sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

"RASTEIRA SOCIAL"

Caros leitores,

Algumas vezes, alguns de nós passamos por situações inesperadas no meio social em que vivemos.  Muitos de nós participamos de vários grupos sociais - a família, o grupo de estudo, o grupo de nossa atividade esportiva, o grupo religioso ou um grupo de estudos esotéricos, o grupo de amigos da infância ou até do bairro em que moramos ou morávamos - para aqueles que como eu, mudaram de cidade.

Em cada um desses grupos podemos apresentar atitudes diversas. Com alguns grupos a intimidade é maior e com outros há mais formalidade.  Isso é natural para praticamente todos os indivíduos.

Hoje, novamente faço uso desse blog para compartilhar com vocês uma situação que experienciei. Talvez alguns de vocês também já tenham passado por uma história similar.

Há 28 anos participei de um grupo religioso onde cresci muito como pessoa e onde sempre tive uma palavra amiga nos dias turbulentos e nessa convivência amadureci e pude com o tempo, também doar, ao invés de apenas receber.

Em 1996 comecei a faculdade de psicologia no mesmo ano que entrei nesse Instituto Espiritual.  A faculdade foi bem difícil no quesito social pois era "idosa" para o tal estudo - estudei pela manhã e ministrava aulas particulares de inglês à tarde e à noite para pagar a faculdade.  Meus colegas de faculdade eram jovens na casa dos 20 anos e mulheres de minha idade que faziam a faculdade para trabalharem com isso quando se formassem (como eu) ou que faziam a faculdade como hobby para preencher o tempo; eu era a única da classe que trabalhava. Eu era a ovelha negra e o Instituto me ajudou muito para lidar com essa situação.

Em 2009 aproximadamente, fui convidada pela dirigente do Instituto a realizar palestras unindo a psicologia e o ensinamento religioso, ou seja, nesse instituto todos nós estávamos empenhados em melhorarmos como pessoas e então alguém que falasse sobre emoções, sentimentos, boas ou más atitudes em nosso dia a dia era bem-vindo. Eu era essa pessoa.  A cada palestra mensal que eu proferia, além de ajudar outros em sua conduta de vida, eu também era beneficiada por essa prática.

Quando nos mudamos, meu marido e eu, para Curitiba em 2011, foi-me permitido continuar indo para São Paulo realizar essa palestra sempre no primeiro sábado de cada mês.  Eu gostava muito dessa atividade - crescia e amadurecia continuamente e percebia que as pessoas que compareciam a essa palestra também gostavam e se beneficiavam.

Então a dirigente do Instituto faleceu em 2022.  Inicialmente, ninguém sabia se as atividades continuariam as mesmas.  Em minha primeira palestra de 2023 tive uma reunião com uma pessoa que ficou no lugar dela - pessoa essa que não tinha apreço pela minha personalidade. Não era recíproco, pois para mim essa pessoa era neutra, ou seja, reconhecia que era uma pessoa autoritária, rígida, exigente, mas isso não me incomodava.

Nesse primeiro momento foi me dito por ela que um grupo de trabalhadores do Instituto iria conduzir as tarefas, então parecia que eu iria continuar.

Durante o ano de 2023 realizei meu trabalho normalmente, apesar das críticas por parte dessa pessoa a qual, vim a saber com o tempo que ela era a responsável por todos os trabalhos da casa - em suma, ela e a filha da dirigente que havia falecido eram as verdadeiras e únicas responsáveis por tudo.

Assim sendo, como dizem no anedotário popular "o gato subiu no telhado".  Então nesta semana, por ligação de vídeo online fui informada que não faria mais palestras por não estar mais "preparada" de acordo com os novos ditames do Instituto.  Eu deveria ir para São Paulo no último sábado de cada mês para fazer uma "reciclagem".

O que acontece hoje no planeta é o "Zeitgeist" - palavra alemã que quer dizer "espírito da época".  Todos querem "doutrinar" alguém para sua causa/ideologia.  Aqui no Brasil não é diferente - temos o exemplo de "cima", dos governantes - eles todos querem que nós aceitemos suas novas "diretrizes".  A ideia é uniformizar o mundo e danem-se os "diferentes"; aqueles que não aceitam serem colocados na "cama de Procusto".

