Caros leitores amigos,
No decorrer de minha vida, através dos anos de observação do mundo, das pessoas, das cidades, das casas, do meio ambiente, da sociedade enfim, tenho me questionado sobre o valor da beleza. Então, como por uma sincronicidade do destino, onde sabemos que nada é por acaso, tenho me deparado com essa temática - em livros, palestras, conversas.
Como já mencionei, através da observação do meio social me deparei com a feiúra do mesmo. Há muito lixo pelas ruas (será que é só na cidade em que resido?). Bem, já viajei para outras cidades de outros países e isso, pelo menos antes da pandemia, não era marcante. Desde o início do "Fique em casa" (meu marido e eu não aderimos) notei que o lixo nas ruas aumentou bastante, assim como a feiúra das casas, as quais também têm muito lixo em frente (restos de "poda" de árvores [coloquei "poda" entre aspas porque em realidade são árvores cortadas - isso aumentou bastante também], restos de materiais de construção, tais como areia, pedra, tijolos [a reforma da casa já acabou mas as sobras não são retiradas na maioria dos casos - e é incrível, ninguém rouba e eles, os restos, são levados pelo vento e pela chuva {quando chove, o que tem sido raro}], sacos de lixo (os moradores assim que "produzem" o lixo, o mesmo é colocado na frente de casa ou nas lixeiras [quando elas existem] imediatamente [às vezes coloca-se o lixo no sábado pela manhã e o caminhão da coleta só irá passar na segunda feira à noite - no bairro em que moro; assim são muitos saquinhos de lixo em frente às casas - isso é o que chamo de feiúra).
Outro item que tem me chamado a atenção é o vestuário - roupas inadequadas e corpos não compatíveis para certos tipos de roupa - entendo que hoje todos querem (e eles acreditam que devem) chamar a atenção à qualquer custo - me vem à mente as tais calças jeans rasgadas (antes era só no joelho; hoje é em toda sua extensão - já vi um rapaz com o rasgo na bunda onde podíamos ver sua cueca...), os shorts extremamente curtos numa cidade que nem litorânea é. Sei que alguns de vocês poderão pensar "ela é idosa, de outra geração, pudica..." Não é caso de pudor, é apenas mau gosto e total deselegância.
Outra característica que foge totalmente aos padrões de beleza e harmonia é a música. A cada dia é uma martelada no ouvido, onde o famoso ritmo "bate-estaca" causa até dor de estômago (os carros com som em volume altíssimo voltaram com força total - parece que para essas pessoas é como se nada tivesse mudado em seus íntimos - acho que precisam de umas três pandemias para acordarem...).
Outra dissonância que me ocorre no dia-a-dia no quesito som são os alarmes (de carro, de moto, nas casas, nas lojas e empresas) - geralmente o alarme dispara quando passa uma borboleta por perto... os ladrões nunca fazem disparar um alarme - acredito que sabem como fazer para que alarme não toque; outro detalhe - fulano vai viajar ou se ausenta por um tempo - então o tal alarme começa a tocar e não há Cristo que o desligue - a polícia não "pode" fazer nada... outra feiúra no mundo.
Esses casos de falta de beleza não creio serem prerrogativas exclusivas do Brasil - creio ser global.
Um dos livros que me chamou a atenção para esse tema foi o livro "Manual de Sobrevivência do Conservador no Século XXI" de Daniel Lopez. Esse livro "tem por objetivo oferecer ao leitor instrumentos conceituais que lhe sirvam para compreender e contestar narrativas que a mídia pinta como verdades, principalmente as relacionadas à política em geral, à educação, à cultura e às artes como um todo." (trecho da apresentação do livro).
Não entrarei em muitos detalhes, mas Lopez me mostrou e provou com fatos a decadência da arte que vem ocorrendo após Leonardo da Vinci (século XVI), por exemplo. Na pintura, nessa época a arte buscava imitar, na maneira mais perfeita possível, a realidade. Isso foi sendo mudado - no decorrer dos séculos, tivemos, na pintura, por exemplo, Jackson Pollock que "pintava" com um balde furado cheio de tinta onde a tela ficava no chão e os respingos de tinta transformavam-se em arte abstrata; outro integrante dessa arte foi Pablo Picasso "que começou a desconstruir as formas e a mostrar um objeto sob vários pontos de vista ao mesmo tempo."
Através da leitura do livro de Lopez comecei a observar realmente a falta de beleza em outras coisas, como já mencionei.
Jordan B. Peterson em sua oitava regra, também fala da importância da beleza para nosso cotidiano. Desde o seu segundo livro (esse, ao qual me refiro, é o terceiro) ele ficou conhecido por encorajar as pessoas, principalmente os jovens, a limparem e arrumarem seus quartos. Nessa regra, ele sugere que cada pessoa deve tentar transformar um cômodo de sua casa (pelo menos um) num lugar mais bonito/belo possível.
Ele explica, "transformar alguma coisa em beleza é difícil, mas é extremamente compensador. Se você aprender a fazer alguma coisa em sua vida verdadeiramente bonita - uma única coisa - então você já estabeleceu contato com a beleza - deste ponto em diante você poderá expandir esse relacionamento para outros elementos de sua vida e do mundo. Este é um convite para o divino." "Você considerará outras pessoas mais inteligentemente e completamente. Você cuidará de você mesmo mais efetivamente."
Esse texto de hoje pode ter parecido a vocês bastante pessimista, deprimido, como se eu somente visse esse lado ruim da vida. Mas não, apenas quis apontar a todos para olharem para o outro lado da vida - o da beleza. E para que todos nós pudéssemos "construir" beleza ao nosso redor.
Peterson continua - "nós vivemos pela beleza, pela literatura, pela arte - não conseguimos viver sem alguma conexão com o divino - e a beleza é divina."
Ele vai além e eu concordo plenamente com ele: "A beleza pode nos ajudar a apreciar a beleza de ser e nos motivar a buscar a gratidão quando, ao contrário, estivermos propícios a um ressentimento destrutivo."
Eu tive a oportunidade e o privilégio de ir à Galeria Nacional de Londres e pude observar os quadros dos grandes pintores de outros séculos - é um banho de arte para qualquer um - essa história de que alguém não vai porque não entende de arte não existe. Basta olhar, imaginar, perceber, colocar a alma nessa visita e você terá estado um tempo em frente ao divino. O mesmo ocorre num teatro ouvindo uma orquestra sinfônica tocando um clássico. É simplesmente irresistível - nesse quesito qualquer orquestra vale - todas, em minha opinião, são magistrais...
Peterson acredita que "os artistas são pessoas que estão no limiar de transformação do desconhecido para o conhecimento." "Os artistas ensinam pessoas a ver."
"A beleza te leva de volta ao o que você perdeu. A beleza o relembra daquilo que permanece para sempre imune ao cinismo. A beleza o relembra que há um pequeno e um grande valor nas coisas. Muitas coisas fazem sua vida valer a pena: amor, coragem, gratidão, trabalho, amizade, verdade, graça, esperança, virtude e responsabilidade. Mas a beleza está entre uma das maiores coisas."
Hoje termino o texto com o primeiro parágrafo do prefácio do livro de Roger Scruton, "Beleza", o qual ainda estou para ler: "A beleza pode ser reconfortante, perturbadora, sagrada e profana; pode revigorar, encantar, inspirar, atemorizar. Ela pode nos influenciar de inúmeras formas. Não obstante, jamais é vista com indiferença: exige nossa atenção; fala-nos diretamente, como a voz de um amigo íntimo. Se há alguém indiferente à beleza, sem dúvida, é porque não a percebe."
Boa reflexão!
Feliz Natal!