Caros leitores,
Novamente hoje escrevo um desabafo e junto dele um alerta - alerta esse por ter passado por uma experiência similar quando morava em São Paulo.
Meu bairro, Capão da Imbuia, em Curitiba, já foi considerado um bom e bonito bairro para se morar.
Quando nos mudamos para cá, meu marido e eu, fizemos amizades com a vizinhança rapidamente - embora tivéssemos sido alertados em São Paulo que o curitibano é fechado e não fala com ninguém - isso é uma lenda urbana. Moramos numa rua sossegada e, à noite é silenciosa.
Então, os fatos se sucederam. Como já havíamos passado por uma situação semelhante em São Paulo foi fácil adivinhar a sucessão dos mesmos. Para muitas pessoas isso pode parecer "coincidência" ou "paranoia de minha pessoa."
Bem, o estopim foi a construção de um Shopping Center nas adjacências - ele não é muito perto de casa, mas dá para ir a pé, principalmente para quem não tem preguiça de andar. Em São Paulo morávamos praticamente na mesma distância do Shopping Morumbi e do Shopping Market Place.
Para a grande maioria das pessoas o Shopping Center é de extrema importância - é "seguro", estacionamento coberto, há lazer (cinema, teatro, playground), há comida (praça de alimentação), lojas que vendem de tudo (roupas, cosméticos, farmácia, papelaria).
Com toda esse estrutura é necessário (a prefeitura acredita nisso) também que o entorno seja revitalizado - ruas precisam ser alargadas, modernizadas para que todos possam chegar ao Shopping Center em grande estilo, segurança e rapidamente.
E então entra em cena, o maior amigo do homem - aquele que faz você se endividar com a sua manutenção, abastecimento, impostos num "looping" infinito - não, não é o cachorro, embora ele também traga sua gama de gastos. Estou falando do carro - um item indispensável para aquele que acredita que sem ele você não vale nada.
Curitiba é a cidade brasileira com o maior número de carros, levando-se em conta a quantidade da população.
Assim, o próximo passo foi a prefeitura resolver fazer aqui o que eles chamam de "binário" - pegam-se duas ruas paralelas - no caso do meu bairro duas ruas que cortam o bairro praticamente ao meio - com mão dupla e as transformam em mão única - uma vai de norte a sul e a outra vice-e-versa. E adivinhem só - as duas desembocam no tal Shopping Center. Aliás, havia até uma piada local quando ele estava sendo construído - Shopping Jockey Plaza (ele fica "ao redor" do Jockey Clube) - "o Shopping Center onde os cavalos correm e os burros assistem".
O maior drama vem agora - correu um boato no bairro que iriam cortar todas as árvores dessas duas ruas e que sobraria pouca calçada para pedestres; foi dito que teríamos que andar em fila indiana. Ao saber dessa "fofoca" liguei para a prefeitura e foi marcada uma reunião com as arquitetas do projeto na administração regional que fica perto de casa. Quando conversei com elas foi em junho de 2023 e em uma das ruas as obras já haviam iniciado e as árvores todas da rua já haviam sido cortadas - nessa rua não haviam muitas - umas dez aproximadamente e a mesma ficou descaracterizada, irreconhecível mesmo - desde que nos mudamos, as árvores desta rua foram sendo todas cortadas paulatinamente. A rua principal ainda não havia começado a "matança". Bem, elas me garantiram que era tudo boato, trouxeram o mapa elaborado pelo Google Streetview e disseram que algumas árvores seriam cortadas (não me disseram quais) e que a rua não seria alargada.
O mês passado começaram as obras nessa rua (moro numa rua transversal, que corta essas duas ruas). Serão cortadas todas as árvores (faltam umas dez e já cortaram umas 25) a maioria de grande porte (tipuanas) - estão sendo cortadas para que a rua seja alargada (ela atualmente tem 4 pistas, sendo 2 pistas para cada direção da via). Em realidade, não haveria realmente a necessidade de alargá-las, pois uma vez que o binário fosse estabelecido, seriam 4 pistas numa única direção.
