Olá leitores,
A 12ª regra do terceiro livro de Jordan Peterson "Além da ordem - mais 12 regras para a vida" trata da gratidão. Já escrevi sobre as outras 11 regras (no fim desse texto relacionarei os títulos das mesmas, caso alguém queira lê-las ou relê-las).
Peterson colocou nesse capítulo um título um pouco diferente: "Seja grato apesar do seu sofrimento". Como estou traduzindo do livro em inglês, achei esse título difícil de encarar...
Ele inicia explicando que "ele acredita que as pessoas têm a habilidade de transcender seu sofrimento, psicológica e praticamente, e conter sua malevolência/maldade, tanto quanto o mal que caracteriza os mundos social e natural."
"Os seres humanos têm a capacidade de confrontar corajosamente seu sofrimento. Se você confronta as limitações da vida, corajosamente, você terá um propósito que lhe servirá como antídoto para o sofrimento."
A coragem de "olhar para o abismo", metaforicamente falando, como ele diz, te dá a capacidade de enfrentar as dificuldades da existência sem fugir delas.
"Se você age com nobreza (uma palavra que é usada raramente hoje em dia) frente ao sofrimento, você tem a capacidade de amenizá-lo não somente para você mas também para as outras pessoas. Você pode fazer desse mundo um lugar melhor (parece piegas, n'é, mas não é). Ele traz o exemplo da malevolência - todos nós gostamos de falar de vidas alheias - mesmo que não sejam tão próximas - falamos de pessoas públicas, como se nós as conhecêssemos na íntegra, como se participássemos de suas vidas - mas muitas vezes o que "sabemos" são notícias dos jornais e/ou das redes sociais... Hoje em dia, sejamos francos conosco mesmos: Será que tudo o que ouvimos, lemos ou vemos é verdade?
Peterson, em seus livros, fala do relacionamento interpessoal, não somente da vida individual de cada um - para ele, e eu também concordo, para melhorar o mundo há que se melhorar a si próprio.
De acordo com Jiddu Krishnamurti, filósofo, escritor, orador indiano do século passado, para melhorarmos o mundo (o qual achamos que muitas vezes está indo para o "buraco"), temos que nos conhecer genuinamente com nossos defeitos e virtudes - não podemos "tapar o sol com a peneira" - devemos enfrentar nossa realidade de frente - só assim poderemos "começar" a impulsionar o mundo para um patamar mais alto.
E, voltando ao texto de Peterson - "começar a parar de mentir ou espalhar/compartilhar aquilo que percebemos ser mentira, é o primeiro passo na direção certa". Para ele, o otimismo é mais confiável que o pessimismo - não o otimismo ingênuo - mas o otimismo daquele que frente a escuridão enxerga uma tênue luz que parecia tão diminuta, mas que no final traz uma grande surpresa e um grande alívio e até nos faz gratos por a termos enfrentado.
"E a pergunta que fica é Por quê sempre olhamos para a escuridão? Somos fascinados pelo mal. Assistimos a dramáticas representações de "serial killers", psicopatas, reis do crime organizado, membros de gangue, estupradores, matadores de aluguel e espiões. Voluntariamente, muitos de nós, nos aterrorizamos e nos enojamos com filmes de suspense, de terror - é mais do que uma curiosidade. O conhecimento do mal é necessário - se você falha em conhecê-lo ou entendê-lo poderá cair em algumas de suas armadilhas. E então, você procura os lugares escuros para se proteger, no caso de a escuridão aparecer, para encontrar a luz (e ela sempre está lá - grifo meu).
