quarta-feira, 26 de julho de 2023

SOMBRA E PROJEÇÃO

Olá leitores,

Hoje discutirei alguns temas psicológicos. Usarei o termo sombra criado por Jung e o termo projeção criado por Freud que também é usado por Jung.

Então sombra, em termos junguianos, é "arquétipo que representa o lado escuro, inferior e primitivo em todos nós, ainda não desenvolvido.  Inclui nossas características desagradáveis, o lado negativo, nossos defeitos e tudo aquilo que desejamos esconder.  Dela fazem parte também as qualidades da personalidade que, por alguma razão, não puderam desenvolver-se."

Como podemos notar a sombra não é algo puramente negativo, é apenas algo que não vemos porque está no escuro, na sombra.  Basta jogar luz para que possamos enxergar melhor.  Ou seja, como Hammed, um pensador, afirmou - denomina-se sombra "tudo aquilo que somos, mas ignoramos ser."

Quando radicalmente escolhemos, ou melhor, vemos só um lado de uma situação, de uma pessoa, de um sentimento, de uma emoção, etc., isso significa que o outro lado está na sombra.  Assim como o planeta Terra que, por causa de seu movimento de rotação, uma parte está iluminada pelo sol (dia) enquanto outra parte está no escuro (noite), não está iluminada pelo sol.

Somente quando aceitarmos nosso lado obscuro, nossa sombra, conseguiremos nos compreender como seres inteiros.  Ressaltamos que nesse processo de integração, a sombra deve ser reconhecida pouco a pouco, em nível consciente, do contrário, em nível inconsciente, ela poderá ser desencadeada para fora de modo descontrolado, pois tudo o que ignoramos e reprimimos é revivido num processo de projeção.

A projeção é uma das muitas defesas do ego. Ela ocorre quando nos recusamos a aceitar, ou a ver o que está dentro de nós. Quanto mais forte nosso comportamento de censura e descontentamento por determinado acontecimento ou hábito, maior probabilidade de ser uma projeção. Tudo aquilo que não podemos aceitar em nós, criticamos ou reprovamos nos outros, isto é, projetamos nos outros.

Outras pessoas até podem "penetrar" em nós, isto é, nos influenciar, mas isso só ocorre quando também temos dentro de nós o "material" que nos está sendo influenciado.  Para melhor compreendermos, imaginemos um acontecimento que presenciamos que nos deixou com raiva ou cólera - nossa raiva incontrolável, de dimensões exageradas só ocorre porque em nosso interior há alguma emoção e/ou sentimento não trabalhado que necessita ser trazido à luz - este está na sombra.  Então, nesse acontecimento há algo que saiu de nós e não apenas algo que desejava nos influenciar, "penetrar". De nós, saiu raiva.

Se, neste acontecimento citado, nada sentíssemos, se tentaram nos influenciar mas não conseguiram, é porque as emoções ou os sentimentos pertinentes à situação já estão em harmonia e nós não sentiríamos a tal raiva.  Atentem para o detalhe de que algumas situações e/ou pessoas nos perturbam, mas não perturbam a outros e vice-e-versa. Neste contexto se encontra a dica para nosso melhoramento.

Já foi dito em outros textos, mas repetimos que, só conseguimos transformar aquilo que aceitamos e enxergamos claramente em nós mesmos, assim como o lixo no rio só pode ser limpo e eliminado quando este flutuar até a tona - antes disso o lixo continua no rio e, o rio continua poluído e impróprio para o uso.

A melhor maneira de entrarmos em contato com nossas dificuldades e fragilidades existenciais é na auto-observação dos fatos do cotidiano.

Vigiemos nossos atos, ouçamos nossas palavras, focalizemos nossas emoções e sentimentos - nessas ações se encontram muitas soluções para nossas dificuldades. Este é um caminho explícito, onde projeto meu interior no meio externo e, através da visão desta projeção, posso perceber o que preciso modificar.

Outro caminho é o implícito, onde percebo minha reação negativa, desarmônica perante um fato ou pessoa e não projeto meu interior no meio externo, apenas entro em contato com esse mal-estar e busco compreender o porquê dele.  Não há projeção direta no ambiente externo, mas há um desconforto interno e posso me perguntar: por que estou sentindo o que estou sentindo? Por que essa atitude ou essa pessoa me deixa desconfortável, desarmônica? 

