quinta-feira, 24 de junho de 2021

A ANDORINHA E OS OUTROS PÁSSAROS

 Caros amigos leitores,

Primeiramente, vamos à história/fábula:

"Uma andorinha bem viajada muito aprendeu por onde andou: quem muito viu tem muita lembrança guardada.  Acabou se diferenciando dos outros pássaros: tinha uma sabedoria que os outros não tinham e desenvolvera a capacidade de prever os perigos, por menores que fossem.

Um dia, ao ver o camponês semear o cânhamo, ela sentiu o perigo que ameaçava os pássaros.  Reuniu todos e os alertou sobre a ameaça que pairava sobre eles;  as máquinas, as armadilhas, os homens querendo matá-los ou aprisioná-los em gaiolas.

Os pássaros zombaram dela dizendo que era nos campos que encontravam os alimentos.

Quando as sementes brotaram, novamente a andorinha experiente aconselhou-os:

- Arranquem broto por broto do que o maldito grão produziu, ou pagarão caro pela sua ignorância.

Os pássaros não acreditaram nas palavras da andorinha e chamaram-na, zombeteiramente, de profetisa do azar, de língua sem trave.  Mas a sábia andorinha insistia:

- Colocarão armadilhas e vocês serão presos, pois, diferentemente dos patos e das outras espécies que migram, vocês não tem condições de procurar outros mundos.  Não fiquem confusos, às tontas: recolham-se aos ninhos, ou mudem de clima.  Façam como as cegonhas: no final das contas, fujam pelo alto, por cima.  Não tentem caminhos incertos: escondam-se nalguma brecha da parede.

Os pequenos pássaros ouviam sem nada entender, assim como os troianos ouvindo a sibila prever o triste final que os aguardava.

Dito e feito: um número enorme de aves o homem encarcerou.

Só se escuta o que se acha mais conforme, e só se crê no mal quando ele já chegou."

Observação: Quando La Fontaine menciona "os troianos e a sibila", ele se refere ao evento que iniciou a invasão de Tróia pelos gregos.  Cassandra, a filha do então rei de Tróia, Príamo, que tinha o dom da profecia, alertou sobre o presente que os gregos ofereceram a Tróia - o famoso Cavalo de Tróia; ela que criou a expressão "presente de grego", mas eles não lhe deram crédito; tudo o que Cassandra dizia era verídico, mas ninguém acreditava em suas palavras.

Sibila: 1. Entre os antigos, profetiza. 2. Termo familiar: bruxa, feiticeira.

Essa fábula, entre outras coisas, fala da atenção.  No dicionário Aurélio, existem algumas definições importantes de atenção. São elas: 1. Aplicação cuidadosa da mente a alguma coisa: cuidado, concentração, reflexão, aplicação; 2. Reparo; 3. Ato(s) ou palavra(s) que demonstra(m) consideração, amabilidade, urbanidade, cortesia ou devoção a ou para com alguém; 4. Serve para advertir, recomendar cuidado, impor silêncio, etc. 5. No corpo militar é a voz de advertência que põe o soldado de sobreaviso para a ordem que virá depois.

Lembremo-nos de que estamos em constante processo de crescimento e um dos instrumentos que temos ao nosso dispor para usar nessa empreitada é a atenção. Sem atenção é difícil fazer escolhas e prever suas consequências.  Entretanto, há um mecanismo psicológico muito usado, como método de defesa do ego, quando não podemos suportar ou admitir os fatores e resultados de um fato ou acontecimento.  Isso quer dizer que tudo o que possa desorganizar nossa autoestima ou até ser inadequado ao nosso modo de pensar ou sentir é desviado de nossa atenção.  Esse mecanismo de defesa do Ego é chamado de desatenção seletiva - só vemos o que queremos ver.

A atenção possui algumas funções.  São elas:

1. Atenção seletiva - é quando o indivíduo escolhe prestar atenção a alguns estímulos e ignorar outros;

2. Vigilância - é quando o indivíduo se mantém alerta e concentrado e espera detectar o surgimento de algo ou algum estímulo específico:

3. Sondagem - é quando o indivíduo metódica e ativamente busca descobrir algo através de exame e observação minuciosos.

Todas as vezes que queremos compreender algo a fundo ou analisar o significado de alguma coisa caminhamos para um processo de atenção seletiva e/ou desatenção seletiva, ou seja, ainda algumas percepções escapam de nossa "visão" porque não é possível captar todas as nuances de um objeto ou situação porque "nem tudo o que se olha e o que se quer ou se pode ver".

