Caros leitores,
A décima primeira regra de Jordan Peterson é "Não incomode as crianças quando elas estiverem andando de skate."
O enunciado é estranho, entretanto chamativo e nos faz pensar em como isso pode se transformar em uma regra para a vida.
Bem, no início do capítulo, para entrar no tema, ele começa explicando que perto de uma das entradas do campus da faculdade onde ele leciona no Canadá, há sempre um grupo de jovens com skate - eles fazem acrobacias pelas escadas e pavimentos da área e até usam os corrimões de ferro para realizarem suas, vamos assim dizer, reviravoltas no ar - muitas vezes, a chegada ao solo não é tão bem sucedida - alguns caem de pé, mas outros têm quedas mais desajeitadas. Muitos adultos acham todos esses movimentos muito perigosos, entretanto essa é uma das possibilidades dos jovens prepararem-se para a vida adulta, ou melhor para buscarem serem melhores naquilo que fazem, pois mesmo caindo feio e se machucando, eles voltam e realizam a manobra novamente.
Com essa introdução, Peterson nos traz a ideia de que a vida tem desafios e obstáculos a transpor e que precisamos buscar nossas próprias estratégias, sair do lugar comum, entendermos que somos únicos e que nosso caminho, na maioria das vezes, é diferente daquele que nossos pais trilharam.
Assim, ele vai discorrendo sobre vários assuntos e dentre eles achei muito pertinente a sua ideia da super proteção de certos pais em relação à vida dos filhos.
A ideia do skate é boa, pois é uma prática perigosa, mas ao meu ver tão "perigosa" quanto o futebol, o vôlei, a natação, e muitos outros esportes. Inicialmente, entendo que os esportes apareceram para exercitar o corpo, mantê-lo em forma - paulatinamente eles se transformaram em atividades competitivas. Infelizmente hoje em dia, os esportes são praticamente pura competição - a maioria das pessoas só se interessam em ganhar - ao ganhador tudo, os louros da vitória; ao perdedor, nada - o fracasso, a derrota, a menos valia. Quando um esporte é levado muito a sério ele envolve dinheiro, jogo, apostas, rixas, brigas - o ego se infla e a impressão que temos é que na vida de algumas pessoas só isso que importa, tanto para praticantes quanto para quem assiste - algumas vezes é até caso de vida ou morte.
Voltemos ao skate - embora hoje ele também tenha campeonatos - a ideia primordial e mesmo nos dias atuais é uma maneira da criançada/moçada buscar o expertise numa atividade - a ideia que Peterson traz, na qual concordo, é a de que o jovem está exercitando não só seu corpo e buscando realizar manobras mais arriscadas, mas também aprendendo a convivência em grupo numa atividade que tira um pouco a mira/o controle dos adultos sobre eles.
Hoje, já muitos pais mais jovens até já conseguem participar dessa atividade com os filhos; entretanto isso ainda é raro - é uma prática dos jovens - é onde eles podem buscar sua auto estima, pois, em minha opinião, não é competitiva ao extremo - cada um realiza a acrobacia, a manobra/evolução como consegue e todas elas são valorizadas - pelo menos é como eu vejo.
Com esse "gancho" do skate, Peterson atenta para o detalhe da super proteção dos pais - no caso aqueles que acham um absurdo, ou extremamente perigoso praticar o skate na rua, calçadas, parques, praças - essa é uma das maneiras modernas dos adolescentes irem "contra" o sistema. Ao meu ver, faz parte do processo da adolescência em direção à maturidade (embora muitos nunca a atinjam - vemos hoje muitos "adolescentes" de 50 anos), e é uma atividade saudável - um ritual de passagem.
Pais super protetores transformam os filhos em eternos dependentes na vida - não se arriscam, não saem de seus ninhos, têm dificuldades nos relacionamentos, não crescem mesmo, não têm ideias próprias, em suma, não vivem. Acabam vivendo a vida que outros prepararam para eles e que muitas vezes, nem é isso que eles queriam. Existem muitos adultos hoje frustrados por esse motivo.
Também pode formar um adulto ressentido, com raiva de tudo a toda hora e muitas vezes sem motivo aparente - é que nos recônditos do inconsciente se encontra a frustração por não tem tido a oportunidade de buscar suas próprias atividades. Outras vezes, crianças super protegidas podem se tornar pessoas que tem dificuldade de dizer não e onde outras pessoas se aproveitam delas. Felizmente, isso tem cura - "conheça-te a ti mesmo" (como dizia a inscrição na entrada o oráculo de Delfos na Grécia Antiga), descubra suas características que não te fazem bem e transforme-as - mude seu comportamento.
A família é o primeiro grupo no qual o indivíduo se insere - ela deve ser a base sólida onde o indivíduo finca o pé e dá um impulso para a frente - para a sua vida individual. A família deve ser o porto seguro que podemos voltar sempre que necessitarmos de reabastecimento. Como diz Peterson, "muita proteção devasta o desenvolvimento da alma."
Atualmente, vivemos tempos difíceis, bem o sei - drogas, criminalidade, sequestros, maldades muitas. Como eu disse, o primeiro grupo de toda pessoa é a família e o segundo é a escola - a instrução é onde nós aprendemos não somente as matérias que nos são oferecidas, mas também a convivência em grupo, as regras sociais, o civismo (acho que esse item é confundido hoje com militarismo), (no dicionário Aurélio, Civismo: Devoção ao interesse público) e a civilidade (no dic. Aurélio Civilidade: Conjunto de formalidades observadas entre si pelos cidadãos em sinal de respeito mútuo e consideração; polidez, urbanidade, cortesia).
Infelizmente, a escola não tem realizado sua função adequadamente - dependendo do professor, o aluno sai da escola do mesmo jeito que entrou, sem conhecimento de nenhuma disciplina escolar e muitas vezes sem noção nenhuma do que ele foi fazer lá. Mas, se ele teve e continua tendo uma base familiar, ele aproveitará melhor o que puder aprender na escola.
Outra característica positiva do skate, no meu entender, é o exercício da agressividade - na tentativa, nem sempre exitosa, de suas difíceis evoluções no skate, o jovem coloca sua agressividade nas manobras de maneira natural - nesta atividade há poucas brigas, pois não é um "esporte" grupal e cada um deve cuidar de realizar suas acrobacias da melhor maneira possível.
Através dessa regra, aprendi a observar os jovens sob outro ângulo e entendi que todos nós estamos tentando ser melhores e mais felizes no dia a dia e que cada um deveria realizar o que veio realizar e não preencher sonhos alheios.
Qual foi sua reflexão a partir dessa regra?
Boa semana!
Sair do ninho, apesar da vitimização da mãe, principalmente. Desafios, autoconfiança, dores e os louros do mérito.
ResponderExcluirDuas observações:
ResponderExcluir1 - A questão do ritual de passagem é encontrada em sociedades ditas "primitivas". Não nas ditas "civilizadas"
2 - Hoje existe a "superproteção" também do Estado sobre o Individuo e aí ele vai vier a vida de acordo com o "modelito" que o "generoso" Estado preparou para ele.