Pessoas que não reconhecem a interconexão entre os fatos que ocorrem ao seu derredor e os próprios sentimentos afirmam que "pegaram" uma vibração negativa, ou porque estavam com uma pessoa com hábitos negativos, ficaram assim por causa do contato com ela.  Claro está que a convivência com pessoas negativas ou ambientes pesados pode trazer desconforto para nosso corpo e alma. Entretanto, quanto mais nos conhecemos e nos vigiamos, menos "cargas" negativas "pegamos".  O truque aqui é a autoconsciência.  Quando nossa vida é pautada pela consciência, temos mais segurança e controle do que a vida vivida inconscientemente. A pessoa consciente aceita total responsabilidade por tudo o que acontece em sua vida e constrói um mundo melhor para si próprio e para todos com os quais ela interage.

E, para concluir esse assunto, ninguém "pega" energias negativas, nocivas ou atrai pessoas infelizes por acaso.  A vida não é injusta embora muitos a vejam assim.  Todos nós temos o que merecemos, tanto negativo quanto positivamente.  Ninguém é uma vítima impotente vivendo uma existência impiedosa.

Quando rejeitamos um sentimento que aparece em nós, não quer dizer apenas que, pelo fato de nos conscientizarmos dele, ele irá desaparecer - apenas de que precisamos lutar, trabalhar para compreendê-lo perguntando-nos o "por que" e "para quê" ele existe, para depois transformá-lo num bem estar.

Toda pessoa que não vê a sua sombra, vive na infância espiritual.  Continua utilizando mal sua capacidade energética e atraindo impurezas dos ambientes.  Realiza inconscientemente e naturalmente uma "sucção fluídica" absorvendo e recolhendo emanações deletérias das pessoas e dos lugares.

Em nossa vida cotidiana todos nós necessitamos de momentos de silêncio, meditação e reflexão para estarmos conosco mesmos.  

Façamos agora um breve exercício de conscientização: "Visualizemos alguém ou alguma situação de que realmente não gostamos.  Deixemo-nos envolver pela emoção que sentimos em relação a tudo isso.  A partir daí, entremos em contato com essa sensação e/ou mensagem.  Essa comunicação poderá ser a "ponte elucidativa" entre algo que não aceitamos em nós mesmos e aquilo que se encontra submerso em nosso lado "sombra".

Para terminar o texto de hoje, reflitamos sobre a defesa através da auto responsabilidade.  Frente a influências negativas não mais nos imaginemos vítimas ou mártires, mas nos perguntemos: "Como posso transformar essa situação? Como desenvolver minhas potencialidades? Onde está o ponto de deficiência que eu preciso mudar? O que posso fazer para ter maior equilíbrio na vida?"

Boa semana!







  

 

sábado, 22 de julho de 2023

CHUVA CALMANTE

Caros amigos,

Meu marido e eu resolvemos tirar uma semana de férias em Peruíbe, litoral de São Paulo.  Queríamos descansar a mente e ao mesmo tempo visitar uma amiga que mora nessa cidade.  Essa amiga foi amiga de infância dos tempos da patinação. Depois de 45 anos de separação, após eu tê-la descoberto num grupo de amigos em comum, nos reencontramos.  Foi bem interessante e emocionante.  Ela só pode nos ver por poucas horas numa cafeteria, pois sua mãe estava internada num hospital em outra cidade que distava 50 minutos de Peruíbe e ela precisava ficar com a mãe.

Ficamos três dias inteiros na cidade.  Chegamos numa segunda feira à tarde, fomos ver o mar e como é inverno o vento estava gelado. E fomos embora na sexta feira pela manhã.  Então como eu mencionei, ficamos terça, quarta e quinta na cidade e caminhamos todos os três dias embaixo de chuva intermitente.  Sim, praticamente entramos sob algum telhado quando fomos almoçar, e tomar o lanche da tarde.  De resto, caminhando sob a chuva.  Por incrível que pareça não nos aborrecemos, ao contrário, houve um determinado momento que percebemos que não tinha outro jeito e até achamos graça nisso.  Afinal de contas, você vai para uma cidade que você não conhece e porque chove você fica dentro do hotel?

Infelizmente, a cidade não tinha realmente muitos atrativos.  O Aquário estava em reforma e portanto, fechado.  Havia um grupo de ruínas, as ruínas do Abarebebê, ruínas de igreja do tempo dos jesuítas.  Mas também estavam fechadas por não ter guia turístico, de acordo com informação do centro turístico de lá.  Pasmem, 70 mil habitantes da cidade e não há uma única livraria!  Nós como ratos de sebo ou livrarias, nos sentimos abandonados...

