quarta-feira, 12 de outubro de 2022

O MEDO

 Caros amigos,

"...o ser humano é, na verdade, um aglomerado de substância viva, uma imensa colônia celular, mas nela se observam, além das atividades próprias da vida "elementar" de cada uma de suas micro partes, outras - globais, individuais, inter e supra celulares ou pessoais - que lhe imprimem um peculiar modo de viver e comportar-se, assegurando não só sua sobrevivência no espaço e no tempo, como sua expansão e transcendência em outro plano, mais recente: o plano super pessoal ou social." Emilio Mira y López

O texto de hoje foi me sugerido por uma palestra que assisti há uns quinze dias atrás sobre o medo.  No dicionário Aurélio medo é: 1. Sentimento de viva inquietação ante a noção dum perigo real ou imaginário, de uma ameaça; susto, pavor, temor, terror. 2. Receio.

Nos dois anos da "pandemia", esse sentimento esteve presente em muitas pessoas.  Os meios de comunicação foram, em parte, responsáveis pela onda de "pânico" que se espalhou pelo planeta - as autoridades governamentais também deram sua contribuição para esse evento - entretanto, ao meu ver, a maioria das pessoas acometidas do medo foram aquelas fragilizadas por sua insegurança interior.  Além da insegurança outros fatores foram responsáveis - a falta de fé, o reconhecimento da própria finitude - não houve apenas medo de perder a vida, mas o medo de perder pais, parentes, amigos - todos estiveram frente a frente com a morte, como se ela não fosse natural, como se esse não fosse o fim de todos nós.  Porém, mesmo aqueles que estavam razoavelmente conscientes desta etapa da vida não gostariam de saber que talvez sua hora tivesse chegado - o medo juntou-se à tristeza daqueles que não queriam deixar essa existência.  Mesmo as pessoas que acreditavam/acreditam numa vida após a morte sentiram o tal do medo.

Agora que o fantasma da doença dita mortal foi afastado, a vida tenta voltar ao "normal" - mas para muitos esse normal não é mais o mesmo.  Nesses dois anos muitas perdas ocorreram - vidas, bens materiais, lares desfeitos, sequelas da epidemia, não somente devido ao contágio com a doença, mas sequelas do medo.

Atualmente existe em nosso país (mas acredito que em outros países o mesmo esteja ocorrendo) o medo de quem irá "ganhar" as eleições presidenciais - cada um, ao seu modo, luta para que seu candidato seja o vencedor e também acredita que ele trará um "novo" Brasil - mal imaginam que, se cada pessoa não fizer a sua parte na rede da sociedade, o "novo" Brasil não acontecerá.

Os dois anos do "fique em casa" tolheram a liberdade de todos mas, trouxeram a oportunidade da reflexão, da interiorização, de questões tais como "o que estou fazendo com minha vida?" "qual o meu papel em minha família, na sociedade?" "quem sou eu?" "o que gosto de fazer?" "o que não gosto de fazer?" "o que pretendo fazer do meu presente para melhorar o meu futuro?"

Assim, aqueles que aproveitaram a reclusão para essa prática, hoje se encaminham melhor para seus próprios objetivos, podendo trazer benfeitorias para si mesmos e para aqueles que vivem perto deles, podendo, em larga escala, trazer benefícios a todos.  Entretanto, existem os que ficaram na retaguarda, com medo, como que aguardando uma nova catástrofe, sem confiança no futuro, e não vivendo, apenas vegetando - com medo de viver.

Hammed em seu livro "As dores da alma" afirma: " O resultado do medo em nossas vidas será a perda do nosso poder de pensar e agir com espontaneidade." Isso ficou bastante claro durante a pandemia e hoje, aos poucos se dilui, mas devido a tal da "polarização" na área política essa característica está crescendo - hoje muitas pessoas têm receio/medo de expressarem suas preferências não somente políticas, mas preferências sobre outros aspectos da vida.

Alguém já disse "dividir para governar" é o ideal de poder de um governante - e nessa hora, sempre me pergunto: qual é a vantagem, o benefício e a dignidade de governar para cidadãos que estão eternamente em luta, em conflito? O governante sábio, para mim, é aquele que pode administrar o povo quando este está satisfeito, livre e em paz - onde cada cidadão pode crescer, evoluir, caminhando em direção aos seus objetivos, enfrentando desafios da melhor maneira possível.

Então, como sair da "zona" do medo?

O medo pode andar de mãos dadas com o desconhecido - geralmente temos medo daquilo que não conhecemos.  Nos casos citados - pandemia e resultado das eleições - até podemos dizer que são circunstâncias conhecidas.  Mira y López em seu livro "Quatro gigantes da alma" traz alguns antídotos contra o medo, ou melhor, como sair dele, livrar-se dele, uma vez que ele já se tornou parte da vida:

-identificação do objeto e causa do medo;

- seleção das armas para combatê-lo;

- analisar os motivos da vulnerabilidade à ele;

- observar deficiências de : alimentação, sono, temperatura, líquidos, repouso, lazer, etc.;

- adotar: normas de higiene, dietéticas, ginásticas, ou medicamentosas adequadas aos casos do item anterior;

-agir para aumentar a confiança em si;

- resolver, responder as perguntas: "Quem sou eu?" "Que valho?" "Quais são minhas possibilidades de ação?" ;

- decidir o que irá fazer na realidade, baseado no que lhe agrada e no que deve fazer.

Essas medidas, em minha opinião, podem ser o início de um auto tratamento para lidar com nossos medos internos.  Eu incluiria o cultivo da arte - música, dança, pintura, cinema, leitura - são práticas que nos afastam do pessimismo e nos preenchem de bem estar e espiritualidade.

Joanna de Ângelis em seu livro "Conflitos Existenciais" afirma que "A grande terapia para todos os tipos de medo é a do amor.  O amor a si mesmo, ao seu próximo e a Deus."

Transcrevo aqui sua explanação sobre esse amor a si mesmo, ao próximo e a Deus:

"A si mesmo, de forma respeitosa e racional, considerando a utilidade da existência e o que a vida espera de cada um, desde que todos somente esperam da vida a sua contribuição.  Quando diminuam ou desapareçam as doações que a vida oferece, chega o momento da retribuição, no qual é preciso que se lhe dê sustentação, harmonia para que o melhor possa acontecer em relação aos demais."

"Nesse raciocínio a doação expressa-se o amor ao próximo, mediante o qual a vida adquire sentido e o relacionamento se vitaliza; porque centrado no interesse pelo bem-estar do outro, irradia-se bondade e ternura em seu benefício, sem o propósito negocista de receber-se compensação."

"Esse intercâmbio que une as criaturas umas às outras, leva-as à afeição pela Natureza e por todas as formas vivas ou não, alcançando o excelente amor a Deus, no esforço de preservação de tudo."

Hoje, desejo a todos uma boa semana e um bom trabalho de introspecção!




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4 comentários:

  1. Gratidão amiga Sônia. O texto me trouxe belas e profundas reflexões. E me ajudou a enfrentar meus medos e inseguranças que venho sentindo.

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  2. E como saber a causa do medo????🤔

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