Caros amigos,
Há um tempo atrás assisti a uma palestra muito interessante e posteriormente comprei e li o livro a que ela se referia. O nome do livro é "Os Quatro Compromissos" escrito por um nagual/xamã tolteca chamado Don Miguel Ruiz. Antes de adentrar o tema dos compromissos uma breve explanação sobre os toltecas.
"Milhares de anos atrás, no Sul do México, os toltecas eram conhecidos como "homens e mulheres de sabedoria". Antropólogos se referem a eles como uma nação ou raça, mas na verdade eram cientistas e artistas que se associaram para explorar e conservar a sabedoria espiritual e as práticas dos antigos. Encontraram-se como mestres (nagual) e estudantes em Teotihuacán, a cidade antiga das pirâmides, próxima à Cidade do México.
Ao longo dos milênios, os nagual foram obrigados a manter sua existência na clandestinidade. A conquista europeia, combinada com o mau uso do poder pessoal por alguns poucos aprendizes, tornou necessário ocultar o conhecimento ancestral daqueles que não estavam preparados para usá-lo - ou que pretendiam usá-lo apenas com objetivos pessoais."
Assim, Don Miguel Ruiz traz para nós um pouco dessa sabedoria tolteca para, através dos compromissos, ajudar-nos a buscar nossa liberdade pessoal. Em realidade, essa é a tarefa de um nagual.
Então, vamos aos compromissos.
O primeiro compromisso: "Seja impecável com sua palavra". Em termos gerais, tem um significado mais abrangente onde cada um de nós apenas deveria abrir a boca para expressar nossa verdade. A palavra tem o poder de criar e assim sendo, temos a capacidade de, através dela, trazer harmonia, equilíbrio e beleza para o mundo que nos cerca - como também o seu oposto - desarmonia, confusão, desconforto. "Dependendo de como é usada, ela pode libertá-lo ou escravizá-lo mais do que imagina."
Don Ruiz nos relembra de como a palavra foi usada para destruir no evento do nazismo. São palavras dele: "Alguns anos atrás, (este livro foi escrito em 1997) usando a palavra, um homem na Alemanha manipulou todo um país formado de pessoa inteligentes. Ele as conduziu a uma guerra mundial usando apenas o poder de sua palavra. Convenceu os outros a cometerem os piores atos de violência. Ativou o medo das pessoas e, como uma grande explosão em cadeia, ocorreram assassinatos e a guerra se disseminou no mundo inteiro. Seres humanos destruíram outros seres humanos porque tinham medo uns dos outros. Baseada em crenças e compromissos gerados pelo medo, a palavra de Hitler será lembrada por muitos séculos.
Ele enviou todas aqueles sementes de medo. Elas germinaram e conseguiram provocar uma destruição em massa. Conscientes do enorme poder da palavra, precisamos compreender que tipo de poder sai de nossas bocas. Um temor ou dúvida plantado em nossas mentes é capaz de gerar um drama infinito de eventos. A palavra é como um encantamento, e os seres humanos costumam usá-la como feiticeiros, encantando-se impensadamente uns aos outros."
Quando emitimos nossa opinião sobre determinado assunto ou pessoa, cuidemos para que ele não cause um desastre na vida de quem o ouve. Por exemplo, imagine um pai ou mãe que sempre repetem para o filho que ele é um incompetente, que não serve para nada. Ao crescer, baseado nessas falas quase sempre presentes, ele poderia seguir dois caminhos: ou ele se torna uma pessoa realmente incompetente, ineficiente, insegura, que não consegue fazer nada por causa de sua baixa autoestima ou ele, se for uma criatura resiliente, tentará provar aos pais, a ele e aos outros o quão competente ele é, buscando tentar ser o melhor naquilo que aparecer em sua vida. Como não sabemos se nosso filho, sobrinho, neto, aluno é uma pessoa resiliente, o ideal é buscarmos usar de nossa palavra de uma maneira mais assertiva e afetuosa.
Agora vamos entender a impecabilidade da palavra. Impecável quer dizer "sem pecado". Don Ruiz explica: "Um pecado é algo que se faz contra si mesmo. Tudo o que você sente, acredita ou diz se volta contra você mesmo - ou seja, toda vez que você se julga ou culpa por alguma coisa - é um pecado. Ser impecável é não contrariar sua natureza. É assumir a responsabilidade por seus atos, sem julgamentos ou culpas."
Assim, como o pecado começa quando você se rejeita, "ser impecável com a sua palavra é não usá-la contra você mesmo."
Ao expressar nossa opinião sobre alguém numa conversa quando esse alguém não está presente, tomemos cuidado com nossas palavras - essa atitude é chamada vulgarmente de fofoca. Don Ruiz compara a fofoca a um vírus de computador. Você está usando o computador e de repente coisas estranhas ocorrem: enquanto você está escrevendo um texto, uma página é apagada sem você dar nenhum comando; quando na interação num site, aparece, do nada, uma tela dizendo que você precisa reiniciá-lo para atualizações e por aí vai. O vírus vai atuando sutilmente e você nem percebe, ou melhor, acaba percebendo quando ele bloqueia e você não consegue fazer mais nada a não ser levá-lo a uma loja especializada para a retirada ou limpeza do vírus.
Com a fofoca dá-se o mesmo - algumas vezes caluniamos o outro porque ouvimos falar isso e aquilo deles, sem conhecer sua história de vida, sua realidade.
