Olá leitores,
Esta semana vou compartilhar com vocês um pequeno conto de minha lavra o qual ficou "tamborilando" em minha mente esses dias.
"Era uma vez uma garotinha muito mal humorada - ela tinha muitas dificuldades no trato social, parecia não gostar de ninguém e apesar de realizar atividades "normais" de sua faixa etária , ela não aturava ninguém - na escola, no esporte, em casa. Isso trouxe a ela um apelido: "broncosa".
Entretanto, apesar dessa sua atitude perante os humanos, em relação aos animais, ela era todo amor e delicadeza, principalmente dedicada aos insetos. Ela gostava muito de ficar sozinha, pois percebeu que ninguém a compreendia - ela não gostava de fazer tudo o que as outras crianças faziam. Ela preferia a companhia da natureza - as árvores (suas mentoras), as flores, os pássaros e mais que tudo os insetos.
Como era uma criança nascida no século passado, ela tinha ganho na escola um aparato de plástico de uns 7 cm mais ou menos, um compartimento, onde havia numa ponta uma lente de aumento e uma tampa na outra ponta; tipo um pequeno binóculo, mas para um olho só, um monóculo então, mas não para olhar fora, mas para olhar para dentro, parecido com um caleidoscópio. Nesse compartimento era colocada uma pequena foto em negativo, tipo slide antigo, (se me lembro bem, pois também sou dessa época) e apontando-se para a luz, para o sol, podia-se visualizar a foto. Não sei se me compreendem, mas ela tirava a foto do compartimento fechado e colocava um inseto vivo, uma formiga por exemplo, e quando apontava para a luz, por causa da lente, a formiga era aumentada de tamanho. Assim ela percorria o jardim de sua casa a cata de insetos para esse aparato - besouros, abelhas, pequenos caracóis - tudo era perscrutado com detalhe.
Ela era considerada estranha, e para os dias de hoje logo a diagnosticariam "autista", embora ela participasse das atividades da escola e das tarefas do lar a contento.
Seus melhores momentos na vida eram no jardim. Uma ocasião, sua mãe, lavando roupa no tanque, colocou no chão uma bacia com água e a garotinha, logo viu uma vespa se aproximando para beber água na beira da bacia - ficou maravilhada com a cena e colocou o dedo perto da vespa e esta subiu nele - a mãe, vendo a cena ficou desesperada, logo achando que a vespa iria ferroar a menina. Entretanto, esta calmamente saiu de perto com a vespa no dedo pedindo a mãe que se acalmasse pois estava assustando o inseto - este saiu do dedo, sem causar nenhum mal à garota e voou para longe.
Então a garotinha cresceu, tornou-se adolescente, namorou, cursou a faculdade (numa área que foi "incentivada" por seu pai, para ganhar dinheiro - nada a ver com a natureza), entrou para o mercado de trabalho, namorou muito (nenhum homem a compreendia totalmente, embora ela fizesse esforços para agradar pois achava que precisava casar para ter segurança). Assim, depois de muito trabalhar em diversas áreas (sempre era mandada embora), cursou outra faculdade na área de humanas para ver se entendia os outros (ela sabia quem era e não abria mão disso) - queria compreender como conviver nesse mundo que, aos seus olhos, era incompreensível, pois só entendia a natureza que a aceitava como ela era sem críticas.
Assim, finalmente quando ela tinha desistido de buscar o homem "perfeito" para ela, ele apareceu - tão estranho quanto ela - arredio, mal humorado, fechado, voltado para as artes em geral - ela ficou encantada com ele - eu diria que um encantou o outro - parecia realmente um feitiço.
A família dela não gostou dele de início, mas talvez, pensaram, ele seja bom para ela, e o aceitaram. Então, pela ordem natural da vida, casaram-se. Mudaram-se para outra cidade, compraram uma casinha com um belo jardim (exigência dela). Como companhia tinham um comedouro de pássaros e muitos deles vinham todos os dias alegrar o café da manhã deles - ela colocava todos os dias bananas, laranjas e mamão para eles.
Obviamente esse quintal tinha a paixão dela: insetos - borboletas, besouros, abelhas, mamangavas, vespas, lagartas, taturanas, caracóis, lesmas e é claro flores, muitas flores para os insetos se alegrarem.
O mundo evoluiu (?) e com essa evolução muitas pessoas voltaram-se para a natureza - era preciso preservá-la para as gerações futuras. Então, ela deixou de ser "esquisita", "estranha" para ser uma pessoa avant-garde, futurista.
Nesse período, os cientistas perceberam que as abelhas estavam desaparecendo e com elas a própria humanidade poderia perecer, pois sem a polinização, plantas, flores, plantações poderiam também, com o tempo, desaparecer. Houve, inclusive, um cientista que afirmou que a abelha era o animal mais importante do planeta.
Ela, amante de abelhas, relembrou seus dias de infância e resolveu construir um apiário em sua casa com total aprovação do marido (este havia se tornado um fotógrafo da natureza, tendo vendido muitas fotos para galerias de arte). Eram realmente um casal perfeito, pelos menos aos olhos dos dois.
E, assim foi feito, e a partir desse dia, ela ficou conhecida na cidade como a "dama das abelhas" - aqueles pequenos seres alados que ela tanto amava e que recebia delas por conta desse amor, o mais doce mel de todos."
Bem, acho que não dá para refletir muita coisa nesse conto, mas ele me foi inspirado e resolvi colocá-lo no papel.
Boa semana!