sexta-feira, 5 de novembro de 2021

"KUFUNGISISA"

Caros amigos leitores,

O texto de hoje versa sobre um TED Talk que me foi enviado por duas amigas.  Ele é de 2017.  A fala é de um psiquiatra da África, mais precisamente do Zimbabwe, da cidade de Harare (capital), chamado Dixon Chibanda.  Ele está apresentando esse TED na cidade de New Orleans, Louisiana.

O Zimbabwe é a antiga Rodésia do Sul, localizada no sul da África, com uma população de cerca de 16 milhões de habitantes (Wikipédia).

Ele apresenta seu programa para tratar da depressão.  O nome de sua palestra é "Por que eu treino avós para tratar depressão".  O título por si só já explica seu programa.

Em seu país, o Zimbabwe, existem apenas 12 psiquiatras para 14 milhões de pessoas no Zimbabwe ( o Wikipédia já informou que atualmente são 16 milhões de habitantes; lembrando sempre que sua fala é de 2017), sendo impossível tratar adequadamente a população com problemas de depressão.

Em 2016, a OMS(Organização Mundial da Saúde) afirmou que 300 milhões de pessoas sofrem de depressão (imaginemos isso hoje no pós-pandemia...); a cada 40 segundos alguém no planeta comete suicídio por sentir-se infeliz; acontece mais comumente em países de baixa renda; a causa de morte por suicídio acontece mais comumente na faixa dos 15 aos 29 anos; a depressão pode ocorrer por abuso, conflitos, violência, isolamento, solidão.  Assim, ele estima que 90% das pessoas no mundo com transtorno mental não terão tratamento, visto que há aproximadamente 1 psiquiatra/psicólogo para cada 1,5 milhão de pessoas.

Então, ele pensou em avós - elas existem aos montes, são pacientes, tolerantes (pelo menos a maioria), estão em todas as cidades, quase em todos os lugares - ele deu treinamento em terapia cognitiva comportamental a um grupo de avós interessadas em participar do programa.

A ideia é usar um banco de praça/parque para conversar com os pacientes interessados no tratamento.  Uma das coisas que as avós necessitavam era de um celular para receber os contatos (provavelmente um grupo de WhatsApp) e participar de uma rede para contatar a todos.

Ele formou seu primeiro grupo de avós terapeutas em 2006 e até aquela data (2017) já haviam grupos de avós em 70 comunidades.  Em 2015, trinta mil pessoas receberam o tratamento no "banco de terapia", numa média de 6 meses de tratamento para cada paciente.  Na época, esse programa já tinha sido expandido para o Malawi, Zanzibar (na África) e nos EUA (Nova York).

Em 2017 existiam 600 milhões de pessoas no mundo acima dos 65 anos (avós em potencial) e em 2050 estima-se que serão 1,5 bilhão que poderão formar a Rede Global de Avós.

Ele conclui que as avós, para esse tipo de tarefa, eram mais eficientes que os médicos.

O tratamento no "banco de terapia" consistia na avó "emprestar" o seu ouvido, sua empatia, sua paciência, tolerância para a pessoa em estado de depressão.  A avó perguntaria se a pessoa gostaria de compartilhar sua problemática com ela e assim, a conversa/terapia começava.

Embora esse TED seja antigo, ele me trouxe muitas reflexões.  A primeira reflexão que percebo é de como no mundo existem muitas pessoas com ideias incríveis para ajudar os outros.  Muitas vezes, países com muitas regras, leis, diretrizes, burocracia perdem tempo e recusam-se a ver soluções nas coisas simples.

No Brasil temos o CVV - Centro de Valorização da Vida que também realiza esse trabalho muito bem ao telefone, treinando pessoas de qualquer idade para participar na rede de ajuda para pessoas com depressão.

Acredito que a maioria dos suicídios poderiam ser evitados se todos nós, independente da idade, pudéssemos "emprestar" nossos ouvidos de vez em quando para pessoas que necessitam falar de sua mazelas.

Outra reflexão que me ocorre agora é de que o outro lado, o da pessoa com conflitos, problemas de tristeza, solidão, abuso também pudesse buscar ajuda de algum "ouvido" amigável.

No mundo atual todos nós precisamos ser ouvidos em nossas tribulações; mas também todos nós podemos ouvir irmãos em crise.

O que Dixon não mencionou, mas que fiquei imaginando que fosse real é que as avós também tiveram seu grau de satisfação, contentamento de poderem sentir-se, mais uma vez, úteis (muitas avós não se sentem assim) e poderem ajudar alguém.  Ajudar outra pessoa com problemas, mesmo que não se possa resolvê-los, só pelo fato de ouvir o outro, não tem preço. Quem já fez isso sabe do que falo.

Ah, já ía me esquecendo.  "Kufungisisa", no Zimbabwe é equivalente à depressão e significa literalmente "pensar demais" - e, na minha opinião,  é exatamente o que uma pessoa depressiva faz: pensa muito e age pouco.

Boa reflexão!


 




 

Um comentário:

  1. Vale a pena ouvir este psiquiatra falando sobre este projeto. É emocionante. Literalmente, temos dois ouvidos e uma boca: para falar menos e ouvir mais.

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