Olá leitores,
Hoje falaremos sobre a clareza de pensamento - as palavras já o dizem - a pessoa tem os pensamentos claros, tudo flui, ela é simples, todos a compreendem, ela fala pouco e o pouco que fala é compreendido por todos e todos podem usufruir de seus pensamentos - enfim ela é autêntica, clara, verdadeira. Não confundir aqui a pessoa verdadeira com a verdade. A pessoa verdadeira é aquela que diz o que pensa, que é coerente com seus princípios, mas que pode estar equivocada quanto à verdade em algumas circunstâncias.
Um pensador, Hammed, afirma que clareza de pensamento é uma característica das pessoas que tratam as "coisas simples com a merecida importância e as coisas importantes com a devida simplicidade". Parece difícil de entender, não é mesmo? Então vamos destrinchar essa ideia. Vamos buscar um exemplo.
Imaginemos uma pessoa que possua um alto cargo numa empresa e suponhamos que essa pessoa possua a característica da clareza de pensamento. Então, ela tem na casa dela um jardim, onde ela cuida dele com grande importância, ou seja, rega três vezes por semana se não há chuva, separa um dia por mês para aparar a grama, podar as árvores, arbustos e flores, coloca adubo e vitaminas onde for necessário e quando pode e o tempo está bom, senta-se no banco do jardim para meditar, ler, admirar seu jardim e os pássaros - essa pessoa trata as coisas simples (o jardim) com importância. No trabalho junto à empresa, essa pessoa trabalha com afinco, seriedade, disciplina, delega tarefas que não necessitam de sua presença, explicando/ensinando o que devem fazer. Quando surgem contratempos, contrariedades, enfim problemas a resolver, ela os resolve com simplicidade, calma, paciência, sabendo que tudo se resolverá a seu tempo. Ela trata as coisas importantes com simplicidade.
Aqui podemos ter ideias diferentes - a importância de cada coisa somos nós que nomeamos e esta história em realidade poderia estar invertida, ou seja, o jardim não seria mais importante que o trabalho na empresa? Embora saibamos que tudo muda, que nada é permanente, será que o jardim não é mais durável/permanente que a empresa? Ou será o contrário? Bem, é óbvio que depende da importância que damos a um e outro e, dependendo dessa importância, aquele que eu cuidar melhor durará mais/estará em melhores condições, certo?
Bem, este é um exemplo prático que não traz nuances mais detalhadas sobre a vida desse indivíduo - falamos apenas de duas facetas de sua vida. Na realidade ele parece uma pessoa perfeita, mas não se falou se tinha problemas com a família, com os filhos, com os amigos, com sua saúde, etc.
Agora tentemos mesclar essas duas características, a da pessoa autêntica com a da pessoa que trata as coisas simples com importância e as coisas importantes com simplicidade. Imaginemos então uma pessoa ideal, que coloca as coisas nos seus devidos lugares, tolerante, paciente, possuidora de uma fé construtiva, enfim uma pessoa praticamente quase sem defeitos, buscando fazer o melhor que pode em todas as circunstâncias e que mais que tudo, sabedora de que está no mundo para aprender, ensinar, trocar vivências com seus semelhantes e buscar uma melhoria de si mesma. Essa pessoa não seria a união dessas duas características citadas no início do parágrafo?
Blaise Pascal, escritor francês, matemático, filosofo do século XVII afirma o seguinte: "A eloquência é a arte de dizer as coisas de tal maneira que aqueles a quem se fala possam entendê-las sem esforço, cansaço, nem dificuldade, antes com interesse e prazer suficientes para que o amor-próprio os leve de boa vontade a refletir sobre elas."
Na psicologia há um mecanismo de defesa chamado compensação - este leva o indivíduo a desenvolver certas atitudes para suprir suas supostas deficiências. Daryl Sharp em seu livro "Léxico Junguiano", afirma que a compensação é um processo natural para estabelecer ou manter o equilíbrio dentro da psique. Muitas pessoas acreditam que para expressarem qualquer tipo de mensagens, tanto na fala como na escrita precisam usar frases empoladas juntamente com pomposo conhecimento ou literatura exibicionista. Será que talvez estas pessoas não estejam compensando seu sentimento de baixa estima? Talvez elas achem que se falarem ou escreverem de maneira mais difícil elas serão mais aprovadas pelos outros.
Para resumir os dados de hoje sobre a clareza de pensamento, pode-se dizer que "o segredo da libertação de todos os males está na autodescoberta e na aceitação de si mesmo." Não devemos evitar olhar para nossas imperfeições, achando que se não as percebemos elas nos abandonarão. Ao contrário, quando não as percebemos, elas dirigem a nossa vida e até podemos viver satisfatoriamente, mas esta satisfação será temporária e precária. Olhando para elas de frente, não necessitaremos compensá-las, ou até projetá-las nas pessoas e na coisas.
Ao agir autenticamente, nossa vida fica ao nosso alcance no âmbito consciente e assim podemos transformar nossas deficiências em atitudes positivas. Quanto mais mudamos interiormente de maneira positiva, mais crescemos. Conforme vamos crescendo e amadurecendo espiritualmente, nossos pensamentos vão se tornando mais claros, mais simples, buscando importância nas situações, coisas e pessoas em nosso dia-a-dia. Para que nossas deficiências sejam mudadas/transformadas, elas necessitam antes de tudo, serem corajosamente aceitas e entendidas.
Hoje se falou na clareza de pensamento através da maneira como nos comunicamos. Ela também é passível de análise. Perguntemo-nos: somos claros ao expor um problema? Ou somos prolixos, nos perdendo na fala e nosso interlocutor também fica perdido? Falamos com doçura, calmamente, com voz no tom adequado ao local da comunicação? Ou falamos com pressa, comendo letras e palavras, ou até aos gritos, achando que os outros não nos entendem? O nosso modo de comunicação condiz com nosso íntimo. Uma das maneiras de suavizar nossa vida interior é aprender a falar com clareza, calma, com vagar, paciência. Ou então, no caminho do crescimento aprendamos a ouvir primeiramente para depois falarmos melhor. Pensemos nisso!
Boa semana!
Bom senso em tudo e com todos. Ouvir e ouvir-se.
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