quinta-feira, 15 de abril de 2021

ESOPO/LA FONTAINE/LA ROCHEFOCAULD/HAMMED: FÁBULAS

Queridos Leitores,

 Hoje começarei uma nova série de textos, os quais serão intercalados com outros de assunto diversificado e os textos sobre as regras de Jordan Peterson.

Fábulas são histórias fictícias que simulam verdades, com fundo moral ou didático, envolvem animais que falam ou divindades, com um toque de humorismo.  A palavra fábula significa relato.

Essa série de textos terá como base o livro de Hammed "La Fontaine e o Comportamento Humano".

Esopo é conhecido como o mais antigo fabulista da história - foi um escravo da Grécia do século VI a.C. "A presença dos animais em seus contos deve-se principalmente ao convívio ativo entre os homens e o mundo animal naqueles tempos.  Ele teve alguns continuadores, como o romano Fedro (séc. I a.C.), que enriqueceu suas fábulas estilisticamente, e o francês Jean de La Fontaine (séc. XVII), entre outros.

La Fontaine, inspirado por Esopo, popularizou as histórias, escritas em 12 livros publicados entre 1668 e 1694 na França - muitas delas são conhecidas até os dias de hoje.

Hammed traz uma boa explicação no início do livro, antes mesmo da introdução, para compreendermos como abstrair e refletir sobre cada fábula: "Ao comentarmos estas fábulas, temos a aspiração de levar a todos uma reflexão dos porquês da diversidade comportamental dos indivíduos, para que possamos nos entender melhor e, ao mesmo tempo, entender os outros em suas peculiares maneiras de agir e reagir ante as diferentes circunstâncias existenciais.

Acreditamos que as fábulas podem ter a mesma função do espelho.  A variedade de imagens e ideias descritas leva o leitor a identificar-se emocionalmente com elas e projetar suas necessidades evolutivas nos contos, moldando seus significados de modo que reflitam conteúdos psicológicos que precisam de ressignificação."

La Fontaine foi amigo de outro famoso escritor, La Rochefocauld, cuja obra fala também da moral e da ética humanas.  Em seu famoso livro "Máximas e Reflexões", há um capítulo intitulado "Da Relação dos Homens com os Animais", cujas ideias são similares às ideias de La Fontaine.  Aqui retrataremos alguns trechos:

"Há tantas espécies de homens quantas de animais, e são os homens para os outros homens o que as diferentes espécies de animais são entre si, e umas para as outras.  Quantos homens não vivem do sangue e da vida dos inocentes! Uns, como tigres, são sempre bravios e cruéis; outros, como leões, guardam certa aparência de generosidade; outros, como ursos, são ávidos e grosseiros; outros, como lobos, são raptores e impiedosos; outros, como raposas que vivem de sua indústria, têm por ofícios lograr.

Quantos homens não têm parte com os cães! Destroem a própria espécie, caçam para o prazer de quem lhes dá de comer; às vezes seguem os donos, outras lhe guardam a casa.  Há lebréus de guerra (cão amestrado na caça das lebres) que devem a vida ao próprio valor; que têm nobreza na coragem; há dogues (cão de pequeno porte, focinho chato e índole bravia) encarniçados (ferozes, cruéis) que só o furor têm por qualidade; há cães menos ou mais inúteis que ladram sempre e só às vezes mordem, há mesmo os cães de guarda que nem comem o que é do dono nem deixam os outros comerem.  Há símios e macacas que agradam pelas maneiras, que têm espírito e fazem sempre o mal; há pavões que só beleza têm, cujo canto desagrada e que destroem o lugar que habitam.

Há pássaros que só se recomendam pela plumagem e pelas cores.  Quantos papagaios não falam sem cessar e nunca ouvem o que dizem; quantas pegas e gralhas não se deixam amansar para melhor furtar; quantas aves de rapina (furto, roubo) não vivem só da rapina; quantas espécies de animais pacíficos e tranquilos não servem só de comida aos outros animais!

