Caros leitores,
No texto de hoje discutiremos e analisaremos as contradições de ideias, palavras escritas e/ou faladas, percepções/sensações, pensamentos. Vivemos num mundo de contradições - este é um fato. Seria este um dos motivos para tantas dissensões, discórdias, males entendidos no nosso dia-a-dia? Façamos uma breve reflexão sobre o nosso cotidiano e nos perguntemos por qual motivo rejeitamos certas ideias, pensamentos de forma categórica e imediata e aceitamos facilmente outras. Por que há tantas ideias e/ou interpretações discordantes? Perguntemo-nos por qual motivo muitas vezes somos impedidos de ouvir o que os outros têm a partilhar. Talvez existam bloqueios psicológicos que temos e que nos dificultam o entendimento do que a outra pessoa quer dizer.
Se pensássemos mais intensamente sobre as respostas a essas questões talvez pudéssemos entender o mundo das contradições em que vivemos.
A maioria de nós tem a tendência a analisar o outro sem analisar-se a si próprio - em realidade, "analisamos" o outro baseado em nossas convicções internas, baseado em nossas vivências, em suma, analiso o outro tendo por base o meu grau de evolução - quanto mais adiantada moralmente a criatura, menos ela analisa o seu semelhante, ao contrário, ela o compreende e o respeita em suas convicções.
O primeiro passo é o nosso de sempre AUTOCONHECIMENTO. Ao ouvir o outro e me perceber nesse intento já estou realizando o exercício do autoconhecimento. Quando ouvimos uma pessoa, seja numa palestra, numa entrevista, numa discussão entre amigos, ou até, apenas num diálogo, prestamos atenção àquilo que consideramos mais importante para nós naquele momento, o nosso real interesse no assunto em questão.
Por exemplo, se não simpatizo com determinada figura pública e, ao assistir uma entrevista ou até uma fala sua num meio de comunicação, seja falada ou escrita, procuro inconscientemente uma ideia da qual não concordo para confirmar a minha antipatia por ela - se não me "desarmar" em minha atitude, não encontrarei nessa pessoa nada de bom, e eu acredito que todos têm algo de bom.
Então, no exercício do autoconhecimento, ao interagir com outras pessoas, também posso atentar para meu interior, meus interesses, minhas atitudes, meu comportamento no momento da interação.
As contradições existem exatamente porque todas as pessoas são diferentes, com diferentes graus de entendimento.
A comunicação entre duas pessoas não é tão fácil assim. A comunicação será boa, ou melhor, satisfatória se ambas se dispuserem a ouvir, a se imbuir de boa vontade para tal interação. A comunicação não é uma arte tão fácil de ser apreendida. Muitos acreditam que basta abrir a boca, emitir sons, fazer perguntas, responder para se comunicar. Em realidade, se pararmos para prestar atenção nas conversas alheias perceberemos como cada pessoa está sempre falando de si própria e dos seus interesses - prestemos atenção à nós mesmos em interação com os outros - é também um bom exercício de autoconhecimento.
Através do autoconhecimento contínuo nossa comunicação será mais coerente, pois saberemos transmitir o que pensamos e o que sentimos de acordo com nosso código interno de valores, assim como também teremos parâmetros para traduzir situações, acontecimentos, atos e sentimentos dos outros.
Quantas vezes em nossas conversas com as pessoas pensamos ter entendido o que foi conversado para depois descobrirmos que o que estava sendo dito era completamente diferente.
Para nos tranquilizarmos daqui para frente em como podemos ser melhores comunicadores e intérpretes da comunicação alheia, basta admitirmos nossa compreensão limitada do mundo que nos cerca - desta maneira é mais fácil aceitar equívocos na interpretação das comunicações, pois todos nós temos lapsos em nossa comunicação - admitir isto é sinal de humildade, é também sinal de caridade para conosco e para com os outros.
Lembremo-nos que somos diferentes. Absolutamente, ninguém é igual a outrem.
Quando nos autoconhecemos, evoluímos. A ideia é sermos autênticos, sermos nós mesmos com nossas convicções, ideias, valores. Entretanto existe um mecanismo de defesa do ego que dificulta esse processo. Esse mecanismo chama-se introjeção.
De acordo com Jung, introjeção é o processo de assimilação do objeto ao sujeito; é o oposto da projeção. Hammed, um pensador, explica de uma maneira mais simples: "é uma técnica de reter ou atribuir jeitos de agir e pensar, dons, predicados e atitudes dos outros como sendo nossas qualidades." Indivíduos que fazem uso desse mecanismo, muitas vezes, não conseguem diferenciar o que realmente sentem e pensam do que sentem e pensam as outras pessoas. Pode ocorrer, neste caso, da pessoa introjetiva assimilar opiniões, pontos de vista e atitudes discordantes entre si. Desse modo, essa pessoa pode se tornar incoerente, fragmentada e confusa. Esse mecanismo é mais facilmente utilizado por pessoas inseguras, vaidosas/orgulhosas, com baixa autoestima - qualquer pessoa pode fazer uso dele em situações específicas.
Atualmente, vejo esse mecanismo ser usado muito frequentemente por muitas pessoas. Por falta de reflexão, de autoconhecimento, pessoas repetem as falas e ideias de outras como se fossem delas. Acredito que até nós mesmos possamos fazer isso inconscientemente. Então, evitemos contradições internas também, ou seja, às vezes, concordamos com ideias que estão diametralmente contrárias àquilo que acreditamos.
Pensemos nisso! Boa semana!