Quando estamos conversando com uma pessoa e emitimos uma opinião sobre ela, também devemos medir nossas palavras - algumas pessoas podem se influenciar, acreditar nessa opinião como sendo uma verdade e transformar a própria vida. Se busco na pessoa sua parte boa a influencio para o equilíbrio, a estimulo para uma vida feliz.
Don Ruiz traz o exemplo de uma menina brincando em casa, cantando e sua mãe, sem paciência para escutá-la diz que ela tem uma voz horrível e que não deveria nunca mais cantar; assim ela pára de cantar em casa. Ao crescer, essa menina começa a ter dificuldade de se comunicar, na escola e com os amigos, porque acreditou que sua voz era feia e ficou com vergonha de falar. "Sempre que escutamos uma opinião e acreditamos nela, estabelecemos um compromisso que se torna parte do nosso sistema de crenças."
A mãe dessa criança não reparou nas consequências de suas palavras. Há de termos cuidado não somente com nossos filhos, mas com todas as pessoas que interagimos.
Em realidade, quando começamos a pensar nas consequências de nossas palavras, facilmente chegamos à conclusão de que o ideal seria ficarmos calados a maior parte do tempo. "A verdade é a parte mais importante de ser impecável com sua palavra."
Então precisamos nos ater ao que conversamos com os outros - assim como o vírus do computador vai minando sua performance - a fofoca que omitimos sobre uma pessoa não só atrapalha a vida dela, como desequilibra a nossa própria vida - como diria um cavaleiro Jedi "há um balanço na Força".
Don Ruiz ensina: " Sua opinião não é nada além do seu ponto de vista. Não é necessariamente verdadeira. Ela deriva de suas crenças, do seu próprio ego e do seu próprio sonho. Criamos todo esse veneno e o espalhamos aos outros, para que possamos nos imaginar certos em nosso ponto de vista.
Você pode medir a impecabilidade de sua palavra pelo seu nível de amor-próprio. Quanto você ama a si mesmo e como se sente em relação a si mesmo são diretamente proporcionais à qualidade e integridade de sua palavra. Quando você é impecável com suas palavras, sente-se bem, feliz e em paz."
Coloque na geladeira com um imã esse primeiro compromisso: "Seja impecável com sua palavra."
Esse compromisso com você próprio irá, com a prática de seu exercício, trazer-lhe a tão sonhada liberdade, o sucesso e a abundância.
Quando você usa sua palavra para construir, desejar o bem a outrem, estimular a bondade, a delicadeza e a beleza no mundo, você sente-se em paz. Aproveite também para repetir palavras positivas sobre você mesmo, tipo: sou bom, sou maravilhoso, desejo o bem a mim mesmo; "diga a si mesmo como gosta de você." O bem estar que essas atitudes trazem não tem preço.
Antes de terminar, gostaria de comentar que hoje vi uma parte de uma palestra de uma filósofa que gosto muito, da Escola Nova Acrópole, Lúcia Helena Galvão. Ela estava dizendo que a maioria das pessoas em conversa só fala de outras pessoas, uma outra pequena percentagem delas fala sobre fatos do mundo e só uma minoria delas fala de ideias. Quando ouvimos conversas num parque, na rua, no ônibus é isso que ouvimos. Fica a dica para conversas futuras. Falar sobre ideias.
"Seja impecável com sua palavra."
Você é impecável com sua palavra?
Semana que vem trarei o segundo compromisso.
Até lá!
Esta reflexão, Sônia, reforçou a necessidade de pensar minha existência a partir do hoje, deixando para trás os tropeços da caminhada que ficaram no passado, pois no passado eu agi com o conhecimento adquirido naquela época. Quanto mais busco o autoconhecimento, mesmo que eventualmente o passado me visite, consigo me reerguer. Quanto mais me reformo intimamente, mais consigo observar minhas atitudes e minhas palavras. Já consigo calar diante de opiniões divergentes, principalmente com quem convivo sob o mesmo teto; evito "curiosar", verbo criado pelo CVV; não posto sobre assuntos polêmicos nas redes sociais; se recebo conteúdo duvidoso, pesquiso a procedência e a veracidade; na dúvida, onde e com quer que esteja, procuro policiar minha língua. E quando cometo um deslize, não me culpo. Fazendo uma retrospectiva da Margarida adolescente e jovem, hoje sou a Margarida amadurecida, consciente, sempre em busca do aprimoramento.
ResponderExcluirO exercício da impecabilidade da palavra é difícil mesmo. Mas se treinarmos o silencio, pouco a pouco nos acostumaremos a abrir a boca quando somos convidados a fazê-lo ou quando necessário. Dessa maneira poderemos mais facilmente usar o raciocínio.
ExcluirRealmente apenas una minoría fala sobre ideias e São esses que fazem o pensamento avancar
ResponderExcluirVoce pegou uma boa faceta do texto. Sem idéias não há evolução. E como é dificil encontrar alguém que queira discorrer sobre elas... grata pelo comentário Zé.
ExcluirExcelente texto Sonia, parabéns. Muito apropriado para o momento que vivemos onde a palavra está sendo tão mal utilizada por todos, redes sociais, mídias e que dificultam a vida de tod mundo.
ResponderExcluirEu, particularmente sempre fui do tipo quietão, sempre gostei mais de ouvir do que falar, e hoje mais maduro muito mais.
Tudo começa no pensamento, por isso antes de emitir uma opinião, é importante refletir antes, evitando falar coisas que não criem uma onda positiva e se isso não for possível é melhor ficar calado.
Grata pelo comentário, Marcos. Atualmente estou aprendendo a ser como você. Quando ficamos calados a reflexão acontece naturalmente e você fala menos besteiras. Vale a dica!
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