quarta-feira, 21 de abril de 2021

MEDO DO NOVO

Amigos leitores,

Hoje, como início de nossas fábulas, serão descritas três histórias que tratam do mesmo tema.  Será um texto longo, mas de grande reflexão, principalmente devido à situação atual.

História:

Numa caçada, o caçador, de tocaia, percebendo um coelho mais afastado, atirou nele e o matou.  Por causa do estampido, todos os outros coelhos puseram-se a correr e a buscar segurança em cavidades subterrâneas. 

Entretanto, em pouco tempo, eles voltaram a superfície e continuaram com suas vidas corriqueiras, alheios e esquecidos do perigo que há pouco os afugentara.

Outra história:

Quando cães passam por vizinhanças diferentes, lugares estranhos aos que lhe são habituais, provocam a ira dos cães locais; estes últimos começam a latir e até tentar dar dentadas nos primeiros.  Eles pressentem uma invasão no seu território e uma ameaça aos seus domínios.

Outra história

Lenda Egípcia do Peixinho Vermelho

Comunidade de peixes vorazes e gordalhudos, elegeram um rei e viviam despreocupados, entre a gula e a preguiça.  Comiam tudo sem preocupação pelos que não conseguiam acesso à comida e usavam os espaços para descanso.

Um peixinho vermelho menosprezado, mal alimentado, começou a estudar e a observar o lago.  Conhecia todos os buracos e todos os ladrilhos e aprendeu onde a lama se acumularia por ocasião dos aguaceiros. Encontrou a grade do escoadouro.

"Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?". Optou pela mudança.

Mesmo magro, perdeu escamas ao passar pela grade estreitíssima.

Conheceu novas paisagens, flores e sol, cheio de esperança.  Fascinou-se pelo oceano e pelas novidades.

Imprevidente, foi tragado por uma baleia, mas orou e voltou às correntes marinhas.

Passou a tomar cuidado com as coisas novas que conhecia e aprendeu a evitar os perigos e tentações.

Encontrou outros peixinhos delgados e estudiosos tanto quanto ele no Palácio de Coral.

Lembrou-se dos peixes do lago e sentiu compaixão, quis consagrar-se à salvação e ao progresso deles.

Com a colaboração de irmãos benfeitores do Palácio de Coral, empreendeu a viagem de volta, imaginando que causaria surpresa falando sobre as novidades e possibilidades além do tanque.

Os peixes continuavam ociosos e pesados, disputando larvas e minhocas.  Gritou anunciando a sua volta, mas ninguém havia percebido a sua saída.

Falou com o rei do lago, mas foi ridicularizado e acusado de mentiroso.  Expôs a sua experiência, mas gargalhadas estridentes coroaram-lhe a preleção.

Diante da pequena grade de escoamento: "Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo! Vai-te daqui! Não nos perturbes o bem-estar... Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém possui vida igual à nossa!..."

O peixinho fez a viagem de retorno e instalou-se no Palácio de Coral.  Depois de algum tempo, aconteceu uma seca devastadora e todos os peixes pachorrentos pereceram atolados na lama.

Moral da História:

Nas três histórias comparemos o homem e a sua dificuldade com as ideias novas.

Na primeira história, imaginemos uma tempestade.  Na sua eminência, os homens procuram proteção, colocando sua vida em segurança.  Depois, passada a tempestade, eles acabam se expondo ao perigo novamente.

Essa história demonstra que depois do primeiro impacto (estampido do tiro; tempestade) ter passado, as coisas se acomodam.  O novo pode surgir sem desestabilizar o que já existe.  Ele pode coexistir com o já conhecido.  Em adição, ele também pode trazer outras ideias ou conceitos, expandindo o crescimento de todos.

Na segunda história, os homens são parecidos com os cães locais que atacam os novos por medo de serem por eles substituídos.  Para o homem, em sua vida trivial, quanto menos inovação melhor.

Mas, por que o homem receia o novo, afinal de contas?

O novo representa o desconhecido.  Todos temos facilidade com o conhecido - ele requer menos esforço, pouca concentração, pouco trabalho, menos dispêndio de tempo - é a "lei do menor esforço".  O desconhecido pelo contrário, requer muita concentração para entendê-lo, mais esforço e trabalho (tanto físico quanto mental), exige mais tempo.  Mas, ele traz uma riqueza incomparável - o seu crescimento individual.  Tomemos como exemplo uma pessoa que deseja tocar piano.  O seu aprendizado básico requer, no mínimo oito anos com duas a quatro horas diárias de treino.  Entretanto, a cada aula, a cada ensaio, ela toca melhor o piano.  Com concentração, esforço, trabalho, dedicação e tempo, ela apreendeu mais uma habilidade e cresceu como ser humano.