No último dia descobrimos a biblioteca municipal e lá ficamos a tarde inteira lendo. E, por incrível que pareça, embora não tendo uma livraria, a biblioteca era bem servida e organizada, com títulos incríveis.  Ah se tivéssemos descoberto essa jóia antes... 

Para finalizar, em minha opinião, o ponto alto desta viagem, além do encontro com minha amiga, foi ver de perto uma fragata.  Fragata pássaro e não fragata embarcação.  Perto do porto, num braço de rio, elas desciam em busca de peixes.  Fiquei maravilhada.  Nunca tinha visto de perto essa ave, só voando bem alto no céu. Ela, ao contrário das gaivotas que tem a cor clara, ela é bem escura e suas asas voando lembram um pterodátilo. 

Na viagem de volta, conversamos sobre nossa viagem e concluímos que a chuva nos acalmou e nos deixou relaxados.  O objetivo da viagem foi alcançado.  Voltamos tranquilos para começar nossas atividades novamente com um pique melhor.

Vocês já estiveram numa situação semelhante, com relação à chuva? Conte sua aventura.

Boa semana!




quarta-feira, 12 de julho de 2023

"UM HOMEM CHAMADO OTTO"

Olá leitores amigos,

"Um homem chamado Otto" - este é o nome original do filme americano, que no Brasil foi traduzido erroneamente como "O pior vizinho do mundo".  Ele é estrelado por Tom Hanks e assisti no canal HBO Max.

Quando me refiro a ele como "erroneamente" não é apenas porque sua tradução não é esta, está incorreta mesmo, mas porque na minha opinião, ele não era o pior vizinho do mundo.  Ao contrário, ajudava a todos do condomínio onde morava, embora com um acentuado mau humor.

À primeira vista podemos até concordar que ele era bem desagradável, intolerante e buscava ao máximo não ter contato com ninguém - inclusive tentou o suicídio várias vezes sem sucesso - no início não sabíamos porque ele era desse jeito e nem porque tentava se matar; poderíamos até pensar: "ele se aposentou e agora sente-se inútil" como acontece com muitas pessoas nessa fase.

Então aparecem novos vizinhos - uma mexicana casada com um americano com dois filhos pequenos e estava grávida.  Por intermédio dela e de sua insistência em conhecer melhor a Otto, nós ficamos sabendo o motivo do desgosto dele pela vida. (Não darei spoiler nessa parte; vejam o filme e descubram por si só).

Aos poucos Otto vai se abrindo e melhorando seu humor.  Ele tinha soluções simples para problemas práticos que hoje em dia muitas pessoas consideram difíceis - era como hoje chamamos "marido de aluguel".  Ele auxilia Marisol, a dona de casa mexicana, a dirigir e ela o ensina a ser mais amável/gentil.

Em minha opinião é um bom filme e nos traz o ensinamento do não julgamento.  Muitas vezes não sabemos porque uma pessoa age de maneira rude ou até porque ela é arredia ou mal humorada e muitas vezes também nem queremos saber o motivo - apenas criticamos porque nos traz mal estar.  Entretanto quando conhecemos os motivos que levam alguém a ser o que é, podemos mudar de atitude.  Não importa, se nós, no lugar daquela pessoa com um problema similar, faríamos diferente.  O que importa é que cada um age conforme sua bagagem interna e nossa atitude deve ser a da tolerância, compreensão e até de compaixão.

Se puderem assistam o filme - traz uma ótima oportunidade para reflexão.  Uma pessoa mal humorada, arredia, intolerante não necessariamente é uma má pessoa; dentro dela há um pedra que pode ser transformada em diamante, uma vez que a compreendamos e a ajudemos a lapidar essa pedra.

Boa semana!

P.S.: Amo gatos, como muitos de vocês sabem, e nesse filme há um gato - um grande coadjuvante que traz bons momentos à história.


 


sexta-feira, 7 de julho de 2023

PERSONALIDADE PERFECCIONISTA

Caros leitores,

De acordo com o dicionário Webster's, perfectionism, perfeccionismo é a teoria da perfectibilidade moral do homem, mas em termos psicológicos é, grosso modo, mania de perfeição.

