quarta-feira, 22 de novembro de 2023

"VIAGEM AO BRASIL"

Caros leitores,

O último livro deste ano de nosso Clube de Leitura foi "Viagem ao Brasil" do alemão Hans Staden.  A edição original de Marburg é de 1557 e foi esta edição que li da Editora Martim Claret.

A história trata das viagens de Staden para o Brasil iniciadas em 1547 na Holanda (em realidade, ele queria ir para a Índia), com destino para Lisboa para embarcar sal, mas acabou chegando no Brasil depois disso.

O livro contém:

"1. Duas viagens de mar,  efetuadas por Hans Staden, em oito anos e meio.  A primeira foi de Portugal, e a segunda da Espanha ao Novo Mundo, a América.

2. Como ele, no país dos selvagens, denominados Tuppin Ikins (Tupiniquins) (súditos d'El-Rei de Portugal), foi empregado como artilheiro contra os inimigos.

Finalmente, feito prisioneiro pelos inimigos e levado por eles, permaneceu nove meses em constante perigo de ser morto e devorado por eles.

3. Como Deus livrou misericordiosa e maravilhosamente a este prisioneiro, e como ele tornou à sua querida pátria.

Tudo para honra e glória da misericórdia de Deus, dado à impressão."

4. Gravuras que são reproduções fotográficas, em tamanho igual, das estampas do original, entretanto nesta edição o tamanho foi reduzido.  Ignora-se, porém se os desenhos são do próprio autor ou de outrem por ele guiado, o que aliás é mais provável."

O livro é interessante porque nunca imaginei que nossos ancestrais, indígenas brasileiros, fossem tão vorazes.  A antropofagia era uma prática comum entre todas as tribos.  Elas guerreavam entre si e aprisionavam e devoravam os inimigos. Esse ritual era realizado por ódio e inveja dos inimigos.

No prefácio, Dr. Johann Dryander afirma: "Passou ele por tanta miséria e sofreu tantos reveses, nos quais a vida tão amiúde lhe esteve ameaçada, que chegou a perder a esperança de se livrar ou de jamais voltar ao lar paterno.  Deus, porém, em quem sempre confiava e invocava, não somente o livrou das mãos de seus inimigos, como também por amor das suas fervorosas orações, quis mostrar àquela gente ímpia que o verdadeiro e legítimo Deus, justo e poderoso, ainda existia. Sabe-se perfeitamente que a oração do crente não deve marcar a Deus limite, medida ou tempo; aprove, porém, a Ele, por intermédio de Hans Staden, o demonstrar os seus milagres a estes ímpios selvagens.  E isto não sei como contestar."

A primeira parte do livro é um diário de viagem e a segunda parte fala da Terra e seus habitantes - usos e costumes; parte geográfica do Brasil (litoral) ( Pernambuco, São Vicente, Bertioga, Ilha de Santo Amaro, Ubatuba, São Sebastião, Superagui, Paranaguá, Santa Catarina, Ilha dos Alcatrazes, etc.); línguas faladas; animais, plantas e árvores exóticas; muitas tribos diferentes (tupiniquins, tupinambás, carijós, guaianás); comidas (mandioca, peixe, milho); fabricação de potes; armamento para as guerras (arcos, flechas).

No discurso final, Staden agradece a Deus a graça de ter voltado vivo para a Europa. Aliás, chama a atenção, como já foi explanado acima, sua constante invocação a Deus e sua fé de que nada lhe aconteceria (e foi o que ocorreu).

E, para terminar o livro, há mapas ilustrativos das viagens.

Eu recomendo esse livro para aqueles que querem conhecer como foi o início da colonização no Brasil - já se percebe que desde esse tempo o Brasil vem sendo saqueado pelos europeus: portugueses, franceses, holandeses. (Hoje, ainda temos também os noruegueses, americanos, ingleses). À propósito, os índios só queriam matar e devorar os portugueses.  Fica a reflexão!

Boa semana!



