Caros leitores,
O livro do mês de abril de nosso Clube de Leitura foi "Memórias do Subsolo" de Fiódor Dostoievsky.
Ele foi escrito em 1864, em poucas semanas; a esposa estava gravemente doente, em últimas semanas de vida. O texto, a princípio sofreu censura por parte do governo (lembrete: havia uma ditadura na Rússia de Alexandre II (o czar); não chamava-se comunismo, mas tudo pertencia ao Estado e ele provia desde comida, educação, assistência médica, até moradia - o país era dividido em províncias). Dostoievsky escreveu o livro após ter saído da prisão. Sua obra era censurada quando falava de Jesus Cristo.
A história narra a vida de um funcionário público que vivia só - ele era amargo, com baixa autoestima - se achava mais insignificante que um inseto. Por conta dessa baixa estima, sente inveja de tudo e de todos.
O livro é difícil de ler por conta desse pessimismo, entretanto, em minha opinião, Dostoievsky é brilhante pois através dos pensamentos do protagonista, consegue-se sentir exatamente o seu mau-humor.
O ponto alto do livro, quase ao final, quando em suas "regurgitações mentais" o protagonista confessa: "Afinal, sem exercer poder e tirania sobre alguém, não sou capaz de viver..." Podemos até refletir sobre o porquê da tirania, do despotismo, da ânsia de poder de algumas pessoas.
Em outra página, ele afirma "... amar, para mim, significava tiranizar e subjugar moralmente. Por toda vida, não fui capaz sequer de imaginar outro tipo de amor, e cheguei a tal ponto que, agora, às vezes, até penso que o amor consiste no direito que o objeto do amor concede, espontaneamente, ao outro de exercer uma tirania sobre ele." Talvez seja esse tipo de atitude/sentimento que os tiranos acreditam ser o amor. Até que faz sentido quando vemos algumas figuras públicas "declararem" o seu amor pelos semelhantes através da subjugação, não apenas moral, como também física e psicológica.
Eu recomendo a leitura desse livro, desde que o leitor esteja preparado a enfrentar seus próprios e íntimos sentimentos e pensamentos. Não há como não se interiorizar quando se lê Dostoievsky. Também foi assim comigo quando li dele "Crime e Castigo".
Boa reflexão!
Não sou boa com as palavras, mas gostaria de deixar meu comentário sobre o livro.
ResponderExcluirDuas frases que me chamaram muito atenção no livro e que me fez refletir muito, foram: " Os mais refinados sanguinários foram quase todos cavalheiros civilizados." e a outra " O homem deturpa a verdade para justificar a sua lógica."
Gosto da forma que Dostoiévski escreve , a forma que ele se exprime e de certa forma se revela.
Memorias do Subsolo, foi um desafio para mim, por ser totalmente diferente do que já havia lido dele.
Mas recomendo para quem for ler, para não apenas ler e sim degustar, pois cada palavra, cada pagina, nos traz não somente uma reflexão, sobre o personagem e o autor, mas também uma reflexão sobre nós mesmos.