Olá leitores,
Recentemente assisti a um filme que me trouxe algumas reflexões. O filme era sobre um erro médico. O título do filme era "A Mistake" (sem título em português) - traduzindo é "Um Erro".
Geralmente os títulos de filmes em inglês, principalmente dos EUA trazem uma ideia dúbia e com esse filme é exatamente isso - há alguns "erros" na história e a meu ver, o erro médico não é o maior deles.
A película começa com uma moça de uns 26 anos aproximadamente que chega a um hospital com muita dor no abdômen e febre e deve ser submetida a uma cirurgia de urgência pois tratava-se de uma apendicite. Durante o procedimento por laparoscopia, a cirurgiã chefe permitiu que o residente a auxiliasse na cirurgia e ele, por pressa dela, insere a câmera com muita força e esta causa uma hemorragia interna - então a cirurgia que parecia simples foi bem complicada; estancada a hemorragia, operado o que "poderia" ser feito e ela foi para a UTI.
Obviamente, o primeiro erro foi esse.
O segundo erro foi ela ter dito para o residente comunicar aos pais da paciente que a cirurgia ocorreu dentro do esperado e que agora era só aguardar o seu pronto restabelecimento.
Então ela veio à óbito (como dizem os médicos) e tudo virou de cabeça para baixo.
A diretoria do hospital marcou uma reunião com a equipe da cirurgia e a cirurgiã chefe disse a verdade de como ocorreu e também disse que como ela já tinha entrado com uma apendicite supurada ela iria morrer de qualquer maneira de sepse (contaminação generalizada por conta das bactérias). Nós que estamos assistindo o filme não temos tanta certeza se essa é a verdade...
Então, repentinamente o hospital resolve que irá publicar periodicamente uma estatística dos cirurgiões do hospital com erros e acertos ou seja, cirurgias bem sucedidas e cirurgias mal sucedidas, por conta de uma melhor transparência. Nessa reunião, a cirurgiã, protagonista da história, retruca que isso fará com que bons cirurgiões afastem-se do hospital e até muitos pacientes deixariam de escolher esse ou aquele cirurgião por causa dessa listagem.
Quando você pensa que o pior não pode acontecer, ele acontece. Os pais da moça não ficaram satisfeitos com o resultado do ocorrido. Então a diretoria do hospital pede que a cirurgiã fale com os pais e explique o ocorrido. Então ela o faz e repete a mesma história que ela relatou para a diretoria. Embora ela tivesse relatado superficialmente a participação do residente, ela sempre reiterou que a responsabilidade era dela, pois ela era a cirurgiã chefe do procedimento . Ao meu ver ela foi correta pois acidentes ocorrem em todos os lugares e em todas as áreas.
Porém, mesmo assim os pais abrem uma ação na justiça porque não aceitaram e não acreditaram nessa explicação simplista do fato. Então o nome e a foto da cirurgiã vão para os jornais e ela perde a credibilidade frente ao hospital e à comunidade da cidade.
Agora acontece o terceiro erro - ela tinha um relacionamento afetivo com a pessoa encarregada da anestesia (inclusive da cirurgia em questão) e esta termina a relação pois não queria também ser envolvida no processo. Por esse fato, a protagonista fica arrasada, mas continua sua vida.
Quarto erro - o residente a procura para dizer que tem tido pesadelos e se auto culpando sobre a morte da moça. Ela diz à ele para não achar que a culpa era dele e que a paciente morreria de qualquer maneira por causa da sepse e também que ela era a responsável e não ele e que ele não deveria preocupar-se. Ficamos sabendo nessa conversa que o residente era filho de um médico importante em outra cidade.
Então após esse encontro, ele liga várias vezes para ela, mas ela ignora as ligações. Mas quando ela decide atendê-lo depois de muitas ligações, era tarde demais - ele suicidou-se.
Ela fica muito mal e o hospital faz uma pequena cerimônia fúnebre em memória dele.
Ela então é enquadrada no hospital a atender casos mais simples, apesar do diretor ter dito que ela era a melhor cirurgiã do hospital e ainda rotulá-la de emotiva (na minha opinião não achei nada disso - percebe-se nesse momento um "machismo" sutil; não haviam mulheres na diretoria).
Infelizmente, o melhor do filme foi o final, digo infelizmente pois haverá spoiler, sorry...
Ela entende para quê serviu toda essa ocorrência.
Assim, ela decide procurar os pais da moça na casa deles e lhes conta a verdade nua e crua - que a operação não foi bem sucedida, que houve um acidente na inserção da câmera no abdômen, o qual ocasionou uma hemorragia devido ao longo tempo para ser estancada. Esta infeccionou o corpo e embora tivesse com uma apendicite supurada, o motivo da sepse pode ter sido da hemorragia interna e então, ocorreu o óbito.
O pai da moça, então, às lágrimas, afirmou que se ela tivesse dito a verdade desde o início, ele nem teria aberto a ação contra ela e o hospital. Ele queria a verdade; queria entender o que realmente tinha acontecido.
A verdade por pior que possa parecer sempre é a melhor e única alternativa. A mentira desencadeia uma série de mal entendidos ou assumpções que levam a situações desgastantes e muitas vezes inúteis. Porém, mesmo que as mentiras continuem a acontecer (e ela continuarão, sem dúvida) há que analisarmos que tipo de lição podemos tirar delas, uma vez que a verdade apareça.
Na minha opinião embora a cirurgiã tenha falado a verdade para o hospital, não falou a verdade para os pais. Em qualquer profissão, seja ela a medicina, a engenharia ou a advocacia, para listar as maiores, devemos ficar atentos aos detalhes que podem fazer toda a diferença para o desfecho de uma situação.
Eu gostei da história por sua capacidade de nos trazer reflexões. A história se passa em Auckland, na Nova Zelândia.
Boa semana!
Nenhum comentário:
Postar um comentário