Ontem cortaram uma gigantesca tipuana que eu admirava de minha casa (estou anexando fotos) - agora ela não existe mais...
Pergunta que não quer calar: "O projeto foi mudado ou mentiram para mim?" Parece que a cada dia colocam um novo nariz de palhaço em nossa face, não é?
Depois do choro (sim, eu choro pelas árvores, agora tão vilipendiadas pela cidade "ecológica" - outro embuste...), bola para frente - vamos às possíveis consequências:
Desertificação do bairro - muitas pessoas continuam cortando árvores, principalmente novos proprietários de casas com árvores, as quais, na opinião deles, traz sujeira...
Descaracterização do bairro - as árvores de ambos os lados da rua faziam um arco bonito de se ver.
Pouca quantidade de chuvas - talvez isso não ocorra tão drasticamente pois há um bosque do Museu de História Natural, na rua principal que pode até ajudar no índice pluviométrico.
Muito calor pela falta de sombra - Curitiba por ser muito alta, o sol quando aparece "queima" mesmo - é bem quente. Meu consultório dista 20 minutos do Capão da Imbuia (bairro onde moro) para o centro da cidade. Quando nos mudamos em 2011, o bairro era de 2 a 3 graus centígrados mais frio que o centro da cidade - hoje é exatamente o oposto. Coincidência?
Algumas pessoas poderão objetar: "em nome do progresso tudo é válido." Será isso um progresso?
Meu marido e eu, "compramos" a propaganda da "cidade ecológica" e ficamos felizes quando nos mudamos - o bairro era lindo (espero que ele volte a ser). Entretanto, a cada dia que passa, de seis anos aproximadamente para cá, Curitiba vai se "paulificando" - muita sujeira, muita gente, muito barulho, muitos carros, muitas obras, muitos prédios... Aquela frase que ouvimos tantas vezes quando nos mudamos "curitibano não joga nem papel de bala no chão" não existe mais.
Acabei de ler no jornal que outro bairro também terá árvores sacrificadas em nome da construção de um novo tubo (parece que será de alvenaria) que será o primeiro a substituir os tubos transparentes e versáteis, típicos de Curitiba. Para a construção dele serão cortados 15 pinheiros do tipo pinus. Será no bairro Cabral perto da Faculdade de Ciências Agrárias (que ironia!).
Depois desse "desabafo" concluo que ainda é bom viver em Curitiba e que continuo, apesar da tristeza, a fazer a minha parte - plantando árvores, alimentando os pássaros, passeando pelo centro da cidade(gosto muito - há bons lugares típicos como a velha XV de Novembro e seu calçadão) e tentando ser gentis com todos - fizemos muitos amigos aqui - aliás fizemos uma vida!
Para aqueles que leram o meu texto "Os melhores anos de minha vida" conto que não iremos mais mudar de nossa casa querida. O vizinho não fez a gentileza de "espelhar" o projeto, construindo o sobrado com o recuo do nosso lado como gostaríamos - ele irá construir junto ao nosso muro e então, meu marido, arquiteto com grandes ideias, resolveu fazer uma claraboia em cada cômodo prejudicado pela falta de luz (uma no meu escritório e outra no escritório dele) - desse modo a luz virá por cima do telhado.
O texto ficou longo, mas creio que deu para entender.
O alerta fica para as gerações futuras - as árvores são necessárias para o equilíbrio da natureza! Vou deixar um link para quem quiser ler um texto que fiz sobre as árvores em novembro de 2020.
https://soniahutterer.blogspot.com/2020/11/nossa-vida-depende-delas.html
As três primeiras fotos são da grande tipuana cortada. A quarta foto mostra mais uma que será cortada. E a última foto mostra a rua com o lado direito com todas as árvores já cortadas.
Boa reflexão!
Moramos no Santa Cândida. Aqui ainda temos muito verde. Concordo com o desleixo de Curitiba. Bom saber que não precisarão mudar de endereço.
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