quarta-feira, 27 de outubro de 2021

CHARLES DARWIN - UM HOMEM À FRENTE DO SEU TEMPO

Caros amigos leitores,

Na última semana, acabei de ler a biografia de Charles Darwin: "Darwin - A vida de um evolucionista atormentado" escrito por Adrian Desmond & James Moore - um catatau de 742 páginas.  Eu gosto muito de ler biografias - já li a de Gandhi e a de Leonardo Da Vinci das que eu me recordo agora; também leio autobiografias, entretanto prefiro biografias por conterem dados pesquisados onde não aparecem os sentimentos e emoções narradas pelo próprio autor.  Embora os dois tipos contenham esses dados - sentimentos e emoções - na biografia podemos perceber de maneira mais imparcial como era a pessoa biografada, na minha opinião.  Tentarei trazer a vocês algumas ideias que achei interessantes na leitura deste livro, principalmente no que concerne à época (século XIX) e de como muita coisa não mudou até hoje e de muitas coincidências na leitura do livro com os dias atuais.

Bem, Charles Robert Darwin nasceu em 12 de fevereiro de 1809 e morreu em 19 de abril de 1882, portanto com 73 anos de idade, na Inglaterra.  Desde pequeno se interessou por pequenos animais, insetos e minhocas e colecionava conchas, selos, ovos de pássaros e minerais.  Sempre foi uma criança reservada e quando adulto detestava reuniões e lugares cheios de pessoas.  Na escola, os companheiros de Darwin o achavam "velho para a sua idade", tanto em "maneiras como em espírito."

Um dos pontos que me chamou a atenção no decorrer da leitura foram os desentendimentos entre política, religião e ciência.  As pesquisas de Darwin ao longo de sua vida foram criticadas duramente por essas três instituições.  Seu trabalho foi considerado herege pela igreja anglicana.  A igreja da Inglaterra e os cientistas da época se engalfinhavam para tentar explicar a origem do homem e o trabalho de Darwin foi considerado por muitos como não científico.

Com a insistência da família ele começou a cursar medicina na Escócia, mas nunca se formou.  Depois ele achou que seria melhor tornar-se sacerdote e então foi estudar na Faculdade de Cristo em Cambridge, embora não acreditasse muito em religião.  Mas essa função/profissão também não deu certo.  Então, dos 22 aos 27 anos Charles Darwin resolveu participar de uma viagem exploratória de navio pelas Américas (de 1831 a 1836).  Foi nesta viagem que ele começou a escrever sobre os animais e as plantas que depois culminaria em sua obra magistral "A Origem das Espécies" (a teoria de Darwin foi publicada vinte anos após o seu início).   Imaginem viajar de navio nessa época.  Ele pesquisou espécimes nas ilhas de Cabo Verde, nas Galápagos, na Patagônia.  Ele passou até pelo Brasil, em Salvador na Bahia, no Rio de Janeiro, em Pernambuco e no sul do país.

Darwin era contra a escravidão e "um dia ele observou que a escravidão não era tão intolerável, pois os brasileiros no geral tratavam bem seus criados negros". Mas apesar dessa observação, "ele sugeriu que a única solução era a emancipação." Entretanto, em outro momento, Darwin publicou no Journal em 1845 sobre a escravidão no Brasil: "Rogo a Deus que não mais visitarei um país que mantém escravos.  Até hoje, quando ouço um grito distante, ele me lembra com dolorosa vivacidade meus sentimentos, quando passando em frente a uma casa próxima de Pernambuco (Brasil), eu ouvi os mais penosos gemidos, e não podia suspeitar que pobres escravos estavam sendo torturados... Perto do Rio de Janeiro eu morava do lado oposto à casa de uma velha senhora, que usava pregos para perfurar os dedos de suas escravas. Eu fiquei em uma casa em que um jovem caseiro mulato, diária e de hora em hora, era vituperado, chicoteado, e perseguido o suficiente para arrasar com o espírito de qualquer animal.  Eu vi um garotinho, de seis ou sete anos, ser castigado três vezes com um chicote para cavalo (antes que eu pudesse interferir) batendo em sua cabeça, por ter me servido um copo de água que não estava muito limpo."  Em outro momento, muitos anos depois desta viagem, ele afirmou: "Não havia justificativa científica para a escravidão..."  Ele dizia "quão  frágeis são os argumentos daqueles que sustentam que a escravidão é um mal necessário!"

O navio também ancorou no Rio da Prata, em Montevidéu e depois em Buenos Aires que foi dito que "vivia em estado de revolução permanente". Achei esse detalhe muito interessante, pois a Argentina realmente até os dias de hoje está assim...

Enquanto viajava no Beagle (nome do navio) Darwin foi crescendo, pesquisando, estudando, observando e meditando sobre o homem, a sociedade, o meio ambiente.  Na Terra do Fogo, ao observar a cultura dos indígenas de lá teve uma "iluminação", a qual concordei.  Ele disse: "a perfeita igualdade de todos os habitantes impedirá por muitos anos sua civilização.  Até que "algum chefe" ascenda, que "por seu poder" possa acumular as posses para si mesmo, "deve haver um fim para todas as esperanças de melhorar as condições deles." (Muitos dados de seus pensamentos e falas são de seus diários - Darwin os escreveu no decorrer de sua vida).