 

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

SELEÇÃO VISUAL

Olá leitores,

Atualmente um dos sentidos mais acurados é a visão.  Nossa sociedade é praticamente toda visual, embora hoje também damos grande importância à audição. Vale lembrar que no século XVIII um dos sentidos mais valorizados também foi o olfato, haja vista o início da criação de perfumes.  Em cada época da evolução da humanidade, todos os sentidos foram sendo usados obviamente, entretanto, a ênfase sempre foi dada de acordo com a necessidade de seu uso.  Assim, vamos crescendo, caminhando em direção aos nossos objetivos e emancipando nossos sentidos orgânicos/materiais, sentidos estes que vão também auxiliando os nossos sentidos espirituais.

Toda forma de vida animal no planeta é sensível de alguma maneira, à luz.  Mesmo os animais mais simples (certos moluscos marinhos e a minhoca, por exemplo) reagem às mudanças de claro e escuro.  O claro e o escuro, a luz e a escuridão ainda são duas facetas de uma mesma realidade para nós.  Quando somos elucidados de algo que não sabíamos, tudo se faz luz; ao contrário, quando não sabemos algo, tudo é sombra.

Médicos, biólogos, psicólogos, depois de muito estudarem, concluíram com acerto que a visão do homem ocorre no cérebro e não nos olhos.  Se há uma lesão no cérebro na área destinada à visão, essa pessoa não enxerga mesmo que seus olhos estejam perfeitos. Obviamente, se há algum problema no olho como instrumento de divulgação da visão, ou algum problema na ligação entre o olho e o cérebro, esse fato também poderá acarretar problemas na visão.  Cada órgão de nosso corpo é liderado pelas células cerebrais.

Nosso cérebro tem a capacidade limitada e capta parcelas diminutas das formas incontáveis de energia existentes no Universo.  Então, nossos olhos registram, de forma precisa/consciente só aquilo em que estamos concentrados no momento.  Entretanto, inconscientemente podemos perceber detalhes os quais podem vir a nos influenciar posteriormente sem que os percebamos nitidamente.  Pessoas que foram submetidas a hipnose, seja para tratamento psicoterapêutico ou até em investigações policiais, lembram detalhes sutis que, em nível consciente, não foram percebidos, mas que são importantes tanto no tratamento psicoterápico como também no caso de um interrogatório policial.

Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlke no seu livro "A doença como caminho" afirmam que "além de acolher as impressões, os olhos também refletem algo para o exterior: neles se percebe os sentimentos e a disposição das pessoas.  É por isso que olhamos para os olhos dos outros e tentamos ver bem no fundo dos mesmos: buscamos dessa forma descobrir o que expressam.  Os olhos são o espelho da alma." Quando olhamos outra criatura nos olhos, muitas vezes conseguimos captar o que ela está sentindo ou, suas intenções quando olhamos para um animal, por exemplo, tal como um gato, cachorro ou até uma fera qualquer.  Os seres do planeta possuidores de olhos se comunicam através deles.

Assim, selecionamos, ou seja, percebemos só as informações que nos cativam ou atraem.  Essa seleção é tanto física, psíquica, mental quanto espiritual.

Há um mecanismo de defesa do ego que pode ser utilizado neste contexto chamado de "desatenção seletiva".  Esse mecanismo protege o indivíduo de alguns fatos da vida que podem, momentaneamente, desestruturar o seu campo emocional.  Esse mecanismo não permite que o indivíduo tome contato com a realidade.  Ele, como todo mecanismo de defesa do ego, é usado temporariamente, até que o indivíduo possa reunir recursos para enfrentar e resolver esses fatos da vida.  Nós só retemos o que conseguimos assimilar ou compreender.

Agora, depois dessas ideias, nós podemos fazer algumas digressões e reflexões voltando no tempo.  Muitas vezes não víamos aquilo que estava "embaixo de nosso nariz" porque ou não podíamos (desatenção seletiva) ou porque não queríamos, não era nosso desejo naquele momento.

Será que escolhemos o que queremos ver ou não ver?