Por incrível que pareça só vemos, percebemos aquilo que estamos habituados.

Muitos historiadores contemporâneos relatam que à época do descobrimento da América, quando as caravelas de Colombo aportaram na nova terra, os indígenas da região, a princípio não teriam visto as naus porque não estavam acostumados àquela visão, porque nunca haviam visto tais embarcações e só depois de um tempo, pouco a pouco foram percebendo os traços daqueles objetos imensos para depois poder vê-los por completo.  Isso prova que todos precisamos estar alertas para "ver até o que não queremos ver".

A atenção pode ser consciente e inconsciente - é o fenômeno através do qual processamos certa quantia de informações.  Inconscientemente, a atenção está ligada diretamente com a intuição e o discernimento.  Mas, muitos homens, assim como os pássaros da fábula, desprezam essas suas capacidades.  São pessoas dispersivas onde lhes falta concentração e atenção para si mesmos - são imaturos, comportam-se como crianças e pior de tudo, tratam com desprezo e descaso aquelas outras pessoas que conseguem ir mais além e realmente, ver.

Atualmente, esse tipo de pessoa parece existir em maior número.  são pessoas consumistas onde falta a reflexão, atentam apenas para algo imediatista, procurando aquilo que oferece vantagem rápida, vivendo a seu bel-prazer, sem considerar as consequências futuras.  A melhor frase da fábula para este tipo de pessoa é "só se escuta o que se acha mais conforme, e só crê no mal quando ele já chegou."

Talvez seja por este motivo que usamos em grande escala, no dia-a-dia, expressões combinadas com a palavra atenção.  São elas:

- "chamar a atenção": muito usada nas escolas, pois as crianças são facilmente distraídas por outras coisas.  Na realidade, a escola, algumas matérias, alguns professores são maçantes e entediantes...

- "dar ou prestar atenção": além das escolas, expressões usadas também no cotidiano, no tráfego, em algumas fábricas, quando se ministra uma palestra ou aula e queremos que a pessoa "preste atenção" em determinado assunto ou detalhe específico importante.

- "em atenção à": em cartas, memorandos, avisos onde se convoca a atenção consciente para determinada pessoa ou grupo de pessoas.

- "atenção, olhe!": este é um aviso onde nosso consciente é acordado, alertando para algo muito importante, caso onde, se atenção não for dada pode ocorrer um acidente ou um infortúnio; em fábricas, na rua, perto de construções, em cruzamentos de linhas de trem, no ônibus, no metrô, etc.

- "atenção flutuante": expressão usada quando nos referimos a pessoas que não conseguem ter total concentração num determinado assunto, a atenção fica desorganizada e elas perdem parte do que está sendo explicado ou apresentado.

Essas expressões também denotam que uma ou duas palavras são mais significativas para o que se deseja alcançar ou mostrar do que frases maiores.  Por exemplo, se existe um cartaz afixado com os dizeres "atenção, olhe!" perto de um cruzamento de ruas é mais significativo do que as palavras "atenção, olhe para os dois lados da rua porque podem vir outros carros e você terá que aguardá-los passarem para então poder cruzar a rua."  E se houver apenas a palavra atenção é mais eficaz, porque a pessoa colocará todo o seu consciente em estado de alerta e concentrar-se-á naquilo que deverá realizar.

Como bem diz Hammed "a atenção é a bússola que determina a direção que nossos atos e atitudes vão tomar".  Como crescer e mudar comportamentos sem prestar atenção aos nossos atos e atitudes do dia-a-dia? Quando damos atenção àquilo que nos cerca estruturamos seletivamente nossa maneira de pensar, de julgar, de analisar, de imaginar e de formar opiniões e pontos de vista perante a vida.

A atenção possui características próprias:

a) Monitorar interações com o ambiente;

b) Interligar memórias com a sensação do momento, o seja, interligar o passado com o presente;

c) Planejar e controlar futuras ações baseado nas informações armazenadas pelas duas características anteriores.

Para viver uma vida harmônica é de suma importância escolher com cuidado para onde direcionar a atenção.  A existência é constituída por diminutas atenções do dia-a-dia e, consequentemente, a soma delas é que determina as nossas escolhas.  Para compreender como isso é importante, imaginemos estar caminhando por uma rua onde de um lado há árvores frondosas, flores, pássaros, casas bonitas e bem cuidadas, bem pintadas e algumas pessoas alegres, calmas e sorridentes e, do outro lado da rua há casas mal cuidadas, sujas, cães latindo ruidosamente, bares, música em alto tom e pessoas brigando em altos brados.  O resto do seu dia-a-dia dependerá de sua atenção voltada para o lado da rua que você escolher.  Bem, não é necessário explicar mais nada; o resto é fácil de concluir.