Darwin teve muito contato com diferentes tribos indígenas, primitivas nessa viagem e tirou muitas conclusões do que observou.  No sul da América do Sul indignou-se de como o povo dito "civilizado" aprisionava os índios: "Prisioneiros eram tratados como animais". "As mulheres índias são massacradas a sangue frio." "Quem acreditaria que nesta época em um país civilizado e cristão, tais atrocidades são cometidas?" E sua melhor reflexão nesse período: " A carnificina podia beneficiar a economia, mas corromperia o povo.  O país estará nas mãos de selvagens gaúchos brancos em vez de índios cor de cobre.  Os primeiros sendo um pouco superiores em civilização, ao mesmo tempo que são inferiores em todas as virtudes morais."

Na América do Sul, Darwin "tinha visto tantas coisas em três anos e meio: terremotos, erupções vulcânicas, fósseis gigantes, selvagens."

Após a viagem no Beagle ele dedicou-se inteiramente ao estudo da natureza. "Seus professores de Cambridge haviam colocado a devoção ao Deus da Natureza entre as mais altas.  Ele iria além deles - estudaria a Natureza por amor dela mesma, explicaria seus poderes, entenderia sua sabedoria, justificaria seus caminhos."

Em toda sua trajetória de vida, Darwin, muito crente em Deus (mas não na religião), sempre buscava entender como as espécies se transmutavam e onde estava o papel do Criador - ele, em suas pesquisas, aceitou que "O Criador cria por leis" "Assim como os ventos dos Andes obedeciam a leis regulares, as idas e vindas do animais na superfície do planeta também o faziam." "Poderia a bondade de Deus ser deduzida da adaptação perfeita dos animais?" Os autores afirmam que "Darwin não era ateu.  Ele aceitava que tudo isto resultava das leis naturais de Deus." Em outro momento ele afirmou: "Deus com o seu "perfeito conhecimento do futuro" havia desencadeado uma lei no momento da Criação e o universo seguiu desenvolvendo-se desde então." E em outro momento, mais tarde em sua vida, ele disse que "a existência de Deus "está além do alcance do intelecto do homem." 

Algumas reflexões de Darwin sobre a evolução das espécies no Planeta:

"Ele achava que espécies e indivíduos tinham duração de vida fixa, limitada pela força vital." "Os mamíferos, sendo complexos e com força vital mais difusa, deveriam ter, como espécies, vida mais curta do que criaturas microscópicas simples." "Os antigos gigantes não tinham sido extintos pela mudança do clima, disse Darwin.  Assim, talvez "como um indivíduo o tempo de vida tenha completado seu curso e se esgotado para as espécies."

"... a complexidade de uma espécie era inversamente proporcional à sua duração de vida." " A origem da vida era um evento único, perdido em alguma parte dos tempos pré-Silurianos." "Se o ambiente mudasse gradualmente, os animais se adaptavam, transmutando-se para se manter sincronizados; se falhassem em manter o passo, a extinção era inevitável." (aqui falando da adaptação da espécies às mudanças). "A inovação em Darwin estava em observar que o melhor adaptado se selecionava, e a mudança se estabelecia através dos tempos."

"Se escolhermos deixar a conjectura correr livremente, então os animais são nossos companheiros na dor, doença, morte e sofrimento e fome; nossos escravos no trabalho mais laborioso, nossos companheiros em nossos divertimentos; eles podem partilhar de nossa origem em um ancestral comum, podemos todos estar enredados juntos." "Qualquer observador sincero poderia ver que o homem e os animais compartilham não somente os sentimentos, mas os meios de expressá-los."

"As adaptações novas não podiam ser perfeitas como ensinavam os antigos teólogos, ou não haveria competição, seleção e progresso.  A imperfeição era a norma da natureza."

"Deus designara leis naturais para desenvolver a vida em vez de intervir ele próprio." "...a natureza era autossuficiente."

Socialmente, Darwin era como um ermitão, como já mencionei, ele detestava multidões e reuniões com muitas pessoas.  Irritava-se facilmente quando tinha que participar de algum evento.  Talvez esse tenha sido um dos motivos pelos quais tinha muitas crises de problemas estomacais - de origem nervosa pelo excesso de esforço mental.  Sofria de gota (ataques recorrentes de artrite inflamatória).  Para esse problema fez tratamento hidroterápico, o qual não acreditava que daria certo (ele não defendia tratamentos alternativos para a saúde) mas que, não só foi bom, como ele o  repetiu várias vezes numa estância de águas na cidade de Malvern, no condado de Worcestershire na Inglaterra.  O médico, Dr. Gully, era bondoso, gentil e atencioso, embora autoritário.  Darwin creditou sua melhora mais na atitude do médico do que ao próprio tratamento. Além desses problemas, também sofria de má circulação.

Outra característica de sua personalidade era o seu orgulho: "...ficaria irritado se qualquer um publicasse as minhas teorias antes de mim."

O seu único prazer na vida era trabalhar: "A ociosidade é um completo desastre para mim" (comentou com um amigo certa vez).

Ele era totalmente contra a guerra e em 1877 endossou uma "Declaração pública contra a Guerra" e pôs seu nome no alto de uma lista de assinaturas.

Sobre política, ele afirmou que " os políticos perdem seu tempo discutindo sobre tudo, mas negligenciando as boas ações."

Em sua vida pessoal, Darwin casou-se com sua prima Emma Wedgwood e teve 10 filhos, com três deles falecendo antes dele.  Era feliz no casamento, admirava sua esposa - ela era seu suporte emocional (bem, quase todas as esposas são assim...). 

Para finalizar, acredito que esse texto nem deu muito para refletir.  Como gostei de ter lido essa biografia, quis passar um resumo razoável (sic!) para vocês.

Boa semana!


 







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