sexta-feira, 19 de março de 2021

FALE A VERDADE, OU, PELO MENOS, NÃO MINTA

 Caros amigos, 

A oitava regra do livro "Doze Regras para a Vida" de Jordan B. Peterson é "Fale a verdade, ou, pelo menos, não minta".

Nos dias atuais as palavras mentira e verdade têm sido muito usadas.  A ideia de falar a verdade é sempre mais confortável do que mentir.  Então, por que, algumas vezes, mentimos?

Em minha jornada pela vida, sempre fui uma pessoa que, regularmente, falava a verdade - lembro-me das vezes que mentia - eram poucas, mas me deixavam sempre com uma sensação ruim - às vezes, eu conseguia "consertar" a situação explicando para as partes envolvidas que havia mentido, mas nem sempre compreendia porque mentira.  Mesmo quando eram mentirinhas, as quais muitas pessoas chamam de "mentiras brancas", eu sempre me sentia mal.  Quando não havia como remediar o erro, ele ficava muito tempo pairando em minha mente - em outras vezes, ocorriam consequências funestas dessa atitude.

Jordan Peterson relata uma experiência pessoal quando ainda era estudante de psicologia.  Os estudantes de psicologia clínica podiam visitar os doentes mentais num hospital que ficava na cidade de Montreal, Canadá onde ele cursava a faculdade.  Hoje em dia esses tipos de hospitais não existem mais.  Essas pessoas são tratadas em casa ou em day-clinics à base de medicamentos.  Então, num desses dias, ele estava com alguns colegas de sua turma numa fila, esperando instruções do responsável pelo programa de treinamento da clínica, quando uma interna do hospital perguntou, numa maneira infantil, a uma colega de Peterson: "Por que vocês estão aqui parados nesta fila? O que vocês estão fazendo? Posso me juntar a vocês?" A colega de Peterson virou para ele e perguntou: "O que devo dizer à ela?" Nenhum deles queria dar uma resposta que poderia ser considerada uma rejeição ou uma reprimenda.  Todos eles eram estudantes de psicologia, não estavam preparados para esse tipo de situação, esse tipo de confronto com uma paciente esquizofrênica que fez uma simples e amigável pergunta sobre a possibilidade de interação social.

Naquele momento, Jordan Peterson se pergunta: "Quais era exatamente as regras em tal situação, longe dos limites de uma interação social normal? Quais eram exatamente as opções?"  Ele poderia ter respondido: "Só podemos ter 8 pessoas no grupo (eles estavam em oito)", ou "estamos saindo do hospital"; ele imagina que isso possa "salvar" à todos da continuidade da conversa.  Mas essas respostas não eram a verdade.

Assim, ele resolveu contar a verdade.  Contou à paciente que eles eram estudantes novos, treinando para serem psicólogos, e que ela, por esse motivo, não poderia se juntar à eles.

A resposta, obviamente, aumentou a distinção entre eles, fazendo com que a separação entre eles fosse evidente.  A resposta foi dura mas melhor do que uma mentira branca elaborada.  A pessoa pareceu desconcertada por um instante.  Depois, ela compreendeu e se foi.

(Esse história me lembrou quando eu era uma estudante de psicologia em São Paulo - minha classe foi a um hospital psiquiátrico (ainda existiam alguns, e eles foram fechando paulatinamente enquanto eu me formava na faculdade) e todos fomos de jaleco branco - nosso professor nos lembrou antes de entrarmos que a única diferença entre eles, os internos, e nós, os estudantes, era o jaleco branco.)

A verdade é sempre a melhor resposta, entretanto em muitas situações, muitos de nós nos escondemos (não sei do que ou de quem) e preferimos mentir ou falar meias verdades.

Jordan Peterson nos dá algumas ideias do porque mentimos.

Para ele, algumas vezes "usamos algumas palavras para manipular o mundo para que o mesmo se apresente mais agradável para nós.  Algumas vezes esse tipo de atitude é categorizado de "politicamente correto" - é a especialidade de marqueteiros inescrupulosos, vendedores, anunciantes, alguns artistas, utopistas com slogans prontos e psicopatas.  É a fala que as pessoas usam quando tentam influenciar e manipular os outros.  É o que estudantes universitários fazem quando escrevem o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) para agradar o professor, ao invés de articular e esclarecer suas próprias ideias."

Esse tipo de comportamento (as "mentirinhas") pode incluir como razões e/ou desculpas, ideias tais como "para impor minhas crenças ideológicas", "para provar que eu estou (ou estava) certo", "para parecer competente", "para evitar responsabilidade", "para ser promovido", "para assegurar que todos gostem de mim", "para minimizar conflitos imediatos", "para sempre parecer um santinho".

