sexta-feira, 16 de maio de 2025

PACIÊNCIA

Caros leitores,

De acordo como dicionário Aurélio, Paciência é:

Virtude que consiste em suportar as dores, incômodos, infortúnios, etc. sem queixas e com resignação.

Perseverança tranquila.

(Obs. Foram separadas do dicionário apenas as definições úteis para este texto).

Para que haja uma compreensão mais abrangente da virtude da paciência, lembremo-nos da Natureza.  Imaginemos como o planeta Terra foi criado: as etapas de seu desenvolvimento, as transformações dos seus elementos químicos, o surgimento das formas de vida (minerais, vegetais, animais).  O homem, ou seja, nós, tivemos início a partir da estruturação das substâncias orgânicas preexistentes na atmosfera e na crosta terrestre primitiva.  Este processo de criação da vida foi lento, organizado, longo, contínuo, obedecendo um sistema de leis criadas por Deus/Ser Superior/Divindade. A natureza, com seu ritmo próprio é o melhor exemplo de paciência.

Então, se somos filhos desta natureza, se fomos inseridos nesse meio é porque somos interligados (necessitamos da natureza para viver e ela necessita de nossos cuidados para continuar sua evolução) e, se somos interligados, aprendamos a virtude da paciência com a natureza, observando-a e adotando o seu ritmo.

Nós precisamos compreender que "o ser humano é a própria natureza adquirindo consciência de si mesma", e mais que tudo, compreender que nossa estrutura orgânica resulta da paciente realização da natureza.

Para exemplificar, tomemos uma árvore.  Para que ela se transforme numa árvore frondosa, ela percorre um longo caminho desde a semente até a sua maturidade gerando flores e frutos.  A sua evolução obedece aos ditames da natureza - ela floresce e frutifica na época que diz respeito a sua espécie - tem que aguardar para dar frutos depois da floração - seguindo esta ordem pacientemente, aguardando o sol (a luz), a chuva (a água).  Tudo realizado a seu tempo.

Outro exemplo a ser observado é o próprio homem.  Depois da fecundação do óvulo pelo espermatozoide, seguindo as leis naturais, ele deve aguardar nove meses para nascer.

Nos dois exemplos, a árvore e o homem, podem ocorrer anormalidades tais como a semente não receber alimento e não vingar ou no caso do homem, o bebê poderá nascer de parto prematuro devido a complicações no organismo da mulher.  Estas são situações especiais aquém da natureza.

Na realidade, estes exemplos foram citados para demonstrar que a paciência é o fator primordial.

Vale lembrar que a natureza não dá saltos e que a borboleta bela e colorida era antes uma lagarta.  Por isso, tudo acontece pacientemente na natureza.  A paciência é o seu segredo e a sua força.  Então, quando observamos a natureza podemos perceber a "perseverança tranquila" que o dicionário traz com uma das definições de paciência.  Ela persiste na atividade de criação com perseverança e constância com equilíbrio.

Esta é uma das habilidades que precisamos desenvolver em nossa caminhada pela vida.  Quando as tarefas são realizadas com quietude e tranquilidade, o crescimento ocorre naturalmente.  A pressa pode destruir em poucos minutos o que se leva anos para construir.

Entretanto, no mundo atual onde encontrar estímulos para exercitar a paciência? O mundo é rápido, a tecnologia exige perfeição e prontidão a qualquer preço e ao nosso alcance temos inúmeros recursos para atingir este objetivo: o celular, o computador, a internet, para citar os exemplos mais significativos.

Aquele que aceita sem refletir tudo o que a modernidade impõe, vive em clima constante de neurose e tensão.

Imagine a angústia de se perceber sempre atrasado em seus compromissos, a tormenta do relógio a nos perseguir, a impossibilidade de tomar providências simultaneamente! Toda essa urgência e essa quantidade de tarefas a realizar transforma todos em autômatos, sem ponderação, nem sentimentos.  Nunca foi tão grande a irritação, o tormento, a exasperação, o desequilíbrio emocional, como nos dias atuais.

Então, como ter mansuetude e paciência dentro dessa turbulência?

Jesus disse: "Bem aventurados os mansos, porque eles possuirão a Terra". Matheus, 5:5.

Mas como sermos "mansos" se perdemos a calma, discutimos, criamos inimizades pela mínima razão: em casa, no trabalho, no convívio com amigos e no mundo de relação só vemos desavenças? Estamos realmente necessitando de paciência e calma como nunca.

Bem, o mundo é o que é, ou melhor dizendo, o mundo está como está e não podemos ignorá-lo, mas podemos rever nossos comportamentos perante este fato.

Para mudar esta atmosfera turbulenta de nosso globo deveremos mudar as reações de nosso comportamento perante todas as situações da vida - experimentemos a paciência serena, pacífica, sem reações violentas, calma, branda, tolerante, a aceitação tranquila e a vigilância com ponderação.

O psicólogo William James disse "A maior descoberta da minha geração é que qualquer ser humano pode mudar de vida, mudando de atitude."

