Caros amigos,
O primeiro texto, de muitos, de hoje será um breve resumo sobre a nova carta encíclica do Papa Francisco. Ela foi lançada no dia 04.10.2020 (dia de Francisco de Assis) na Basílica de São Francisco de Assis em Assis - Itália. Ela versa sobre a fraternidade e a amizade social - por isso o nome "Todos Irmãos". Como é longa e possui muitos pontos importantes, esta postagem será a primeira de algumas - não tem como abreviar a carta num só texto.
Ela é separada em oito capítulos, onde cada um é de um assunto diverso sobre o mundo que nos rodeia.
Papa Francisco inspirou-se em Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como Francisco de Assis - "Foi ele quem motivou estas páginas."
Francisco - no decorrer do texto não colocarei "Papa" para que ele possa ficar mais íntimo entre nós, assim como ele foi simples e próximo de nós em suas palavras desta carta - na introdução afirma: "Embora a tenha escrito a partir de minhas convicções cristãs, que me animam e nutrem, procurei fazê-lo de tal maneira que a reflexão se abra ao diálogo com todas as pessoas de boa vontade." E termina a própria introdução desta maneira: "Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos dessa mesma terra que nos abriga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos."
A cada capítulo, tentarei pinçar a ideia principal do mesmo. Confesso que a encíclica me surpreendeu - fiquei sabendo dela no jornal e logo quis lê-la, apesar de não ser católica, mas cristã - Francisco sempre me pareceu um "papa" diferente dos outros - nem sabia se gostava dele ou não, entretanto seus textos foram muito claros, trouxeram alento ao meu coração e excluindo uma ou outra ideia que não concordei com ele, o restante da carta é de uma grande beleza. Em muitas páginas me emocionei - sempre tive muitas restrições ou até mesmo preconceitos em relação à Igreja como instituição estabelecida - porém Francisco tocou minha alma. Talvez outras pessoas tenham reflexões diferentes ao ler sua carta - achei-a apropriada para o momento que estamos passando.
No primeiro capítulo intitulado "As Sombras de um Mundo Fechado", ele enumera, em sua opinião, as tendências do mundo que dificultam o desenvolvimento da fraternidade universal.
- O fim da consciência histórica: "desconstrucionismo", como ele chamou - o mundo pretende ignorar a história, não levando em consideração a experiência dos idosos, dos antepassados - "...a liberdade humana pretende construir tudo a partir do zero."
- O descarte mundial: a insensibilidade frente a formas de desperdício, "a começar pelo alimentar, que figura entre os mais deploráveis."
"Não nos damos conta de que isolar os idosos e abandoná-los à responsabilidade de outros, sem um acompanhamento familiar adequado e amoroso, mutila e empobrece a própria família."
- Direitos humanos não suficientemente universais: "...os direitos humanos não são iguais para todos."
"Enquanto uma parte da humanidade vive na opulência, outra parte vê a própria dignidade não reconhecida, desprezada ou espezinhada e os seus direitos fundamentais ignorados ou violados."
"As palavras dizem uma coisa, mas as decisões e a realidade gritam outra."
- Conflito e medo: "...o que é verdade quando convém a uma pessoa poderosa deixa de ser quando já não a beneficia mais."
"...o nosso mundo avança em uma dicotomia sem sentido, pretendendo garantir a estabilidade e a paz com base em uma falsa segurança sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança."
- Globalização e progresso sem um rumo comum: "...juntamente com tais progressos históricos, grandes e apreciados, se verifica uma deterioração da ética, que condiciona a atividade internacional, e um enfraquecimento dos valores espirituais e do sentido de responsabilidade."
"...embora nos fascinem os inúmeros avanços, não vislumbramos um rumo verdadeiramente humano."
"...ilusão enganadora: considerar que podemos ser onipotentes e esquecer que nos encontramos todos no mesmo barco."
