Caros leitores,
Esta semana traremos mais uma fábula.
"Um carvalho, de bom coração, porém superficial em seus julgamentos, uma vez que acreditava na superioridade da aparência e desconhecia os valores verdadeiros ocultos na essência, olhando a fragilidade do caniço e dele se compadecendo, assim falou:
- A natureza foi injusta com você. Frágil como é, um passarinho é uma carga pesada para suas forças. E o mais fraco dos ventos o obriga a inclinar-se e vergar a fronte. Ainda se tivesse nascido à sombra de minha ramagem e fosse mais alto, eu poderia servir de escudo para você e protegê-lo das tempestades que o ameaçam. Devo acrescentar que o admiro pela maneira como aceita, sem reclamar, a sua pequenez e a sua debilidade.
O caniço agradeceu a compaixão e a bondade do carvalho e replicou: Não se preocupe com a minha suposta fragilidade. Você se engana com ela. Por trás dessa aparência delicada existe, em essência, uma força que me faz ser forte e autossuficiente. Eu sou flexível. Eu me curvo, se preciso for, mas não quebro. Na verdade, os ventos são mais perigosos para você do que para mim.
Mal terminou de proferir essas palavras, no final do horizonte forma-se um terrível vendaval que, furioso e implacável, fustiga tudo que lhe aparece pela frente. E o carvalho e o caniço são alvos de seus açoites.
A árvore enfrenta o vento forte e tenta a todo custo manter-se em pé; a cana dobra, inclina a fronte.
O forte, que se julgava alto como as montanhas do Cáucaso e capaz de suportar os violentos temporais, não resiste. E o vento fica mais violento e arranca aquele cuja cabeça era vizinha do céu e cujos pés tocavam o império dos mortos."
Comumente, vislumbramos, em cada fábula de La Fontaine uma ideia principal e a analisamos à luz da psicologia no que tange o comportamento humano.
Aqui, a ideia central que Hammed nos traz é a da flexibilidade. As pessoas flexíveis conseguem muitas coisas porque não oferecem resistência - em contrapartida, lembremo-nos de que as coisas duras quebram com mais facilidade, e, com as pessoas essa regra não é diferente.
Hammed nos traz como exemplo de flexibilidade, a água. Para os chineses, ela é o mais poderoso dos elementos porque, entre outras qualidades, tem o mais alto grau de "não-resistência". Em circunstâncias atípicas, a água tem o poder de desgastar uma rocha e arrasar tudo o que encontrar pela frente pela sua força. Por outro lado, frente a um obstáculo, uma pedra, por exemplo, a contorna e ao contrário, não fica irritadiça e se preciso for ela também pode se comprimir.
Assim como é o fluxo da correnteza que traz vida a um rio, é o movimento e o dinamismo de nossa personalidade que traz vivacidade a nossa existência. Nossa personalidade, nosso comportamento é dinâmico quando somos flexíveis, abertos a novas ideias - quando nos movimentamos para frente, com a cabeça altiva não perdendo de vista a meta a ser alcançada.
Então, compreendamos que a vida é movimento, é transformação, é ciclo e é mutabilidade. Se observarmos os grandes vultos da humanidade, perceberemos que os mais fortes são os mais maleáveis, abertos a mudanças e a novas informações.
Há duas fábulas anteriores falamos da essência de cada ser - falamos da importância de conhecermos nossa essência e partirmos dela para realizarmos modificações. Como somos membros do Universo em contínuo crescimento, aprendamos a nos adaptar e a nos ajustar a uma visão de mundo onde a transformação de nossa personalidade é a meta a ser alcançada e para tanto, há de reciclar pensamentos, crenças, ideias, fazer novas interpretações das circunstâncias e das ocorrências do dia-a-dia ao nosso derredor. Não podemos deixar tudo cair no automático. O homem automatizado não pensa, não reflete, não analisa e, portanto, não evolui.
Se não há liberdade para questionar a si e ao mundo, não há ética (no dicionário Aurélio, ética é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e o mal, relativamente a determinada sociedade, ou de modo absoluto). Quando o homem questiona, ele busca conhecer algo diferente - e esse novo conhecimento pode alavancá-lo para frente e para cima. Quando ele expande a sua consciência, sua qualidade de vida cresce, e ele caminha mais facilmente até o seu objetivo.
Muitas vezes, a maneira rígida de pensar ilude o "homem carvalho" (como chama Hammed, "de bom coração, porém superficial em seus julgamentos"). Ele acredita possuir uma força indestrutível - mas frente às tempestades existenciais ele tomba ("...tenta a todo custo manter-se em pé;(...) se julgava alto como as montanhas do Cáucaso e capaz de suportar os violentos temporais, não resiste. E o vento fica mais violento e arranca aquele cuja cabeça era vizinha do céu(...)".
Ao contrário do que muitos pensam, só teremos vigor e firmeza, quando mantivermos a flexibilidade do "caniço" - quando pudermos refazer e reformular planos, admitir novas opiniões, buscar o novo sem temores. A cada passo adiante quando abraçamos o novo trazemos estímulos à nossa vida que, por sua vez, nos trazem energias que nos alimentam e fortalecem o espírito.
No universo, há o que Hammed chamou de "ritmicidade cósmica" onde há um fluir permanente que mantém tudo em perfeita ordem.
Muitos cientistas falam do caos porque para eles, quando há algo que não podem controlar, a eles, parece haver confusão e desordem. Mas, em verdade, não há o caos. Em tudo há harmonia. Em cada situação há um propósito que para nós ainda é desconhecido - mas para o Criador tudo tem um objetivo, um ciclo em completa ordem. Tudo está de acordo com os desígnios do Alto. A dureza, a inflexibilidade vem exatamente dessa tentativa de controlar o mundo.
Perante novas situações, há de se ter novos comportamentos. Se uma situação exige uma mudança de opinião, de ideia, de pensamento e nós nos mantemos arrogantes e reticentes à mudança, nossa vida torna-se infeliz, amarga e pior que tudo, estagnada. Isso não quer dizer que devemos jogar no lixo nossas convicções internas a respeito de certos assuntos, mas que devemos ser flexíveis para repensar pontos de vista, raciocinar e refletir sobre outras possibilidades. Não nos achemos fracos por mudarmos nosso modo de sentir, pensar e agir diante das coisas e pessoas. Sem errar não há produção de conhecimento do que é bom e do que é ruim. Sem este conhecimento não há crescimento espiritual e sem este crescimento a humanidade não estaria neste estágio de evolução.
Há de se ter coragem, humildade e força de vontade para perceber que os desacertos fazem parte desse processo de vida e que eles nos auxiliam a raciocinar. Livremo-nos das culpas, das queixas, dos ataques de irritação, da frustração, da agressividade - essas características só servem para nos atrasar a marcha e para trazer à nossa existência um teor vibratório negativo.
Se permanecemos inflexíveis perante circunstâncias que requerem mudança, seremos como o carvalho perante as intempéries - tomba "a árvore que enfrenta o vento forte e tenta a todo custo manter-se em pé; a cana dobra, inclina a fronte" e permanece sã e salva.
Boa semana!
O orgulho impede a flexibilidade.😔 Minha sogra usava uma expressão quando lhe perguntavam se ela estava bem: "estou firme como palanque no banhado. Balanço, mas não caio".
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