Quando pensamos nessa questão, podemos perceber nosso lugar no Universo, quer dizer, só escolho, vejo, vivencio, experimento o que está de acordo com o meu nível de evolução/amadurecimento. Quanto mais elevados espiritual e moralmente, mais enxergamos.  Basta usarmos a alegoria da pessoa que está no topo de uma montanha - ela tem uma visão mais ampla, uma visão do todo.  Inclusive um dos recursos muito usados para tentar entender nosso conflitos existenciais é nos afastarmos deles, olharmos de longe, imaginarmos que outras pessoas os possuem e não nós.  Quando nos distanciamos temporariamente de nossos problemas, algumas vezes conseguimos compreendê-los melhor.  Mas, muitas vezes, só a compreensão não basta para solucioná-los.  Neste caso, devemos buscar a sua aceitação.

Quando vemos alguma coisa de que não gostamos podemos fechar os olhos, assim como uma cena violenta num filme.  Mas, na vida aquilo que conseguimos ver é o que devemos ver, o que já estamos preparados para ver.  Muitas vezes outras pessoas veem coisas em nós e em nossa vida que nós mesmos não conseguimos e vice-versa.  Como já foi dito, só vemos aquilo que podemos e/ou queremos.  Quanto mais altos, mais maduros, mais luz e mais entendimento - esse é o caminho do ser humano em direção à sua felicidade plena.

Quando olhamos para alguém o que vemos? Seu rosto, seus olhos, seus cabelos (ou a falta deles), suas roupas, sua maneira de andar, de sentar, conversar, seus gestos.  Mas, será que realmente enxergamos essa pessoa? "Vemos" o que ela está pensando, "vemos" o que se passa em sua vida, "vemos" quem ela realmente é? Como dizia Antoine de Saint-Exupéry, em "O Pequeno Príncipe": "O essencial é invisível para os olhos". A essência de cada pessoa é particular e nós não "vemos" sua essência.  Assim, como não vemos o outro por dentro, este também não nos vê.  Este é o aspecto extraordinário da vida - nossa atitude para com o outro deve ser a mesma atitude que devemos ter conosco - respeito, atenção, simpatia, fraternidade, aceitação, algumas vezes compaixão, troca de experiências, carinho, comunicação.

Para ver uma coisa é preciso conhecê-la.  No início do documentário "Uma Verdade Inconveniente" Al Gore mostra que os índios americanos quando da chegada de Colombo à América não viram, não perceberam as naus logo de início, só quando se aproximaram da praia, porque sua visão não "conhecia" as caravelas.

Nossa visão das pessoas, das situações e coisas é reflexo da interpretação que damos a elas - vemos o que podemos, muitas vezes o que queremos - e uma coisa é certa - nossa visão, seja ela ampla ou estreita, é um dos instrumentos para chegarmos ao nosso objetivo - basta delinearmos com retidão, com concentração qual é o objetivo que almejamos alcançar.

Abracemos nossos dias como se todos eles fossem dias de luz, pois a cada dia novas oportunidades nos são dadas.  Quanto mais abrirmos os olhos para a verdade, para o amor, mais poderemos ver o Universo que Deus criou, mais luz enxergaremos e mais claros se tornarão os dias para nós.

"Brilhe vossa luz!"

"Andai como filhos da luz" - Paulo - Efésios, 5:8.

Boa semana!














 

terça-feira, 7 de novembro de 2023

UM LUGAR PARA REFLETIR

Caros leitores,

Domingo passado, assisti, na Netflix, uma filme muito bom.  O nome do filme em inglês é "Land" e em português colocaram "Um Lugar".  O nome original é mais adequado, entretanto compreendo que a tradução é bastante difícil, uma vez que "Land" quer dizer terra, como exemplo temos "England" - "Terra do Ângulo"; "Scotland" - "Terra dos Scots/Escocêses"; "Ireland" - "Terra da Ira" e por aí vai.  "Land" também pode significar o verbo "aterrar", "pisar em terra firme" e é exatamente o que a protagonista do filme busca realizar.  Obviamente, não darei "spoilers", mas o filme é de uma rara beleza; não só a beleza exterior - paisagens de tirar o fôlego, mas também a beleza interior dos personagens (praticamente apenas 2 personagens).

