Caros amigos leitores,
A quinta regra do novo livro de Jordan Peterson "Além da Ordem - Mais Doze Regras para a Vida" trouxe-me muitas reflexões e lembranças do meu passado, onde eu era diferente em muitos aspectos do que sou hoje. Creio que quando vamos atingindo certa idade podemos olhar para trás e perceber atitudes equivocadas e circunstâncias difíceis que vivemos, as quais nos ajudaram a amadurecer. Essa regra "Não faça o que você detesta/odeia" me fez rever muitas coisas que realizei, mas que não gostei, ou até que odiava, mas o fiz por motivos diversos - revendo-as concluo que hoje não as repetiria. Mas como eu já mencionei, elas me auxiliaram no meu crescimento. E, hoje não sou mais a mesma pessoa, digo emocional, psicológica e até espiritualmente - amadureci e o que eu pensava sobre certas coisas no passado, hoje eu penso diferente.
A maioria de nós, vez ou outra, faz coisas de que não gosta. Aqui não me refiro a tarefas do lar, por exemplo. Mulheres em geral tem mais tendência a fazer o que não gostam - no lar - passar e lavar roupa, cozinhar, limpar a casa, etc. Por exemplo, eu lavo e passo roupa com prazer, mas não curto cozinhar (meu marido é que cozinha), entretanto, algumas vezes preciso fazê-lo. Com relação às tarefas do lar cada pessoa tem suas preferências.
Mas a regra de Peterson diz respeito à situações mais graves do que tarefas domésticas. Ele se refere àquelas situações que enfrentamos e nos vemos fazendo coisas que trazem consequências funestas para nossa alma, e que nos arrependemos, mas que acabamos fazendo porque acreditávamos que era a única coisa a ser feita naquele momento. E, depois de um tempo, colhemos o arrependimento e só nos livramos dele e da culpa se pudermos analisar e concluir que fizemos o que fizemos para ter um segundo ganho na ocasião.
A ideia aqui não é nos culparmos, mas nos perdoarmos e "prometermos" para nós mesmos que não iremos repetir a dose no futuro. Quanto maior o arrependimento, mas fácil não repetir o comportamento.
Jordan Peterson trouxe um exemplo bizarro - tentarei resumi-lo.
A situação ocorreu com uma de suas pacientes (ele pediu licença à ela para reproduzir a história em seu livro) numa ocorrência em seu trabalho. Ela trabalhava numa empresa, na parte administrativa e ela ia apresentar, numa reunião, o seu projeto. Ela resolveu usar um flip-chart (bloco de papel com cavalete onde se viram as páginas já escritas) ao invés do power point/data show do computador. E então a situação difícil deu início. Uma pessoa começou dizendo que não se deve usar o tal do flip-chart porque a palavra flip-chart tinha uma conotação preconceituosa. (A palavra flip é uma menção à pessoa que nasceu nas Filipinas - filipino. Chart quer dizer bloco). Nem sabia disso e Peterson também não soube dizer o motivo de se usar essa palavra para se referir a um bloco de papel. Em suma, na empresa dessa sua paciente, começou uma discussão interminável sobre uso de certas palavras que deveria ser abolida. Bem, conhecemos bem de perto essa temática - palavras como preto, negro, denegrir, escuro, pardo, japonês, chinês, etc...
Ela, que não acredita e nem segue o tal do "politicamente correto" (tampouco Peterson ou eu mesma), sentiu-se violentando a si própria, por ter que discutir algo tão superficial, perdendo um tempo precioso com pessoas agressivas em suas colocações e sentiu o desejo de pedir demissão da empresa.
Assim a regra "Não faça o que você detesta/odeia" encaixa-se aqui. Ela não estava mais sentindo-se confortável de trabalhar num ambiente onde não poderia expressar-se livremente.
A pergunta que ela se faz e eu a endosso: "Este é um caso onde se deve dar um "basta"? Aonde iremos parar? Se uma pequena minoria de pessoas, hipoteticamente, achar algumas palavras de cunho ofensivo, o que faremos? Continuaremos a banir palavras infinitamente?"
Sua paciente desejava muito escapar da situação (quem não iria querer?).
"Esses tipos de discussões dão às pessoas um sentido superficial de se estar sendo bom, nobre, compassivo, caridoso e sábio. Assim, se alguém discorda desses pontos de vista, como essa pessoa poderá juntar-se à discussão sem ser considerada racista, má, de visão estreita, rigorosa?"
Então, muitas ideias vieram à mente dela. Em realidade, ela precisava dizer "não" para essa situação mas outras ideias surgiram:
"Eu posso ser despedida". Jordan concorda que essa é uma possibilidade, então diz à ela para "se preparar para procurar outro local para trabalhar (ou para se preparar para falar com seu chefe com um argumento bem preparado e articulado). Não se deve presumir que deixando seu emprego será necessariamente para pior." Muitas vezes, ao contrário, encontra-se uma função melhor em outra empresa.
"Tenho receio de mudar para outra empresa." Então Peterson reflete: "Claro que você tem medo, mas comparado com o quê? Prefere continuar num trabalho onde você se torna mais fraca, mais amarga e mais suscetível à pressão ou tirania com o passar dos anos? Há poucas escolhas na vida onde não haja risco de nenhum lado e é sempre necessário comparar os riscos de continuar e os riscos de se mudar para outro local."
O exemplo da situação da paciente de Jordan Peterson parece banal, mas a impressão que fica é que na vida real, em algumas circunstâncias passamos por cima de situações que não nos fazem bem e não agimos, não refletimos porque achamos que não temos escolha. Porém, sempre temos escolha. O problema é que nos acomodamos a certas condições que não nos fazem bem e "fingimos" que está tudo bem. Mas com o passar do tempo percebemos que estamos sofrendo naquela condição porque temos medo de mudar, de "virar a mesa". O que não percebemos é que, exatamente, se mudarmos, daremos um impulso para frente e acabaremos nos deparando com uma situação prazerosa que nos auxiliará no nosso crescimento. Às vezes, precisamos agir com coragem e determinação no resgate de nossa autoestima. E quando conseguimos, voilà! - uma sensação de liberdade invade o nosso íntimo.
Assim, reflitamos sobre essa regra "Não faça o que você detesta/odeia."
Boa semana!
Detesto cozinhar, mas fazer o que????
ResponderExcluirGostei da frase "quanto maior o arrependimento, mais fácil não repetir o comportamento". Gosto de cozinhar, mas não gosto de palpites. Procrastino algumas atividades como limpar o chão. Será que faço isto porque não gosto? 🤔 Se pudesse voltar no tempo, investiria muito mais em mim, como faço agora, pois o vigor físico é menor e me alerta de que devo seguir mais "devagar com o andor porque o santo é de barro". Uma técnica adotada é de fazer primeiro as tarefas de que não gosto, ou menos prazerozas, antes das que gosto.
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