" O isolamento e o fechamento em nós mesmos ou nos próprios interesses nunca serão o caminho para voltar a dar esperança e realizar uma renovação, mas a proximidade, a cultura do encontro, sim. O isolamento, não; a proximidade, sim. Cultura do confronto, não; cultura do encontro, sim."
- As pandemias e outros flagelos da história: "...o golpe duro e inesperado desta pandemia fora de controle obrigou, por força, a pensar nos seres humanos, em todos, mais do que nos benefícios de alguns."
"A tribulação, a incerteza, o medo e a consciência dos próprios limites, que a pandemia despertou, fazem ressoar o apelo a repensar os nossos estilos de vida, as nossas relações, a organização das nossas sociedades e, sobretudo, o sentido da nossa existência."
- Sem dignidade humana nas fronteiras: Aqui ele fala sobre a dificuldade dos imigrantes que saem dos seus países por motivos alheios à sua própria vontade - guerra, perseguições e catástrofes naturais - em encontrar braços amigos que os auxiliem no país estrangeiro. "As pessoas que emigram têm que separar-se de seu próprio contexto de origem e muitas vezes vivem um desenraizamento cultural e religioso."
"Os migrantes não são considerados suficientemente dignos de participar da vida social como os outros, esquece-se de que eles têm a mesma dignidade intrínseca de toda e qualquer pessoa."
"Compreendo que alguns tenham dúvidas e sintam medo diante das pessoas imigrantes; compreendo isso como um aspecto do instinto natural de autodefesa."
Entretanto, "...o medo nos priva do desejo e da capacidade de encontrar o outro."
Os próximos itens deste capítulo são tão importantes, em minha opinião, que reservá-los-ei para um próximo texto, pois acredito que para hoje temos muitas reflexões a tirar desses poucos itens da carta encíclica de Francisco. É realmente um livro riquíssimo em ideias, opiniões, pontos básicos para uma vida voltada a compreendermos que todos somos irmãos pois pertencemos todos à mesma categoria no Planeta Terra - seres humanos.
Muitas pessoas podem achar suas palavras bonitas, mas talvez seus atos nem tanto - muitos podem questionar toda a riqueza do Vaticano, a qual não é distribuída aos países mais necessitados - muitos podem achar Francisco um grande demagogo, entretanto aqui me detive em suas ideias e em como elas são boas para a vida em sociedade. Francisco aponta entraves para a paz e a fraternidade universais que podem começar a ser eliminados por nós mesmos em nosso cotidiano. Como ele mesmo afirma: "Cuidar do mundo que nos rodeia e sustenta significa cuidar de nós mesmos."
Hoje não termino com minhas perguntas usuais para incitar vossas reflexões, pois acredito que existem muitas em vossas mentes.
Boa semana e Um Feliz Natal!
Sou uma admiradora deste Papa. A Igreja necessitava de mudanças, inovações que somente viriam com um homem destemido e ousado que vive o que prega. Sou apaixonada por biografias e a de Jorge Bergoglio é interessantíssima, comovente e emocionante. Hoje irei me alongar em meu comentário para destacar algumas passagens de sua vida. Resposta a uma amiga argentina de 87 anos (em 2013) quando ela o questionou porque ele dispensara o carro blindado no RJ durante a Jornada da Juventude: "Não vou me esconder. Tenho de estar perto das pessoas. Não sou um faraó." Sua biógrafa, Evangelina Himitiam, diz que todos os pertences de Jorge cabem numa mala: discos, livros, um pôster de seu time do coração - o San Lorenzo, de Buenos Aires. É desapegado, utiliza transporte público, não tinha carro oficial, nem motorista. Começou a trabalhar com 12 anos. Certa vez perguntaram a Bergoglio o que levaria em caso de incêndio: "a agenda e o breviário." Em sua agenda há artistas, militantes, políticos, sindicalistas e empresários, mas também catadores de papel e imigrantes ilegais. Sempre auxiliou os carentes e quando ordenado padre afirmou que não deixaria as ruas, viraria um rato de sacristia. Foi a primeira autoridade da Igreja Católica a aproximar líderes de outras religiões na Argentina. No primeiro lava-pés como Papa num ritual tradicionalmente masculino, escolheu lavar os pés de duas mulheres, uma delas muçulmana. Prefere ser chamado bispo de Roma, dispensando Sua Santidade. Dicas de Francisco: reconheça seus defeitos e cuide de seus amigos. Trocou o anel de ouro por um de prata; a cruz de ouro no peito por uma de aço; dispensou os sapatos vermelhos papais e usa os seus pretos velhos; dispensou o quarto oficial e preferiu um mais simples.
