Olá amigos,
Como já mencionei em outros textos, Jordan Peterson continua a me trazer profundas e inusitadas reflexões. Em sua nona regra de seu terceiro livro "Além da Ordem - Mais Doze Regras para a Vida", ele traz uma dica de como podemos nos livrar de lembranças não muito felizes de nossos atos passados, os quais Freud denominou "traumas".
No processo terapêutico como o conhecemos, tanto os leigos quanto os terapeutas (salvo algumas técnicas e abordagens diferenciadas) a ideia é falar sobre os problemas, os desafios da vida. O psicólogo/terapeuta tem a incumbência de ouvir o paciente/cliente e auxiliá-lo em suas questões. Como já disse, salvo algumas técnicas diversas para abordar o problema, o processo se dá numa troca de informações.
Peterson traz uma técnica interessante - embora não seja inusitada, nada muito fora do comum, ela não é muito usual entre as diversas abordagens psicológicas. Trata-se da escrita.
Antes de entrar na técnica em si, reflitamos sobre nossa vida atual e nossas questões internas. A ideia do texto de hoje é realizarmos uma autoanálise sobre como anda nossa existência.
Muitas situações passadas ficam armazenadas em nossa memória as quais podem vir a dificultar nossa caminhada em direção aos nossos objetivos. Algumas vezes nos sentimos envergonhados, culpados, temerosos, tristes; às vezes, nos sentimos como se tivéssemos caído num buraco e nesses momentos podemos nem saber o porquê; às vezes, até sabemos ou achamos que sabemos o motivo, mas não sabemos o que fazer e como sair desse buraco imaginário...
"Existe um "dogma" psicológico que afirma que qualquer coisa ameaçadora ou perigosa que nos causou choque ou conflito nunca poderá se esquecida, se nunca for entendida/compreendida."
Para nos orientarmos no mundo precisamos saber onde estamos e para onde estamos indo.
Peterson continua: "Nós mapeamos o mundo de uma maneira que possamos nos mover de onde estamos - do ponto A - para onde estamos indo - para o ponto B. Usamos nosso mapa para guiar nossos movimentos, e nessa empreitada encontramos sucessos e obstáculos pelo caminho."
"Os sucessos nos trazem confiança - estamos não somente nos movendo em direção à nossa meta e desejo, como também observamos com esses sucessos que estamos seguindo o mapa adequadamente. Os obstáculos e derrotas trazem, ao contrário, ansiedade, depressão e dor. Eles indicam nossa profunda ignorância. Eles indicam que nós não entendemos com suficiente profundidade onde estivemos, onde estamos e onde estamos indo. Eles indicam que aquilo que construímos com grande dificuldade e cuidado, acima de tudo, está imperfeito, defeituoso, maculado - num grau muito sério e incompreendido."
Desde a descoberta por Freud, do consciente e do inconsciente como os conhecemos hoje, podemos analisar as razões, os motivos e os significados dos eventos que ocorrem não somente nos fatos históricos, mas também nas vidas de indivíduos comuns.
Desse modo Peterson nos aponta, muito sabiamente, aquilo que toda pessoa deveria ter em mente - que muitas situações que nos ocorrem hoje podem ser recorrentes, ou seja, podemos estar repetindo situações desagradáveis e nem termos percebido isso, simplesmente porque não demos a devida atenção, ou até porque essas situações não foram compreendidas totalmente no passado.
Nesse momento então a técnica da escrita é usada para ajudar a compreender os obstáculos do percurso ou até os erros que parecem se repetir ad aeternum.
Na segunda parte do capítulo sobre essa regra, Jordan Peterson nos lembra da importância da palavra, da fala.
A ideia da escrita é colocar no papel tudo o que você conseguir se lembrar desde que você se conhece por gente, como o dizemos. E, através desse pequeno diário, você poderá resgatar memórias felizes e também as outras, não tão felizes - conseguirá talvez compreender onde esteve, porque está onde está e onde desejará estar. Ele conta no livro que um de seus pacientes estava numa situação em que erros se repetiam e ele começou o seu diário separando-o em fases escolares para melhor compreensão, pois o seu problema tinha a ver com uma situação ocorrida no ensino médio.
Você pode colocar apenas tópicos e desta maneira a escrita não ficará tão longa; pode separar em fases da vida (infância, adolescência, maturidade, velhice); por idade (10, 20, 30, 40 anos...); até por solteiro, casado, separado, viúvo; etc.
Acho uma boa técnica e cada um pode escolher como lhe aprouver a melhor maneira de se expressar na escrita, afinal de contas, ninguém vai ler (ou vai?) - é para sua própria reflexão.
A propósito, termino com o nome que Jordan Peterson deu à regra: "Se velhas memórias ainda te perturbam, coloque-as no papel cuidadosamente e completamente."
Então, bora colocar no papel nossas reflexões...
Boa semana!