Olá amigos,
Durante dez anos (excetuando-se os dois anos da pandemia) tenho ido para São Paulo para realizar uma palestra num instituto espiritual, dando continuidade dessa prática, a qual era realizada quando morava em São Paulo. As palestras são sobre espiritualidade e psicologia e são realizadas no primeiro sábado de cada mês.
Essa é uma atividade que gosto muito - todos aproveitam, refletem e crescem - os que me assistem e eu. Para chegar lá viajo de ônibus na sexta à noite, chego em Sampa de manhãzinha no sábado (a viagem dura seis horas e meia, quando não há acidentes na estrada - durante o período mencionado de uns 8 anos, só houve dois atrasos.) A tarefa parece sofrida, mas é agradável porque posso visitar alguns amigos que deixei no torrão natal.
Assim, geralmente no sábado tomo café da manhã com uma amiga, depois almoço com outra amiga perto do instituto onde ministro a palestra (às 14 horas chego no instituto para um papinho antes do evento - a palestra é das 15 às 16:45 horas). Depois vou para a casa de uma amiga que esteve no instituto em outra atividade, para lanchar com ela e depois ela me leva para uma estação do metrô para que eu vá até a rodoviária tomar o ônibus que me trará de volta a Curitiba.
Então "durmo" dois dias no ônibus, entretanto a atividade é tão prazerosa que quando chego no domingo bem cedo em casa já começo o meu dia - tomo o café com meu marido, vamos assistir uma palestra, almoçamos em nosso restaurante predileto aos domingos, vamos a uma cafeteria para um cafezinho e se tiver um bom filme vamos ao cinema; se não há filmes bons, vamos a um parque ou à casa de algum amigo. Quando chegamos em casa, há pipoca com sessão de filme na TV. Em realidade, independente dessa ida para Sampa uma vez por mês, todos os nossos domingos são geralmente como esse.
Todo esse relato de hoje tem o propósito de contar a vocês, vez ou outra, encontros e situações interessantes que presencio quando estou na rodoviária de São Paulo, pois às vezes, essa minha amiga da tarde não pode me receber em sua casa para o lanche pois tem outro compromisso e então alguém de lá do instituto me leva até alguma estação do metrô e eu chego cedo na rodoviária e acabo ficando lá de 4 a 5 horas esperando o horário do meu ônibus para Curitiba.
Quem não conhece a fundo a rodoviária de São Paulo - o Terminal Tietê do metrô, acaba imaginando que todas as rodoviárias são iguais - sujas, cheias de pessoas "desclassificadas", malas, crianças "berrando", maus elementos, "aproveitadores de ocasião", etc. Todos esses exemplos existem de verdade, mas pessoas que nunca estiveram lá pedem que eu tome o máximo cuidado com os "bandidos", pois estou sempre sozinha (meu marido não me acompanha, pois é o meu momento de estar com meus pensamentos, meu momento de liberdade e eu sou grata a ele por respeitar esse meu trabalho).
A rodoviária parece um shopping center - tem lojas, lanchonetes, padaria, farmácia e uma excelente livraria (uma das melhores que conheço). Em cada ponta do terminal na parte de cima há um piano (em cada ponta) para quem quiser tocar. Assim há de tudo neste local que considero mágico - mendigos que dormem lá com seus cobertores e odores, turistas de muitos cantos do país e de fora dele, pessoas em viagens de trabalho e os trabalhadores deste "shopping". Com o tempo fui me aclimatando com esse lugar e hoje sinto-me muito bem lá.
Para mim, a cada mês que passa, percebo essa rodoviária como "um lugar mágico" - as pessoas que encontro, que converso, que conheço são criaturas interessantes - como sou psicóloga, embora ninguém o saiba, o magnetismo natural da vida faz com que a maioria acabe se abrindo comigo e eu acabo realizando um trabalho de escuta, de caridade, onde todos saem ganhando - eles por visualizarem outras ideias para sua problemática e eu sentindo um grande prazer interior por ter podido ajudar. Não existe maior satisfação na vida do que ajudar alguém incondicionalmente. Quem já fez isso sabe o que quero dizer.
Contudo vocês poderiam se perguntar: "Mas não acontece nada de ruim, de mal nessas jornadas mensais?" Claro que vez ou outra ocorrem situações desagradáveis, mas elas não valem a pena comentar meticulosamente, tal como, por exemplo, pessoas que conversam durante toda a madrugada no ônibus - eu pego o ônibus nesse período por entender que todos irão dormir ou pelo menos terão respeito com outros que desejem fazê-lo - mas não é bem assim. No início até me irritava, hoje coloco meus protetores auditivos de silicone e relaxo.
Hoje, contarei apenas uma situação que me deixou feliz por ter ajudado uma pessoa. Numa ocasião, sentada na rodoviária lendo o jornal no celular, um senhor se aproximou e perguntou se eu poderia ligar do meu celular para a esposa dele, avisando que ele não poderia ir para casa. Então perguntei o porquê e ele disse que havia gastado o dinheiro da passagem do ônibus com bebida e não tinha como ir para casa. Questionei onde ele morava e ele me disse que era um município de São Paulo, até que perto, não me lembro o nome da cidade. Então perguntei à ele se não era melhor eu comprar a passagem para ele, ao invés de ele ligar para a esposa. Os olhos dele se iluminaram e ele perguntou perplexo se eu faria isso. Eu levantei e disse para ele me levar até aonde era o guichê de seu ônibus. Fomos até lá, comprei a passagem (era mais ou menos uns vinte reais); aí perguntei se ele não queria comer algo e ele aceitou - paguei um sanduíche e um café com leite - nesse interim ele me contou que era metalúrgico (como meu pai o foi) e minha mãe foi alcoólatra (como esse cidadão o era - gastou o dinheiro que recebera de parte do salário em bebida). Como na vida, não há coincidências, nada é por acaso, ao ajudá-lo era como se estivesse "ajudando" meus pais...
Ao final, ele me disse que eu poderia ir até a sala do embarque para provar que ele lá estaria aguardando o ônibus. Eu disse que não havia necessidade pois acreditava que ele iria realmente embarcar.
Em verdade, para mim nem me importava se ele iria ou não, pois o ajudei da melhor maneira que pude e mais que isso, senti-me grata por Deus ter me proporcionado essa possibilidade de ajudar alguém.
Eu sempre falo que o mundo está repleto de anjos - algumas vezes são pessoas que nos ajudam, aparecem quando menos se espera e outras vezes nós somos o anjo de alguém.
Há outras histórias interessantes que ocorreram em minhas "estadias"/passagens pela rodoviária de Sampa, mas ficam para outra oportunidade.
Que hoje vocês possam refletir nas circunstâncias especiais em que somos colocados pelo destino, as quais, muitas vezes, não damos o devido valor, mas que deveríamos fazê-lo - elas nos trazem paz interior e a certeza que somos colocados em situações que parecem aquém de nossa vontade, mas que fazem toda a diferença em nossa existência.
Boa semana!
Que linda missão de vida. Grata por partilhar conosco.🌷
ResponderExcluirGrata Andréa. Seu trabalho também ajuda muitos.
ExcluirGratidão pela empatia e atendimento fraterno nestes 8 anos. Emocionante.😢🙏❤️
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