O nome "rasteira social" me veio à mente quando esse fato ocorreu.  Atualmente, muitas pessoas chamam de "cancelamento".

No momento fiquei triste pois não verei muito de meus amigos com tanta frequência. Mas como dizem "ninguém é insubstituível" embora reconheça que talvez não haja, atualmente, ninguém nesse instituto que falaria sobre psicologia e espiritualidade.

Mas, vida que segue.  Vou procurar a porta que Deus abriu para mim depois que esta se fechou.

Fui! 

Boa semana!


  

 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

A CIDADE SEM SOMBRA

Olá leitores,

Hoje o texto é de autoria de J. Tucón.

Já imaginou viver num local sem sombras?  Então imagine um deserto, o mar aberto ou a calota polar.

E uma cidade sem sombras?

Bem, aí vamos ao modelo de cidade proposto pelo urbanista Le Corbusier há quase cem anos atrás: vias retas e prédios.

Se quiser ter uma ideia aproximada, vá conhecer Brasília.  Lá tudo foi inspirado em Le Corbusier.  O nome desse modelo de urbanismo é Ville Radieuse (Cidade Radiosa ou Cidade Radiante).

Árvores, bem... Estragam as vistas em grandes perspectivas, criam sombras e não se harmonizam com a ideia de grandiosidade e luz.

E essa ideia continua a inspirar nossos planejadores urbanos.

Aí vai um exemplo recente.

Curitiba, final de 2023, bairro do Capão da Imbúia: alargamento e retificação do traçado de duas ruas paralelas para criar o que se chama de um "binário" ou seja duas ruas de mão única em sentidos opostos.

Para isso foi necessário apenas numa das ruas abater vinte e nove árvores de grande porte.  Na outra, pelo menos duas cerejeiras e três álamos.

Uma das vias já está quase pronta.

O resultado?

A rua retíssima, criando uma enorme perspectiva focada lá na Av. Vítor F. Amaral; tudo ensolarado; sem uma sombra porque não há uma árvore sequer.

Não vou aqui me alongar em considerações de cunho ambiental.

Vou pensar na alma humana.

Na mesma época de Le Corbusier, o seu compatriota, o psicólogo Carl Gustav Jung (ambos eram suíços) desenvolveu o conceito de Sombra. Para ele, a Sombra eram os aspectos inconscientes da alma humana. Poderiam ser bons ou ruins mas tinham que estar fora do alcance da "luz". 

(A propósito, Jung construiu uma casa para si que nem de longe lembra as ideias de Corbusier).

Onde não há sombra, nada mais há a explorar.  A "luz" já resolveu tudo.  

É só a monotonia de uma folha em branco.

É esse tipo de urbanismo que pretende nos acolher enquanto seres humanos? Tudo feito de "luz" e "retidão"?

Não.

Vá a uma cidade medieval na Europa.  São ruas estreitas e curvas, passagens escuras, o sol e a sombra se alternando num jogo de luz e sombra ao longo do dia, criando locais sombrios, locais a meia luz e outros ensolarados.  A cada dia há algo a descobrir nesta "falta de racionalidade".

E assim também é a nossa alma e por isso nos sentimos tão bem nessas cidades.

Mas, guardadas as devidas proporções, o Capão da Imbúia era assim.  Árvores frondosas sombreando as ruas, as calçadas irregulares de vez em quando arrancando um palavrão, muros grafitados, asfalto rachado, casas antigas com histórias a contar, outras casas ainda novas e pretensiosas.

Humano e acolhedor.

Mas, agora, até os postes vão tirar.  Tudo plano! O que será dos cachorros sem teto? Vida de cão...

Concluindo:

SEM SOMBRA de dúvida, eliminar a sombra não foi uma boa ideia.


J.TUCÓN

É bacharel em Arquitetura e fotógrafo da Natureza.  Com seu projeto fotográfico The Architecture of Nature, pretende explorar as sutilezas da Flora, expressando o sábio jogo de luz e sombra que ela nos oferece a cada dia.

saatchiart.com/jtucon

Boa semana pessoal! 