Antes de qualquer coisa, observemos uma atitude perfeccionista: a criatura tende a pautar a sua vida como se nunca errasse, onde tudo o que faz acha perfeito, e, se, numa determinada situação, algo sai de seu controle e dá errado (de acordo com o conceito dessa pessoa de certo e errado), há uma frustração, um grande desgaste, como se o mundo desabasse e tudo fosse por água abaixo - o perfeccionista se acha um zero à esquerda neste momento, não conseguindo perdoar-se, colocando toda a atenção no erro, não se permitindo o relaxamento, o respirar profundo, o aprendizado.  Quando se é uma criatura perfeccionista perde-se muitas oportunidades de aprendizado, de crescimento - tudo impedido pelo orgulho - pelo perfeccionismo.

Aqui cabe falarmos de outras características de personalidade faltantes num perfeccionista: a paciência, a tolerância, a aceitação.  Contudo, ele tem de sobra rigidez, o temor à crítica, o autocontrole exagerado, a perda da autenticidade.

Na natureza há um tempo determinado para cada coisa na vida.  Antes de nascerem os frutos, nascem as flores; para a borboleta voar ela necessita um tempo na crisálida; para que o pão se torne um alimento para nós, é necessário que o trigo morra.  A árvore frondosa, altíssima (o pinheiro do Paraná, a araucária, por exemplo) já foi uma pequena semente (a da araucária é o pinhão) - toda a transformação na natureza não é imediata - cada organismo precisa de um tempo específico para crescer e, com o ser humano isso não pode ser diferente.

Para que nosso crescimento flua naturalmente, precisamos estar em equilíbrio com o processo da existência - só assim podemos liberar nossas potencialidades.

O perfeccionismo é uma aspiração irreal, torturante, obstinada enquanto que o crescimento se dá através de um desencadear de situações espontâneas e inerentes à vida humana.

O "fluir com a vida" é a virtude daquele que tem a noção das leis divinas - ele aceita a sua vida como é e faz mudanças paulatinas em seu comportamento para sentir-se melhor, mais pacífico.  O perfeccionista é imaturo espiritualmente, pois se aceita infalível, possui comportamento de teimosia perante as situações e exige resultados e atitudes imediatistas.

O crescimento é um mecanismo gradual - por exemplo, no aprendizado do violino, há que se terem, da parte do aprendiz, exercícios constantes das notas musicais - depois quando este já está hábil para executar os acordes, os mesmos só se tornam cada vez mais melodiosos à medida que o aprendizado cresce; mas, o perfeccionista busca efeitos imediatos.

Observemos a harmonia da divina providência - na primavera um pomar apresenta flores, e os frutos só serão oferecidos no verão.  Com a chegada do outono, as folhas caem - durante o inverno as mesmas folhas se desintegram enriquecendo o solo, transformando-se em fertilizantes, os quais irão trazer vitalidade para a árvore para a próxima primavera.  A natureza não precisa do homem para realizar essa evolução - ela obedece as leis divinas.  Se fizéssemos o mesmo nossa harmonia seria completa.  Diferenciamo-nos da natureza no quesito livre arbítrio.  O mérito e a felicidade se encontram nas nossas escolhas - somos felizes quando escolhemos a harmonia e infelizes se escolhemos o contrário.  Nossas escolhas nos tornam criaturas únicas - cada um de nós possui uma personalidade inigualável - somos todos diferentes por causa de nosso livre arbítrio, mas somos todos iguais aos olhos do Criador que nos dá as mesmas oportunidades e nós as abraçamos quando estamos sintonizados com suas leis - depende de nós esta sintonia.

As pessoas que tem a característica do perfeccionismo em suas vidas acreditam que admitir um erro é um sinal de fraqueza - erros fazem parte da condição humana.  Em verdade, quando admitimos que somos vulneráveis afastamos a tensão de ter que saber ou conhecer tudo.  O perfeccionismo nos coloca num estado de inquietação e ansiedade - e, por causa disso, acabamos cometendo mais erros do que o normal.  Ele também impede a reflexão porque para refletir precisamos de um clima interior calmo, tranquilo, relaxante e, se tenho que "mostrar serviço" todo o tempo, como refletir? Até a ideia de errar traz pânico.

A má notícia é que o perfeccionista não é somente assim consigo próprio, mas também com os outros.  "Afinal de contas, se tenho que ser perfeito, o outro também não tem que o ser?" Neste momento, também o perfeccionista se transforma num "disciplinador intransigente", num "reformador inflexível".

Então, você se considera perfeccionista? Reflita.

Boa semana!





 

VISITA A SÃO PAULO

Caros leitores, Este ano, em nossa ida para Sampa para visitar amigos que lá deixamos, visitamos 15 pessoas.  O ano passado ficamos 6 dias e...