A protagonista muda-se sozinha para uma cabana numa montanha do Wyoming - EUA para fugir de uma situação incômoda e, só com seus pensamentos, através da interiorização, tenta entender o que fazer de sua vida. No transcorrer das situações, acaba recebendo  a ajuda de um "bom samaritano". Os poucos diálogos entre os dois é de uma profundidade extrema - é um filme muito bem dirigido, a história é bem delineada e a espiritualidade que ele transmite "contamina" quem o assiste. Eu, que gosto muito de momentos solitários, consegui, junto com a protagonista, realizar um exercício de introspecção.  O filme nos faz pensar e repensar o que é ser um sêr humano e que tipo de realidade queremos para nossa vida.  Ela, ao tentar escapar de sua realidade, acaba criando outra realidade muito diferente.

Em nosso dia-a-dia, com nossos afazeres, com a vida em sociedade, não temos muitos momentos de solitude, mas são eles tão necessários para refletirmos sobre nossa realidade e realizarmos as mudanças que podem nos transportar para uma vida diferente.  Eu mesma, muitas vezes, gostaria de poder ter ao meu alcance uma cabana isolada numa montanha para refletir.  Vocês não?

Impossível não fica  tocado com a história! Eu recomendo.  Para assistir e refletir!

Boa semana!




 

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

ALÉM DAS MIL E UMA NOITES - J.TUCÓN

"O Jardim Botânico bem como a Flora de modo geral supera o sonho das Mil e Uma Noites" 

(Albert Einstein por ocasião de sua visita ao Rio de Janeiro, então capital do Brasil)

Olá leitores,

O texto de hoje é de autoria de J.Tucón, fotógrafo da natureza.

                        "Bamboo Cathedral" by J. Tucón, Lambari, MG, 2023

Em 1958, viajei ao Rio de Janeiro em companhia de meu pai, num bimotor da Pan Air.  Ainda era capital do Brasil e fazia jus ao título de Cidade Maravilhosa.

As palavras de Einstein são insuficientes para descrever a experiência de ver a luz de uma suavidade e delicadeza ímpares passando através da copa das árvores do Jardim Botânico.  Tão forte foi a impressão que se tornou inesquecível.

No momento em que escrevo este texto estou em Minas Gerais tentando captar e fotografar o "espírito" da luz refletida pela paisagem e pela vegetação locais.

Estes dias são uma pausa na experiência curitibana diária de fotografar a floresta de araucárias que fica ao lado de minha casa, uma reserva de mata nativa do Museu de História Natural do Capão da Imbuía.

Se você quiser pode clicar no link a seguir e acessar o pequeno ensaio "Forest Lights" com fotos dessa reserva.

https://drive.google.com/file/d/1gvg29TcQOCFAkrgj2gdLr6L-4RozQc2V/view?usp=drivesdk

O principal desafio da fotografia da Natureza consiste em sentir e expressar a singularidade da luz de cada local.

Trata-se de um trabalho paciente de educação do olhar.  Quando achamos que sabemos, percebemos que falta muito a captar, sentir e entender.

Perceber também que por mais particular que seja a experiência ela é também uma porta para o Universal, como bem dizia o escritor escocês John Muir que se radicou nos Estados Unidos: 

"A melhor maneira de entrar em contato com o Universo é através de uma mata virgem."

E você? Como foi sua experiência ao caminhar por uma floresta brasileira? Acha que Einstein estava certo? Compartilhe!

Após uma viagem a Taos (New Mexico, USA), um lugar altamente inspirador, em 2015, J.Tucón passou a dedicar-se a fotografar a Natureza.

Links:

saatchiart.com/jtucon

the-architecture-of-nature.blogspot.com




 

VISITA A SÃO PAULO

Caros leitores, Este ano, em nossa ida para Sampa para visitar amigos que lá deixamos, visitamos 15 pessoas.  O ano passado ficamos 6 dias e...