 


 

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

O PAPEL DA IMAGEM

Caros leitores,

Antes de falar do tema, gostaria de me retratar.  O blog Refletindo existe desde 2020 e escrevi, de lá para cá, um texto por semana.  Entretanto, na semana passada apesar do texto estar preparado para ser postado sábado ou domingo, no sábado passado um raio "exterminou" o modem e ele só foi trocado na segunda feira desta semana, ficando então sem internet no fim da semana passada. Elucidando esta pequena falha, vamos ao tema.

Já faz algum tempo que o mundo preocupa-se com a imagem - não somente a imagem de um país, uma cultura, os artigos produzidos pelos homens, mas também e mais importante, a imagem de cada pessoa inserida neste contexto.  Todos nós sabemos que atualmente, a importância que se dá a aparência de um indivíduo pode transformá-lo numa figura angelical ou numa criatura monstruosa.

Mas, se estamos interessados no que o outro aparenta ser, como nos relacionarmos uns com os outros dentro de uma relação verdadeira? Como conhecê-lo? E, quem somos nós? O que aparentamos ser, mas que na realidade, não somos?

O tema de hoje, para nossa reflexão, possui duas vertentes: o papel da imagem, da aparência propriamente dita e o interesse por trás dela.

Para entender esse papel devemos refletir sobre a infância, as crianças, sua educação e o seu aprendizado através do exemplo de pais, tutores, professores, avós, demais parentes, empregados e de suas aparências, seus gestos, suas expressões faciais.

No período infantil, a criança pergunta bastante, é ávida para querer saber muitas coisas do mundo, e as respostas e informações que recebe ficam armazenadas, depois são incorporadas e transformadas em novas informações - então, pouco a pouco, vai evoluindo e deixando para trás tudo aquilo que lhe causa dor - culpas, mágoas, ressentimentos, raivas, frustrações, tristeza.

No convívio familiar e no ambiente extra familiar a criança vai absorvendo atos e atitudes psicoemocionais e vai construindo o seu futuro.

Adultos que possuem uma imagem de superioridade e infalibilidade transmitem, através do seu exemplo, esse comportamento inconsciente e automaticamente.  Vale lembrar que atos e atitudes são mais poderosos que palavras - a criança em formação contagia-se e pode formar um entendimento sobre a vida baseado nesta imagem.

Quando pais vivem para serem admirados e aplaudidos no meio em que vivem, criam os filhos incutindo neles a ilusão de que "o valor pessoal destes se encontra no que possuem ou no sucesso que alcançarem." Os filhos são mimados e considerados melhores que todos os filhos de outras pessoas, e quando a estes é lhes chamada a atenção por outras pessoas fora do âmbito familiar, para o pai ou para a mãe é como se fosse rejeitada a sua própria pessoa, pois sua identidade está submissa aos status social da família.  Êxitos e derrotas dos filhos são vividos pelos pais como triunfos e fracassos próprios.

A imagem pode ou não estar condizente com a vida íntima.  Quanto mais nos conhecemos, aceitando nossa personalidade, mais nossa aparência externa será coerente com nosso interior.

Para exemplificar, pessoas tachadas de "interesseiras" não podem ser tratadas como indivíduos com "defeitos de caráter" ou inferiorizados - eles estão apenas vivendo de acordo com sua fase evolutiva - cada uma dessas fases tem características próprias e cada um amadurece psicológica e espiritualmente e pouco a pouco é despertado constantemente para novos níveis de consciência.

Se fazemos parte das pessoas interessadas no destaque pessoal, que possamos compreender que este pode ocorrer, mas é efêmero - o que precisamos é mudar comportamentos que sejam coerentes com nosso mundo íntimo e que podem nos trazer sofrimento.

Para que possamos ter uma imagem, uma aparência genuína basta cuidarmos de nosso mundo interno - e uma vez que este esteja equilibrado, não teremos mais a necessidade e nem o "interesse" em sermos admirados, aclamados.  A partir deste momento não temos mais o interesse de "ser" o que os outros avaliam e apreciam e passarmos a nos delinear ao redor do nosso "eu real" onde se apoiará nosso "senso de valor".

Boa reflexão!











VISITA A SÃO PAULO

Caros leitores, Este ano, em nossa ida para Sampa para visitar amigos que lá deixamos, visitamos 15 pessoas.  O ano passado ficamos 6 dias e...