segunda-feira, 19 de outubro de 2020

COMO ALGUNS HÁBITOS DO DIA-A-DIA LEVAM À VIOLÊNCIA SOCIAL

O texto de hoje é baseado numa fala do TED (TED talk).  TED em inglês quer dizer, Technology, Entertainment, Design); é uma organização americana que posta pequenas conferências no YouTube de quinze minutos em média sobre os assuntos mencionados - Tecnologia, Entretenimento, Design.  O slogan do TED é "Ideias que valem a pena serem espalhadas" (na linguagem de hoje, a melhor palavra seria "compartilhadas").

Este é meu novo hábito - assistir essas pequenas palestras.  Nem todas tem legendas em português - algumas têm legendas em espanhol ou inglês. Os assuntos são bem interessantes e elas ocorrem em várias partes do mundo, inclusive no Brasil - já assisti um TED talk de Bruna Lombardi (atriz) e outro da Dra. Ana Cláudia Quintana Arantes (médica que trabalha com cuidados paliativos).

Assim, o TED talk de hoje é de março de 2020, de Christiane-Marie Abu Sarah de Dallas, Texas, EUA e o título é "How do  daily habits lead to political violence" ("Como os hábitos do dia-a-dia levam à violência política").

Ela é uma historiadora comportamental que estuda a agressão, a tomada de decisões que leva à agressão e o entendimento da moral envolvida. 

Ela nasceu em Idaho, EUA, onde, quando jovem, presenciava reuniões anuais de grupos neonazistas que ocorriam na sua cidade sob protestos da população local. Nessa época não entendia o nazismo.

Antes de se formar na faculdade, mudou-se para Nova York para estudar em agosto de 2001.  Quando o atentado de setembro de 2001 ocorreu, ela quis entender porque os árabes odiavam os EUA e então para iniciar seu entendimento, resolveu aprender árabe.  Depois conseguiu uma bolsa de estudos em Israel e lá se formou em história.

Com essa formação, foi fácil fuçar nos arquivos das bibliotecas na tentativa de encontrar a resposta do porquê dos ataques violentos no mundo.  Esteve em contato com pessoas e documentos de outras culturas (Iraque, Irã, Bálcãs, Cuba, por exemplo).  Concluiu com suas pesquisas , estudos e convivências que os ataques são atos de imitação. Assim, a pergunta a ser feita não é porquê, mas como, como a tomada de decisões leva a um comportamento violento, pois toda ação tem um contexto.

Seus estudos indicaram que a violência política não é endêmica (peculiar a determinada população ou região) - ela é criada.  Nossos hábitos diários contribuem para a criação da violência política.  Ela enumerou alguns hábitos que levam a essa situação, especificamente no caso dos terroristas.  São eles:

1. Isolar-se, morar numa bolha de informações criadas por um determinado grupo que procura incitar a inimizade entre as pessoas e, por conseguinte, incitar a violência.  Ela lembra que todos nós tomamos decisões baseadas em informações - más informações levam a más decisões.  São as famosas fake news.  Pergunto a voces: alguém já viu fake news de boas ações? Reflitam.

2. Cultivar o pensamento "nós contra eles". Christiane traz o exemplo de dois times - o azul e o vermelho.  Quem é do time azul sente prazer quando algo de ruim acontece com o time vermelho e vice-versa.  Alguma semelhança com partidos políticos? E os times de futebol e suas torcidas?

3. Focar nas diferenças entre as pessoas.  Neste item é mostrado uma foto com duas mãos de raças diferentes (de uma pessoa negra e outra de uma pessoa caucasiana [branca]), juntamente com um alfinete - percebeu-se que quando o alfinete espetava uma das mãos, as pessoas de mesma raça que estavam assistindo o vídeo sentiam-se com mais dor e eram mais empáticas do que se espetassem a mão de outra raça diferente da dela. Esse vídeo era mostrado exatamente para frisar as diferenças - é como se não fôssemos todos humanos.

4. Valorizar a emoção da raiva como natural em todos.  Para estimular a raiva no grupo, enchia-se o ambiente com imagens de raiva por dias, meses e anos.

Christiane-Marie, ao estudar história e realizar essas pesquisas, concluiu que a violência política não é culturalmente endêmica; não é uma resposta automática, predeterminada aos estímulos do ambiente - é aprendizagem, é produzida por nós.

Assim, ao focarem a atenção nessas imagens, ao rodearem-se de pessoas violentas, fecharem-se numa bolha de informações violentas, estavam aprendendo novos hábitos - estavam aprendendo algo falso.

Somos seres humanos com culturas e hábitos diferentes, dependendo da região geográfica e  do clima em que vivemos.  Cada raça traz sua peculiaridade e quando nos movimentamos pelo planeta, seja viajando como turistas, visitando pessoas de outras regiões, nos mudando para outros países por trabalho ou por nossa conveniência, encontramos pessoas diferentes daquelas que habitam nossa terra natal.  Mas, apesar disso, somos todos humanos, temos a mesma cor de sangue e temos os mesmos órgãos fisiológicos internos.  A idéia é nos respeitarmos exatamente por todos sermos seres humanos.

Atentemos para o que assistimos na TV, lemos nos jornais, ouvimos das pessoas ao nosso redor.  Ao invés de aprendermos e darmos ênfase às diferenças, cultivemos as semelhanças.  Todos nós podemos aprender coisas diferentes diariamente e elas nos fazem evoluir, crescer.  Entendamos que aquele que sabe mais deve ensinar o que sabe menos.  Todos nós aprendemos algo novo todos os dias, mas também podemos ensinar algo novo para uma pessoa que ainda não sabe o que sabemos.

Ao falar do terrorismo e dos atos violentos, Christiane-Marie nos ajuda a refleltir sobre a nossa vida cotidiana.  Nossas escolhas do que vemos, do que lemos, do que conversamos também podem nos levar para atos violentos. Ela trouxe à baila a violência política, mas alguns de nossos hábitos também podem nos levar à violência social. 

 Podemos mudar nossa trajetória de vida; temos que parar de nos ver como membros da equipe vermelha ou da equipe azul - somos humanos. Nosso futuro depende de encontrarmos um lugar comum com o lado "oposto".  Aprendamos a fazer melhores escolhas para termos uma vida mais pacífica, mais criativa e mais que tudo, mais humana.

Hoje tenho mais de uma pergunta para nossa reflexão: Voce concorda que estamos em contato constante, seja pela mídia ou por filmes e livros com situações violentas? Se voce concorda, o que podemos fazer para mudar essa situação? E que outros hábitos do dia-a-dia podem estar contribuindo para a violência social?

Boa semana!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4 comentários:

  1. A reflexão de Christiane-Marie lembra o texto As três peneiras de Sócrates: da Verdade, da Bondade e da Utilidade. Se o que irei contar a alguém não é verdadeiro, bom ou útil, então é melhor guardar para mim. Somos bombardeados por uma onda de ódio, egoísmo e orgulho. Não compartilho estes conteúdos e adotei resposta otimista e esperançosa a quem enviou a mensagem. Tem funcionado porque as pessoas, geralmente, agradecem ou se calam, ou seja, são convidadas à reflexão, creio eu.

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  2. Sonia, hoje em dia, nesse mundo polarizado, fica difícil acreditar nas informações da mídia, temos de avaliar sob o crivo da razão tudo. Se nos deixamos levar pelas informações da mídia corremos o risco de entrarmos no chamado efeito manada, agindo de forma violenta inconscientemente. Muita vigilância no que assistimos, lemos e falamos.

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    1. Com certeza Marcos. O texto teve exatamente a função de alertar para essa atitude.

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