Hammed também nos traz a informação de que mudar de ideia também não é tarefa das mais fáceis para qualquer um (excetuando-se aqueles que tem pouca firmeza, inseguros, que mudam de ideia a todo momento).  Parece que um dos motivos é o medo de sermos convencidos a mudar de ideia pelos argumentos e razões dos outros.  Isso pode denotar orgulho e vaidade, pois acham que podem perder o prestígio e a reputação se alterarem suas opiniões.  É óbvio que é mais cômodo cada um manter suas ideias, mantendo a mente fechada para novos aprendizados.  Para muitos é preferível permanecer com um nível limitado de saber, do que crescer. Crescer, aprender dá trabalho, exige força de vontade, mente aberta, e porque não dizer, traz sim, uma dose de ansiedade.  Mas é uma ansiedade leve que impulsiona o indivíduo para frente em busca de novos caminhos para uma mesma direção.

Quando se passa a refletir sobre o porquê do medo do novo, é difícil ter um ganho secundário, como se diz na psicologia.  O que ganhamos quando nos recusamos a olhar para o lado inusitado das coisas é uma vida entediante e infeliz.  Lembremo-nos de que toda vez que nós nos recusarmos a encarar o novo, o desconhecido, e percebermos que os dias passam e o progresso evidenciar tudo o que não quisemos enfrentar, perceberemos que este medo era o orgulho e a ignorância disfarçados.  Hammed nos aponta que o vaidoso é o que mais rejeita as coisas inusitadas.

Entretanto, existem circunstâncias nas quais por interesses pessoais (fama, prestígio, dinheiro, ascensão social) amaldiçoamos o novo, ou por comodismo, deixamos para trás a chance de evoluir.

Muitas vezes, o novo entra em nossa vida na forma de um conflito, de um problema a ser resolvido.  E aí? Desistimos de solucionar o problema porque ele nos traz novas informações? Fingimos não haver conflito, só para não termos aborrecimentos?

Mudanças são necessárias.  Mudar traz bem estar, exige uma nova maneira de olhar a vida, amplia a visão, estimula a reflexão e por conseguinte, ocasiona o amadurecimento.  Quando nos acostumamos a realizar as coisas sempre da mesma maneira, perdemos oportunidade de aprender maneiras melhores de chegar a um mesmo objetivo.

Na história dos coelhos, o estampido do tiro que os assusta é o novo que provoca reações que exigem alteração da rotina, do contrário pode ocorrer novamente a mesma situação (outro tiro e outro coelho morto).

Na história dos cães, o novo está representado pelo bando de cães que passam em território alheio, provocando a ira dos cães locais, que reagem  à invasão do falso inimigo, latindo e exasperando-se.  (Necessariamente, eles não são cães inimigos).

Na história do peixinho vermelho, o novo está obviamente representado por tudo o que ele descobriu em sua viagem pelo oceano.  O desenho "Procurando Nemo" foi baseado nessa lenda egípcia.

Frente ao novo, a ideia é não evitá-lo e nem reagir contra ele.  A ideia é interagir com ele.

Aceitar as mudanças é sinal de inteligência.  O homem inteligente é aquele que se adapta a novas situações e com elas se integra.  E, além de tudo, diante do novo, nem sempre precisamos mudar o caminho, mas mudar somente o modo de caminhar.

E aí pessoal?  Vocês conseguem realizar mudanças facilmente? As histórias ajudaram a ter ideias para futuras mudanças em vossas vidas? 

Boa semana!


















 

3 comentários:

  1. Bom dia após um longo período de experiências o novo ele e um desafio pois o sentimento do apego da zona de conforto e um limitador e lembrei-me da passagem que Jesus fala aos pescadores venham até mim ir e acreditar o quanto nos custa acreditar? Estou exercitando
    Abraços Reinaldo

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    Respostas
    1. Grata Reinaldo. É dessa maneira que abraçamos o novo: tentando e exercitando.

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  2. Fico ansiosa com as mudanças. Luto para sair da zona de conforto e da omissão. Preciso ousar.

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