Um dos objetivos do texto de hoje é orientar sobre como fazer bom uso da atenção.  Ela ocorre diariamente, inconscientemente, queiramos ou não. É natural e não há como evitar, mas dá para treiná-la, educá-la a nosso favor.

Assim é que através da análise das nossas escolhas do presente, deduzimos as implicações e comprometimentos que podem ocorrer no futuro.  Essas escolhas sempre darão a nós um grande leque de opções pois podemos:

a) Prestar atenção aos obstáculos e vê-los como oportunidades a serem vencidas;

b) Prestar atenção aos conflitos e distingui-los como uma superação de dificuldades emocionais;

c) Prestar atenção aos sofrimentos e percebê-los como situações onde distinguimos ou determinamos limites de nossos excessos e carências.

O que diferencia homens e mulheres tranquilas e em paz daquelas criaturas infelizes, exaustas e desequilibradas é a seleção consciente das atividades, situações ou pessoas aos quais a atenção é dedicada.  Não podemos negar que diariamente somos compelidos em direção a uma grande quantidade de solicitações que geram intenso comprometimento pessoal.  Afinal de contas, colhemos o que plantamos.  Outrossim, se somos colocados frente a frente às situações aquém de nossa vontade, isso não significa que não temos o poder de dosar a intensidade de nossa atenção nesta ou naquela situação.  Se a situação for importante e trouxer bons resultados, a intensidade da atenção, da concentração será maior que uma situação que só trará desequilíbrio, aborrecimento, sem grande ganho para nós.

Outro ponto importante a considerar é que atualmente abraçamos muitas coisas ao mesmo tempo, e por este motivo a atenção é superficial e flutuante.  A ideia é dar atenção total a um número razoavelmente reduzido de atividades e pessoas - nesse sentido a concentração seria mais intensa e profunda.  A atenção total ao presente é o que enriquece nossa vida e nos faz crescer.  "Não podemos ser tudo para todos em todos os lugares... mas o importante é termos a consciência de ser alguém em nosso próprio lugar..."

Hammed lembrou nessa fábula das palavras do Cristo: "Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração" (Mateus, 6:2), onde poderíamos substituir a palavra tesouro por atenção: "Porque onde estiver tua atenção, aí estará também o teu coração."

As escolhas que realizamos na vida são, sem sombra de dúvida, parte de nosso cotidiano.  Portanto, fazendo uso de nosso livre-arbítrio podemos escolher como viveremos nossos dias.  Dependendo de nossas escolhas podemos eliminar ou concretizar um sonho; optar por coisas adequadas que a vida nos oferece ou nos fixar nas dificuldades que acreditamos ter pela frente; olhar para o copo preenchido pela metade de água à nossa frente e considerá-lo quase cheio ou quase vazio; eleger como trataremos as pessoas e como deixaremos que elas nos tratem.  Através da seleção consciente das prioridades de nossa vida podemos escolher e "desescolher" a todo momento.

Para haver uma clara e sensata análise das situações e pessoas que nos cercam é imprescindível que possamos manter nossa mente aberta. O discernimento e o bom senso andam de mãos juntas e são considerados a luz que vem da alma. Quem faz uso deles como guia interno não se perde nas estradas da vida.  Aqueles que quiserem aprender a utilizar-se deles não poderão usar de impulsividade e precipitação na conclusão de ideias como absolutas - pelo contrário, deverão observar essas ideias de modo relativo, por todos os ângulos possíveis antes de chegar a qualquer conclusão ou definição.  Para o discernimento cumprir fielmente o seu papel, ele deverá vir acompanhado de paciência, tolerância, compreensão, raciocínio e amor.

Para finalizar acrescento que quanto mais a mente se abre, mais o indivíduo estará atento para a verdade de sua missão nesse planeta.

Boas reflexões!

Até a próxima semana!

































2 comentários:

  1. Atenção flutuante chamou minha atenção.🤔

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Hoje em dia com as pessoas fazendo várias coisas ao mesmo tempo, usa-se mais esse tipo de atenção.

      Excluir

VISITA A SÃO PAULO

Caros leitores, Este ano, em nossa ida para Sampa para visitar amigos que lá deixamos, visitamos 15 pessoas.  O ano passado ficamos 6 dias e...