabalho. Mas o que dizer de uma relação mais íntima tipo pais e filhos, cônjuges, irmãos? Quantos de nós achamos que temos que controlar a vida de nossos familiares... Esse tipo de atitude acaba sendo a origem de nossas dores emocionais e de sentimentos depressivos.
Nós nos enganamos quando acreditamos que temos a capacidade de dirigir a vida de filhos, cônjuges, colegas, amigos e até vizinhos - supervisionar comportamentos e atitudes é algo ilusório.
Nós gostamos quando outros interferem em nossa vida, dando palpites, opinando sobre como deveríamos agir em tal situação? Acredito que a maioria das pessoas responderia não a essa pergunta.
Nós nos intrometemos na vida dos outros para nossa própria segurança. Explico melhor: essa característica aparece mais na relação entre pais/mães e filhos. Muitos genitores controlam os filhos demasiadamente porque acreditam que eles não vão conseguir realizar suas tarefas sem a ajuda deles - muitos consideram os filhos criaturas ineptas.
Entretanto essa intromissão também ocorre em outros tipos de relação. Com amigos isso ocorre quando queremos dar "dicas" para a vida deles de como achamos que eles deveriam fazer isso ou aquilo em determinadas situações. Entendo que só podemos expressar nossa opinião quando ela for solicitada. Aqui cabe aquela famosa expressão "se conselho fosse bom, ninguém dava de graça."
Responsabilidade é o ideal e não controle. Então como exercer a responsabilidade sem controle? A pessoa responsável sabe o seu papel em cada situação de sua vida e o faz com zelo e atenção e isso não quer dizer ficar fiscalizando a vida dos outros. Cada um é responsável exclusivamente por si próprio; ninguém é "dono" de ninguém e cada pessoa só irá mudar sua maneira de ser quando ela assim o desejar - todos podem ajudar na mudança do outro, mas somente se ele assim o quiser.
Será que o domínio sobre as outras pessoas é uma expressão saudável de poder? O único poder que temos nas mãos é controlar a nós mesmos - é buscar estar do lado do bem, é cultivar virtudes, livrar-se daquilo que não nos faz bem. Automaticamente se cuido bem de mim mesma, tenho mais habilidade de cuidar de quem está ao meu lado - cuidar aqui não é controlar o outro, é estar de prontidão caso o outro precise de mim. Esse é o melhor e único poder que temos em nós.
Vale lembrar que aquele que manipula a outrem, também tem mais facilidade de ser manipulado - porque se preciso manipular outra pessoa é porque não estou bem, me sinto frágil, insegura e estando nessa condição interior, facilmente posso ser manipulada por outra pessoa sem perceber devido à minha sensação de fraqueza - qualquer pessoa que me "der a mão" eu aceitarei e nem perceberei se esse ato seria realizado com boas intenções.
Em realidade, todas as pessoas precisam ter suas consciências expandidas para que possam encontrar dentro de si mesmas todas as respostas para seus próprios problemas.
Uma pessoas controladora não sabe usar seus valores pessoais e sua força interior nem para si própria e muito menos para seu relacionamento com o outro.
Fazer tudo para quem você ama não é uma prova de amor, mas de domínio e medo de perder.
Boa reflexão!
P.S. Num texto de setembro de 2023, já escrevi sobre o assunto. Quem quiser ler ou reler aqui está o link: https://soniahutterer.blogspot.com/2023/09/o-controlador.html O título é "O Controlador".