Inúmeras situações na vida são difíceis de enfrentar, mas na maioria das vezes temos que fazê-lo, até para que nossos familiares e amigos poderem encontrar alguma força para dar continuidade a seus planos, ou até suas vidas. Peterson traz o exemplo mais difícil de encarar para a maioria das pessoas - é o sofrimento, a dor de uma perda para a morte. Raras são as pessoas que enfrentam o funeral de uma pessoa querida de maneira tranquila, como algo natural. Entretanto esse é o momento que se dever ter uma certa coragem/força para seu enfrentamento - pois seria uma maneira das outras pessoas terem com quem contar ou se apoiar. "Se você consegue observar uma pessoa "pairar" acima de uma catástrofe, perda, desesperança/desespero, você verá evidência que a resposta a tal catástrofe é possível. Coragem e nobreza em face da tragédia é o reverso da destruição, do cinismo vazio que aparentemente se justifica em tais circunstâncias."
"A atitude negativa de algumas pessoas é compreensível - elas têm vidas difíceis, mas quando encontramos na vida pessoas em situações mais difíceis que as nossas até acharíamos muito difícil se estivéssemos no lugar delas."
O sofrimento de pais em relação aos filhos é bem real - um sofrimento que devemos ser gratos - me explico melhor. Peterson trouxe o exemplo dos próprios filhos. Quando os filhos são pequenos, os pais têm uma árdua lição a aprender, na minha opinião. Peterson explica: "há uma vulnerabilidade que não pode ser negada sobre os filhos/crianças pequenas que fazem os pais ficarem atentos, conscientes do desejo de protegê-los, mas também do desejo de lhes ensinar autonomia e empurrá-los para o mundo, porque isso os fortalecerão. É também essa vulnerabilidade que faz com os pais fiquem zangados/furiosos com a vida por causa da fragilidade dos filhos e que faz com que os pais odeiem essa circunstância, mas ao mesmo tempo é a que os une (pais e filhos)."
"Voltando ao tema da morte, quando falamos dela, a resposta de todos é o pesar, a tristeza - principalmente da morte de uma pessoa que nem foi tão próxima de nós - mas se vamos a um funeral, a tristeza é uma experiência estranha - você sente confusão, você nem sabe como agir. Entretanto Peterson acredita que a tristeza, nesse caso é o reflexo do amor. A tristeza é uma manifestação incontrolável de sua crença de que a vida da pessoa que se foi, apesar das limitações e defeitos que ela tinha, foi valorosa. Muitas vezes você chora, se entristece porque algo que você valorizava não existe mais. Mesmo uma pessoa que teve uma vida catastroficamente errônea, sua morte é sentida com tristeza.
Peterson começou a escrever essa regra perto do dia de Ação de Graças nos E.U.A. E então ele notou como é importante dar graças - na minha opinião é uma data que deveria ser comemorada em todos os países, pois deveríamos dar graças por muitas coisas que nos acontecem na vida.
"Sermos gratos por nossa família é lembrar de tratá-los bem. Eles podem deixar de existir a qualquer momento. Sermos gratos por nossos amigos é acordarmos para o fato de tratá-los adequadamente. Sermos gratos pela sociedade é nos lembrarmos de que somos os beneficiários do imenso esforço da parte daqueles que nos precederam e nos deixaram uma incrível estrutura social, cultural, artística, tecnológica, de luz, de sistema sanitário, que fez com que nossas vidas fossem melhores que as deles."
Seja grato pelos percalços da vida pois eles te fizeram mais forte, mais apto, e mais feliz na medida do possível. Na maioria das vezes, aprendemos e crescemos por causa das adversidades da existência. Isso é o que acredito ser humano.
Boa semana!
(P.S. As outras 11 regras desse livro, encontram-se nos textos com os seguintes títulos:
Regra 1 - Instituições e regras X criatividade moral
Regra 2 - O destino do herói
Regra 3 - Omissão nos relacionamentos
Regra 4 - O olho de Hórus
Regra 5 - Não faça o que você detesta
Regra 6 - Abandone a ideologia
Regra 7 - Uma visão da força de trabalho
Regra 8 - Porque a beleza importa
Regra 9 - Memórias inconvenientes
Regra 10 - Como manter o romance em seu relacionamento
Regra 11 - Ressentimento, falsidade e arrogância
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