Caros leitores,
Hoje, reflitamos sobre a proposta de Sócrates - "conhece-te a ti mesmo" - ou seja, a transformação de nosso eu interior através da tomada de consciência de nossos sentimentos e emoções, no momento em que eles ocorrem. Essa conscientização é bastante trabalhosa, mas traz alívio de alguns sintomas físicos e psíquicos, uma paz interna, uma abertura para novos desafios e uma maior facilidade para caminhar em direção ao nosso objetivo.
Então, trago para todos um pouco do conhecimento sobre a terapia cognitiva, terapia esta que visa facilitar essa conscientização.
A terapia cognitiva visa discernir, entre suas bases, as crenças que temos em nossas vidas, nossos pensamentos automáticos sobre determinados episódios ao longo de nossa existência, e a interpretação que cada um de nós dá às experiências particulares.
A prioridade dessa terapia é a análise das crenças centrais que um indivíduo possui em sua vida, identificando suas vantagens e desvantagens, buscando modificar aquelas que são consideradas "disfuncionais". As crenças disfuncionais são aquelas, como a palavra já diz, que não "funcionam" mais em nossa vida. Podem até já ter "funcionado" no passado, mas hoje só prestam um desserviço às nossas vidas. Por exemplo, quando jovem, um indivíduo acreditava que era o pior da turma na escola e as notas assim o comprovavam. Então, ele começa a estudar e as notas começam a melhorar - se continuar com a crença de que é o pior da turma, as notas pioram novamente apesar do estudo (não há concentração na hora do estudo) - então, a ideia é mudar a crença para "estudo, aprendo e vou bem nas provas. Sou concentrado na hora de estudar".
Outro exemplo que podemos citar é o uso de alguns mecanismos de defesa usados quando ainda somos jovens e imaturos em algumas situações e que ao adquirirmos mais conhecimento e formos amadurecendo, esses mecanismos não são mais necessários, ao contrário eles impedem o crescimento.
Vale lembrar que nossas emoções e comportamentos são influenciados por nossa percepção dos eventos porque cada um percebe uma parte do evento, tendo dificuldade para abarcar o todo, assim como aquelas pessoas vendadas tinham dificuldade de perceber o elefante como um todo, quando tocavam partes diferentes dele.
Então, um dos primeiros passos para mudar hábitos, comportamentos, característicos de nossa personalidade, é fazer uma lista de metas na vida e buscar selecionar comportamentos que desejamos mudar, analisando os obstáculos que nos impedem de atingir a meta.
O próximo passo é observar emoções, pensamentos e sentimentos na vida cotidiana. Quando perceber que ocorreu algum momento desarmônico, com sensações e sentimentos desequilibrantes fazer-se a seguinte pergunta: "O que estava passando pela minha cabeça agora?" Nesse momento começa-se a identificar as crenças, ou seja, os pensamentos automáticos que ajudar a manter a sensação desagradável, seja em que nível for. Dessa maneira, monitorando-se o que se está pensando quando o humor melhora ou piora, consegue-se descobrir os pensamentos automáticos que podem estar por trás de nossas aflições, conflitos e dificuldades na vida.
Pensamentos automáticos aqui são aqueles que não ocorrem por raciocínio e deliberação - são pensamentos que surgem automaticamente, de repente e são, na maioria das vezes, breves e rápidos. Para identificá-los devemos prestar atenção às mudanças de humor que ocorrem junto com eles. Quando são identificados pode-se avaliar sua validade, e assim corrigi-los, modificando então, o humor para melhor. Os pensamentos automáticos estão relacionados às crenças que acalentamos em nossa caminhada pela vida.
Aprofundemo-nos um pouco sobre o que são crenças. Cada um de nós desde a infância desenvolve determinadas crenças sobre nós mesmos, sobre os outros e sobre o mundo que nos cerca. Elas são pré-conceitos formados, pré-organizados por nós mesmos inconscientemente, de acordo com nosso grau de maturidade e que acabam, vamos assim dizer, "filtrando" nossa comunicação com o mundo, de maneira consistente.
As crenças vêm do ambiente em que vivemos, de nossa criação, das opiniões que ouvimos todo o tempo, tipo "todo mundo faz", de acontecimentos diários, sejam grandes ou pequenos, do medo das mudanças, de um ambiente limitador, de nossa possível rigidez frente às determinadas situações, das escolhas que fazemos, etc.
Lembremo-nos de que nem todas as crenças que temos precisam ser mudadas - somente aquelas que consideramos negativas, que nos trazem tristeza, mal-estar, doenças, mau humor. Usemos de lucidez para com nossa vida e compreendamos que tudo depende de como olhamos para os fatos, para as coisas. A nossa realidade é a realidade que criamos.
Se todos nós representamos os fatos da vida de acordo com nosso olhar ("A beleza está nos olhos de quem vê."), eles são positivos ou negativos porque nós os assim criamos. Então é simples - quando acreditamos em coisas e situações negativas estaremos nos envenenando. Temos que arcar com essa responsabilidade de estarmos criando esses estados de espírito.
Entretanto, tomemos o devido cuidado para não evitar o mal estar após termos consciência de uma sensação desagradável quando dizemos: "Não devo sentir isso". A ideia não é afastar a sensação, mas sim perguntarmo-nos "O que realmente estou sentindo? Por quê?" A primeira pergunta diz respeito à verdadeira percepção da sensação em si. A segunda pergunta é tentar compreender qual é o verdadeiro sentimento por detrás da sensação.
O entendimento de nossos sentimentos nos leva a um maior grau de liberdade, de livre escolha, pois podemos sempre escolher aquilo que nos traz bem estar, equilíbrio, harmonia. Existem fatos, é claro, que não dependem de nós e que podem nos trazer tristeza. Por exemplo, o falecimento de uma pessoa querida.
O autoconhecimento nos permite identificar sensações do ambiente que nos cerca e separar o que é nosso daquilo que é do ambiente ou do outro. A ideia é reconhecer as raízes de nossas reações emocionais e perceber as energias que chegam a nosso campo sensorial, energias essas que não são nossas. A pessoa autoconsciente sabe que é suscetível às sensações refrescantes e agradáveis, ou àquelas atmosferas de calor sufocante ou mal estar quando alguém dela se aproxima. Ela deve saber separar "o joio do trigo". Se há motivos para a tristeza, como a morte de alguém, então a mesma se fará presente.
Indivíduos que não se conhecem, não exercitam sua percepção como instrumento de transformação íntima, são como ecos do mundo, pois "estão na Terra à mercê de tudo o que os rodeia. Estão envolvidos, inconscientemente, por coisas, pessoas, situações e fatos, como folhas perdidas ao vento na imensidão de uma planície."
Cada um de nós deve assumir o comando da própria personalidade para caminhar com autenticidade pela vida. O exercício constante para o conhecimento de nossas próprias sensações e sentimentos nos liberta de nossas características negativas.
"Se nós não conhecemos o elemento responsável pelos nossos conflitos, como poderemos nos livrar deles?"
Para finalizar, proponho uma lista de "tarefas de casa":
- Monitorar pensamentos automáticos;
- Ter um registro dos pensamentos automáticos;
- Mudar crenças;
- Testar comportamentos novos;
- Testar pensamentos novos;
- Mudar o foco da vida, conscientemente;
- Criar novas representações para colher novos resultados.
Compreendamos que as pessoas que fazem as "tarefas de casa" e que prestam atenção em si mesmas são as que mais progridem.
Alguém disse:
"Se você fizer o que sempre fez, conseguirá o que sempre conseguiu."
Boa semana!
Lista de "tarefas de casa"👍 já faço algumas.😊
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