ResponderExcluirOlá Margarida. Você, assim como o Marcos, descreveu Francisco, o Papa. Seus feitos, esses que você mencionou, são dignos de nota, em vista da sociedade mundial estar preocupada com etiqueta, com posições, cargos, nomeações... Repetirei o que disse ao Marcos: minha reflexão é sobre a Carta Encíclica e não sobre a personalidade de Francisco e seus atos. No seu caso, como você já admira o autor, ficar mais fácil gostar da obra. No meu caso, eu não sabia se simpatizava com ele ou não. Uma coisa é certa: a carta de Francisco me trouxe boas reflexões para minha vida diária - e isso foi surpreendente e gratificante.
ExcluirEste Papa realmente diferente, escreve muito bem, e consegue transmitir uma mensagem que muitas vezes emociona. O que não me agrada nele é o seu viés político partidário de esquerda. Só um exemplo, fez um barulho tremendo na questão das queimadas na Amazônia, mas não ouvi uma palavra sequer sobre a aprovação do aborto em seu País Natal proposto pelo Presidente e aprovado pelos deputados, escreve muito bem sobre a questão dos imigrantes, mas nada sobre a Venezuela, ao contrário, recebe o Maduro no Vaticano como que nada tivesse acontecendo. Enfim, na minha opinião, acho um tanto incoerente, no que escreve e na sua atitude.
ResponderExcluirOlá Marcos. Grata pelo comentário. Já pensei como você há um tempo atrás. Cada ser humano tem suas idiossincrasias, ou melhor dizendo, seus momentos de incoerência. Também não simpatizava com ele por seu viés político partidário de esquerda, como você diz. E nem sei se agora simpatizo. Quanto a receber Maduro, acredito que ele o fez como homem público e influenciador e também por ser representante de uma religião - o comunismo é materialista em suas raízes marxistas e talvez para Maduro sua visita tenha sido só "para inglês ver", como dizemos. Embora para Francisco talvez tenha sido uma tentativa de influenciá-lo de outra maneira. Como disse, já estive onde você está e hoje tento não separar o mundo entre esquerda e direita (é difícil pois todos estão sempre nos lembrando disso...). Ambos lados têm seus erros e acertos, embora, na minha opinião, a esquerda erre mais, principalmente quando levamos em conta as consequências desses erros. O texto desta semana foi baseado na Carta Encíclica e não em Francisco. Com certeza é muito difícil separar um artista de sua obra, mas nesta caso fico com a obra - traz boas reflexões para nosso cotidiano. É como o ditado: "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço!" - embora acredite que um exemplo arrasta mais que uma palavra. Se o autor dessa carta me fosse desconhecido, eu talvez, o admirasse mesmo sem conhecê-lo. Quantos livros amamos e não conhecemos a vida pessoal de seus autores??! Os atos de Francisco podem ser incoerentes com sua escrita - a carta nos traz reflexões de comportamentos e hábitos que podemos adotar em nossa vida. Lembremo-nos de que todos mudamos, evoluímos, porém alguns estagnam por inúmeros motivos. Como esta Encíclica foi escrita depois desses eventos que você mencionou, é possível que Francisco tenha mudado suas ideias. O papel da Igreja é buscar a paz universal e acredito que Francisco, nesta carta, vem tentando levar essas ideias ao mundo com essa finalidade.
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