domingo, 21 de maio de 2023

ESTILO DE PERSONALIDADE

Caros leitores,

Hoje, primordialmente, discorrerei sobre o tema Personalidade. No dicionário Aurélio, personalidade é: 1. Caráter ou qualidade do que é pessoal; 2. O que determina a individualidade duma pessoa moral; 3. O elemento "estável" (o grifo é meu) da conduta duma pessoa; seu modo habitual de ser, o que a distingue de outra; 4. Traços típicos; originalidade.  Embora uma das definições coloque personalidade como elemento "estável" acredito que, em realidade, não é bem assim.

Na minha opinião, a personalidade de um indivíduo tende a transformar-se no decorrer da existência.

Para Jung, criador da psicologia analítica, a Personalidade é "a realização máxima da índole inata e específica de um ser vivo em particular.  Personalidade é a obra a que se chega pela máxima coragem de viver, pela afirmação absoluta do ser individual, e pela adaptação, a mais perfeita possível, a tudo o que existe de universal, e tudo isso aliado à máxima liberdade de decisão própria."

Quando crianças temos como que um período onde, por observação (através dos cinco sentidos, ou até pelo sexto sentido, a sensibilidade natural do ser humano), vamos apreendendo novas aquisições para nossa personalidade.

Observamos pais, irmãos, parentes, professores, amigos; também imitamos algumas de suas atitudes para melhor nos adequarmos à  vida que se descortina, ou até mesmo para sermos aceitos como parte dessa  realidade.  Mais tarde, na adolescência começamos a tentativa de compreensão e de triagem daquilo que somos com aquilo que queremos ser.  E é na fase madura, adulta, que nossa personalidade se solidifica.  Mas, isto não quer dizer que não mais nos transformaremos até o fim da existência; apenas quer dizer que essa transformação poderá ser mais trabalhosa, dependendo das características de nossa personalidade  (flexibilidade, orgulho [teimosia], crença, rigidez, etc.).

Bem, voltemos agora nosso olhar à fase infantil.  Jung considera que "a psicologia  dos pais e educadores é de importância decisiva no processo de crescimento e do amadurecimento da criança,..." Muitos pais acreditam que a criança deva ser direcionada à força para determinadas atividades.  Assim, a criança de hoje tem uma agenda atribulada - escola, lição de casa, balé, inglês/idioma, esportes, instrumento musical, informática, etc.  Alguns creem que se devam oferecer todas as alternativas e então a criança poderá escolher aquilo que quiser; outros creem que se ela não tiver todas essas atividades, ela estará se atrasando ou se desatualizando em relação às outras crianças.

Pais têm a importante tarefa de conduzir filhos nesta vida em direção ao seu crescimento pessoal/espiritual.  Para esta empreitada eles devem usar de todos os meios para observar, compreender, ajudar, ensinar seus filhos.  Entretanto, devem fazer isso dando liberdade para que seus filhos possam dar os primeiros passos - a ideia é ajudá-los a andar e não andar por eles, ou até mesmo querer que eles andem por cima dos pés paternos/maternos.  Jung afirma que "a personalidade jamais poderá desenvolver-se se a pessoa não escolher seu próprio caminho, de maneira consciente e por uma decisão consciente e moral."

Como pais e adultos já temos noção do que é bom para nossos filhos, mas há pais que são por demais severos, onde sua autoridade é exercida sobre os filhos de forma tirânica.  Devemos dosar nossas atitudes para com os pequeninos, usando de bom senso.  Também há pais que, ao contrário, relaxam essa vigilância acreditando que a criança tem capacidade total para escolher ou fazer o que bem entender - e então essa criança poderá, no futuro, sentir-se abandonada, rejeitada.  Temos que seguir o caminho do meio.

Num jogo de tentativa e erro a criança observa, tenta copiar, muitas vezes se engana, se confunde, tenta novamente até conseguir.  Ela erra, mas aprende.  Pais são necessários nestes momentos de erro - podem emitir opiniões, sugestões, oferecer auxilio.  Os pequeninos aprendem a viver neste mundo, também através da manipulação, - apalpar, pegar, mexer, reconstruir, desfazer, etc.  E é neste rol de atividades que eles compreendem, memorizam, selecionam e raciocinam.  Foi assim que todos nós aprendemos até chegar aqui.

Assim, no caminhar da criança são muito úteis, o elogio ou o aplauso como estímulos para o seu crescimento tendo cuidado nos exageros, para não criar um adulto com valorização ilimitada e confiança exagerada em seus potenciais internos.  Claro que um elogio merecido e sincero realça o valor do que foi feito e também encoraja a dedicação e a força de vontade na realização do ato.  Crianças que foram educadas à base de medo, ameaças e  coerção têm em  seus futuros uma existência social desastrosa.

Hammed, um pensador,  afirma que adultos que possuem um "estilo de personalidade" baseado na insegurança, com ares de "nunca estar agradando ou satisfazendo" tiveram pais autoritários, tirânicos, muito exigentes e severos, causando sensação de inferioridade no ambiente familiar.  Esses indivíduos possuem, inconscientemente, uma sensação inexplicável de inadequação e submissão, uma mentalidade medrosa e acanhada.  Vivem na dependência do que os outros pensam deles e buscam elogios e a aprovação que não tiveram quando crianças.  Eles possuem baixa autoestima, não têm confiança em si mesmos e com isso outros têm o controle sobre eles.  Assim, precisam muito da aprovação dos outros para compensar as carências de seu mundo interno.  Para resumir, Hammed afirma que "o adulto que vivenciou na infância um regime de disciplina severa e de insuportável prepotência por parte de parentes pode desenvolver uma personalidade de "excessiva solicitude", zelo e cuidado, buscando constante aprovação dos outros." Por outro lado, Jung afirma que "Alguém que se baseia num relacionamento positivo com os pais encontrará pouca ou nenhuma dificuldade em relacionar-se com o outro;..."

Tomemos como exemplo a criança birrenta ou chorona que é assim para suprir sua necessidade de carinho e atenção.  Ao tornar-se adulta, se ela continuar a manipular os outros para conseguir zelos e cuidados, poderá estar fazendo um desserviço à sua própria evolução, pois estará fazendo uso de uma maneira inadequada de se relacionar.  Os princípios vitais de qualquer relação humana, ou seja, a espontaneidade e a sinceridade estarão sendo deixados de lado.  A manipulação pode ter sido útil em alguns momentos de sua vida, mas ao crescer, essa atitude não só lhe causará desencontros, falsidade, raiva e frustração no convívio com os outros, como também impedi-la de encontrar maneiras saudáveis e maduras de convivência.

Bem, parece que deu para ter uma ideia de estilos de personalidade diferenciados.  Muitas atitudes nos foram formadas a partir da infância e de nosso relacionamento com outras pessoas, entretanto, sempre podemos realizar modificações em nossos comportamentos e concomitantemente em nossa personalidade, uma vez que nos conscientizarmos que determinadas atitudes não nos fazem bem.  Nesse quesito o autoconhecimento é imprescindível. 

Boa reflexão!



 







 

Um comentário:

  1. Gostei dos termos "coragem" e "adaptação" na definição de personalidade de Jung. Fomos rigorosos com nossa menina quando criança. Principalmente meu marido.😶

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