Com estes exemplos é fácil nos espelharmos em algum ou alguns deles e perceber com é difícil ser verdadeiro, autêntico atualmente e mais que isso, como é difícil não incorrer vez ou outra na atitude da "mentirinha" ou da tal "mentira branca".

"A mentira tem perna curta" é o famoso ditado popular.  Ele é bem real, pois cedo ou tarde (mais cedo que que imaginamos) a mentira aparece.

Jordan afirma "se você trai a você mesmo, se você diz coisas falsas, se você mente, você enfraquece seu caráter, sua personalidade.  Se você tem um caráter fraco, então seu adversário poderá eliminá-lo quando ele aparecer e o fará, inevitavelmente.  Você se esconderá, mas não haverá onde se esconder.  E então você se verá fazendo coisas terríveis." Quando ele fala em adversário ele quer dizer qualquer contratempo ou qualquer pessoa que pode vir a perceber que você mentiu e então você terá que mentir cada vez mais para corroborar sua história.

"Não há como culpar o inconsciente.  Quando um indivíduo mente, ele sabe que o fez.  Ele pode até fazer-se de cego para as consequências de sua mentira.  Ele pode até falhar em analisar ou articular seu ato passado, e em fazendo isso ele não compreenderá o que está acontecendo.  Ele pode até esquecer que mentiu e estar inconsciente deste fato. Mas ele estava ciente, no presente, durante o ato do erro e a omissão da responsabilidade.  Naquele momento, ele sabia o que fazia". E mesmo que ele tenha "esquecido" que tenha faltado com a verdade num dado momento passado, as consequências desse ato cobrarão um preço muito alto no futuro.

"A mentira corrói a estrutura do caráter." 

"Aqueles que mentem corriqueiramente, em palavras e atos, vivem no Inferno."

"É a mentira que faz as pessoas miseráveis além do que elas podem suportar.  É a mentira que preenche as almas humanas com ressentimento e ideias de vingança.  É a mentira que produz o terrível sofrimento da humanidade: a morte nos campos nazistas; as câmaras de tortura e genocídios de Stálin e do monstro maior, Mao.  Foi a mentira que matou centenas de milhões de pessoas no século vinte.  Foi a mentira que quase dizimou a própria civilização. É a mentira que ainda nos ameaça, muito profundamente, hoje."

"Não minta.  Especialmente para você mesmo."

Peterson relata sua própria experiência:  "Eu experimento uma sensação interna de estar afundando e de estar dividido, ao invés de solidez e força, quando sou incauto com meus atos e palavras.  Essa sensação parece estar centrada no meu plexo solar, onde parece haver um grande nó de tecido nervoso.  É através dessas sensações que percebo que estou mentindo.  Algumas vezes uso palavras para aparecer.  Outras vezes estou tentando disfarçar minha real ignorância do tópico em questão.  Algumas vezes estou usando palavras dos outros para evitar a responsabilidade de pensar por mim mesmo."

"A mentira corrompe o mundo.  Pior; esse é seu intento".

Hoje, como nunca, onde temos dificuldade de ver a verdade, podemos perceber como a mentira traz um rastro de desequilíbrio e este, por sua vez, traz insegurança e medo.

Para finalizar, Peterson pede: "Veja a verdade.  Diga a verdade."

"Sua verdade só pode ser vista por você baseada nas circunstâncias únicas de sua vida."

Ele termina: "Se sua vida não é o que poderia ser, tente dizer a verdade.  Se você está preso/atado a uma ideologia, ou afundado no niilismo (corrente filosófica que acredita no vazio), tente dizer a verdade.  Se você se sente fraco e rejeitado, desesperado, confuso, tente dizer a verdade.  No Paraíso todos falam a verdade.  Essa é a característica que faz dele o Paraíso."

"Fale a verdade, ou, pelo menos, não minta."

Boa reflexão a todos.  

Até.


 


  








4 comentários:

  1. Excelente assunto, Sônia. Mentir é um ato imaturo, irresponsável, covarde. Este texto me levou a outra reflexão: onde e como a mentira se mescla, se confunde com a omissão, a zona de conforto, a benevolência, a indulgência. Preservar um doente terminal de que ele está se despedindo da vida. "Viajei" neste assunto. Gratidão!🙏

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    1. Grata pelo comentário Margarida. A mentira sempre traz desconforto para nós, mesmo aquela que julgamos "necessária".

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  2. Você tocou num assunto importante, Margarida. Sonegar sim doente terminal a expectativa de vida e engana-lo e priva-lo da chance de tomar decisões importantes para o tempo que lhe resta. A "justificativa" e de que "ele não está preparado para a verdade". Mas o fato e que isto e apenas demonstração de poder por parte dos medicos

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    1. Pois é. O doente terminal perde a oportunidade de realizar seus últimos atos, os quais, poderiam trazer-lhe conforto.

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