Cada um de nós poderá perceber, no dia-a-dia, os momentos onde deverá usar a paciência, pois ela é um estado de alma, uma paz de espírito, onde o indivíduo não é atingido pelas irritabilidades e inquietações do cotidiano.

Para C.G.Jung, um estudioso dos fenômenos psíquicos que pesquisou "os distúrbios da personalidade" em profundidade, a espiritualidade liberta o indivíduo da agitação do ego e o transporta para o mundo real, ou seja, para o relacionamento direto com a própria alma.  Para ele, a fé não pode estar acima da razão.

Então, com isso em mente, como mudar um comportamento sem o uso do raciocínio? E se não somos livres para realizar tal mudança, como evoluir, como crescer, como viver?

Jung afirmou que toda criatura traz uma disposição inata para a autotransformação - ele chamou esse processo de individuação, definido por ele como um processo de diferenciação psicológica que tem como finalidade o desenvolvimento da personalidade individual.  A meta não é dominar a própria psicologia pessoal, tornar-se perfeito, mas familiarizar-se com ela.

Ele continua: "Como o indivíduo não é apenas um ser à parte, separado, mas pressupõe, pela sua própria existência, uma relação coletiva, segue-se que o processo de individuação deve conduzir a relações coletivas mais amplas, e não ao isolamento.  A individuação não exclui a pessoa do mundo, mas aproxima o mundo dela."

Indivíduos que atingiram essa sintonia, são indivíduos pacientes porque respeitam os direitos humanos, ou seja, a liberdade de expressão, de ir e vir, de individualidade, de intelectualidade, de consciência.  São indivíduos versáteis e originais com propósitos definidos e buscam alcançar com paciência constante, através de reflexões e estudos, uma síntese lógica e racional no que diz respeito ao espiritual e ao físico, ao real e ao imaginário, à sociedade e ao indivíduo em si.

Para finalizar, relaciono abaixo algumas sugestões de situações diárias onde podemos exercitar a paciência:

- Faça das situações críticas da vida obstáculos a serem contornados suavemente, assim como os rios que ao circundarem rochedos, atingem os vales a serem fertilizados.

- Ante discussões e irritações, desentendimentos, silencie o quanto puder todos os seus impulsos de revides, justificativas ou defesas que possam trazer desequilíbrios emocionais.

- Nas ruas, no trânsito, ao se relacionar com os outros, evite reclamar dos seus direitos transgredidos pelos outros; um comportamento calmo de renúncia desperta muito mais quem, por vezes distraído, não percebeu a infração cometida.

- Em casa, suporte sem stress, os climas tensos; recorra à leitura tranquilizante ou à prece onde poderá conseguir o reabastecimento das energias que renovam.

- Suporte com calma tudo o que acontece em sua existência; procure decifrar e compreender as mensagens que chegam através da linguagem da evolução natural.

Apesar de calma e tranquila a paciência não é paralisação, passividade, ociosidade.  Ao contrário, através dela cada um pode perceber o momento ideal no qual deve abdicar  ou perseverar nas relações, vínculos, situações e atividades envolvidas no seu cotidiano. A paciência sempre traz bem estar para aquele que a pratica.  Quanto mais paciente for uma pessoa, mais complacente será, em vez de insistir para que a vida seja exatamente como ela gostaria que fosse.  Sem paciência, a vida é muito frustrante.  A pessoa se torna facilmente aborrecida, irritável, entediada.  Sem paciência, qualquer obstáculo menor que deva ser enfrentado, torna-se uma emergência completa com frustrações, gritos, sentimentos feridos e alta de pressão arterial.

Quando somos impacientes, desequilibramos os processos internos e externos da Natureza em nós.  Atitudes de paciência mudam nosso modo de ver e de enfrentar conflitos.  E, como todo problema contém em si a "semente da solução" - acalmemo-nos para encontrá-la.

Boa reflexão!

  









 

2 comentários:

  1. Calma, calma, tenha paciência, tudo ficará bem. Nossa, quantas vezes já repetimos esse mantra.

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  2. Olá Sônia, olá leitores. Um excelente texto para reflexão. Paciência é uma das virtudes que mais admiro e tento aprimorar na minha vida. Essa correlação que você fez com a natureza achei excelente. Eu uso justamente a natureza para ensinar sobre paciência e calma ao meu filho pequeno. Talvez o meu apartamento seja o único ou um dos poucos em plena São Paulo que tem um pé de milho na sacada (risos). Isso mesmo, um pé de milho na sacada do apartamento. Ele gosta muito de milho e aproveito esse exemplo para mostrar a paciência que devemos ter do plantio da semente até a obter a espiga. E que isso se aplica na vida de um modo geral. Parabéns mais uma vez Sônia...passei o marca texto no seguinte trecho seu: "Nós precisamos compreender que 'o ser humano é a própria natureza adquirindo consciência de si mesma", e mais que tudo, compreender que nossa estrutura orgânica resulta da paciente realização da natureza'. Abraços!

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