Há gatos, sempre à espreita, maliciosos e infiéis, que têm a pata de veludo; há víboras de língua venenosa cujo restante tem emprego, há aranhas, moscas, pulgas e percevejos sempre incômodos e insuportáveis; há sapos que só dão pavor e veneno; há corujas que temem a luz.  Quantos animais não vivem debaixo da terra somente para se preservar! Quantos cavalos não empregamos em tantas coisas e não abandonamos quando já não servem; quantos bois não trabalham a vida toda para enriquecer aquele lhe impõe o jugo; quantas cigarras que passam a vida a cantar; lebres que de tudo têm medo; coelhos que se assustam e sossegam num prisco (salto, pulo para o lado); porcos que vivem na devassidão e no lixo; canários domesticados que logram seus semelhantes e os atraem para a rede; corvos e abutres que só vivem de podridão e corpos mortos! Quantas aves de arribação (migratórias) não vão de um mundo para o outro e se expõem a perigos em busca da vida! Quantas andorinhas sempre à procura de bom tempo; besouros irrefletidos e sem rumo; borboletas que anseiam pelo fogo que as queima; abelhas que respeitam a rainha e com regras e indústria se mantêm! Quantos zangões errantes e preguiçosos que procuram se estabelecer às expensas das abelhas! Quantas formigas cuja previdência e economia lhes alivia as necessidades! Quantos crocodilos que fingem derramar lágrimas para devorar quem com elas se comove! E quantos animais subjugados porque ignoram sua força!

Todas essas qualidades têm o homem, e pratica com os outros homens tudo o que praticam os animais de que falamos."

La Fontaine possui uma frase muito conhecida: "Sirvo-me de animais para instruir os homens."

Hammed faz uma releitura das fábulas contadas por La Fontaine lembrando que ações e condutas exteriores são geradas primeiramente na vida íntima, onde os pensamentos criam a saúde ou a enfermidade.  Essas fábulas podem levar-nos a profundas reflexões.

As fábulas, na visão de Hammed, agem como um auto trabalho terapêutico, porque quando um indivíduo se associa a um personagem fictício, ele tem mais facilidade de entrar em contato com suas próprias memórias e/ou fantasias, podendo ressignificar seus conflitos e reinterpretar seus desejos ignorados.

O texto de hoje foi apenas uma introdução sobre o assunto.  Posteriormente, num outro texto, trarei a vocês a primeira fábula.

Você já se lembraram de alguma fábula que conheceram em vossa caminhada pela vida? Compartilhem se lembrarem.

Boa semana! 




4 comentários:

  1. Sonia, eu gosto muito de ler fábulas.
    Gosto muito da Cigarra e formiga.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grata Viviane. Essa é bem conhecida mesmo. Voce conhecerá outras nesses textos.

      Excluir
  2. As fábulas lembram as parábolas. A contação de histórias. E quem não gosta de histórias.😉 Aprendizagem pela comparação,
    trazem a pureza dos animais. Os fabulistas foram felizes na escolha dos animais, nossos irmãos, como protagonistas da leitura do comportamento humano. Talvez, pelo fato, deles despertarem em nós, a sensibilidade e determinado animal trará à tona nossos sentimentos ocultos e desconhecidos. Ela, a fábula, é um espelho sim, mas infelizmente, às vezes, demoro para identificar minha imagem refletida nele. Preciso ajustar o "zoom".😔 A minha predileta é a Raposa e as Uvas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A raposa e as uvas tbm será contemplada nesse ciclo de textos. Mas teremos outras tbm não tão conhecidas. Aguarde.

      Excluir

VISITA A SÃO PAULO

Caros leitores, Este ano, em nossa ida para Sampa para visitar amigos que lá deixamos, visitamos 15 pessoas.  O ano passado ficamos 6 dias e...