quarta-feira, 29 de setembro de 2021

O REVOLUCIONÁRIO PODER DO PENSAMENTO GLOBAL

Caros leitores amigos,

O texto desta semana foi provocado pela reflexão do TED Talk da escritora turca Elif Shafak que tem como título "O revolucionário poder do pensamento diverso/diversificado/diferente" (em tradução livre de "The revolutionary power of diverse thought").  Eu gostei muito da fala dela embora ela tivesse citado filósofos socialistas, ideologia a qual não concordo em muitos aspectos.  Essa fala foi há 3 anos, mas continua atual; foi antes da pandemia.

Nessa época em que o mundo está dividido politicamente em direita e esquerda, seu discurso trouxe ideias novas que não compactuam com essa noção dualista que os países adotaram como sendo a única verdadeira.

Todos os povos que ela citou e, incluiu-se num deles, são nações despedaçadas por governos ditatoriais e embora pareça que ela pertença à ala esquerda do mundo com a conhecemos, em realidade ela apenas está desse lado por causa de seu nascimento e/ou residência.

Bem, então supõe-se que ela fugiu (ela nasceu na Turquia, mas agora mora em Londres) para fazer parte da ala direita do mundo? Também não.

Então em que lugar da escala direita/esquerda ela pertence?  A resposta é: a nenhum dos dois lados.

Bem, tentarei transcrever o que ela nos trouxe em sua fala da melhor maneira possível.

No início do discurso de vinte minutos aproximadamente ela nos remete a "sentirmos" as palavras, ou melhor, a percebermos o sabor delas.  Algumas palavras têm um sabor bem diferente, tais como: criatividade, igualdade, amor, revolução e pátria.

Ela explica como muitas vezes frente a determinadas perguntas de seus leitores em dia de lançamento de seus livros, ela se calou com medo de falar o que pensa ou de dar uma resposta inadequada naquele momento.  Muitos assuntos são complexos e, agora, nessa palestra ela afirma que ninguém nunca deveria se calar para dizer o que pensa, nem ter medo de assuntos complexos.

Assim, falando de palavras agridoces quando ela se refere à sua pátria, a Turquia, surgem para ela emoções diferentes à respeito de sua própria pátria - embora tendo grande amor à ela, também experimenta uma grande frustração com seus políticos e então tem emoções e sentimentos de desespero, de medo, de raiva.

Para ela, os políticos prestam pouca atenção às emoções das pessoas.  A humanidade passa por um novo estágio na história mundial onde os sentimentos coletivos guiam as nações e os políticos.  As redes sociais polarizadas (não gosto dessa palavra, pois ela divide, separa, mas está na moda e foi a palavra que ela usou) alcançam a todos.

Emoções como ansiedade, ressentimento, medo, raiva, desconfiança não são levadas em conta, mas os políticos aproveitam essa circunstância para controlar e explorar os cidadãos como se houvessem dois campos imaginários opostos.

Ela faz uso de um conceito do filósofo polonês Zygmunt Bauman, falecido em 2017, para falar de países líquidos e países concretos sendo que, os líquidos (do oriente) estão em constante movimento, com águas turbulentas e os concretos (do ocidente) são países mais estáveis.

Nesses países líquidos há a necessidade dos ativismos, do feminismo (pois neles a mulher é a que mais sofre) e dos direitos humanos.  Quem vem desses países líquidos deve continuar lutando por esses valores essenciais à vida, como no caso dela.

Para ela, hoje vivemos em "ambientes líquidos" em quase todo o planeta.  Então, não há mais tão claramente a divisão em países líquidos e concretos.

Muitas vezes, ela continua, nos sentimos estranhos em nossa pátria; neste mundo cheio de desafios e diante de mudanças rápidas, muitas pessoas querem desacelerar e quando tudo é desconhecido as pessoas sentem saudades do familiar; quando as coisas ficam muito complicadas as pessoas desejam simplicidade.

Neste momento da história aparecem os demagogos: eles afirmam que vivemos em tribos, eles "conhecem" os sentimentos coletivos e dizem que estaremos mais seguros se estivermos junto com nossos iguais; eles não gostam da pluralidade, não sabem lidar com a multiplicidade.

Ela cita o filósofo alemão Adorno "A intolerância à ambiguidade é um sinal de uma personalidade autoritária". ( Parece a marca de nosso tempo?)

Os demagogos, ela continua, estão negando o nosso direito de sermos complexos.  O tribalismo encolhe as mentes e os corações.

Ela cita então o escritor iraniano/persa Hafiz: "Você carrega na alma todos os ingredientes necessários para transformar sua existência em felicidade.  Tudo o que você precisa fazer é misturar esses ingredientes."

Ela se considera uma alma global com conexões múltiplas e histórias múltiplas.  Para ela, os demagogos querem estimular a dualidade (concordo com ela).

Quase ao final ela cita o escritor e pensador libanês Khalil Gibran: "Aprendi o silêncio com os que falavam; tolerância com os intolerantes e bondade com os cruéis." Os demagogos populistas podem nos ensinar que a democracia é indispensável; com os isolacionistas aprenderemos a necessidade de uma solidariedade global e com os tribalistas aprenderemos a beleza da diversidade e do cosmopolitismo.

Ela finaliza afirmando que a pátria, a terra natal pode ser portátil; podemos carregá-la onde estivermos.  Concordo, pois afinal somos todos habitantes do planeta Terra que é a nossa pátria.

Assim como ela, finalizo com uma palavra: Liberdade - que sabor ela tem para você?

(Quem quiser assistir esse TED Talk, ele está no YouTube com legendas em português).

Até semana que vem!


 






Um comentário:

  1. Fazem pensar as citações de Adorno e Klalil Gibran e a afirmação de Elif que "a terra natal pode ser portátil". Sensação de liberdade e desapego.

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