sábado, 12 de junho de 2021

VÍCIOS - NÓS OS TEMOS OU ELES NOS TÊM?

 Olá leitores,

Semana passada assisti um pequeno curso de 5 aulas de uma hora cada, a respeito dos vícios.

As aulas foram ministradas pelo psiquiatra Bruno Lamoglia na Plataforma da  Brasil Paralelo. Como psicóloga, não sou muito fã de psiquiatras, mas este me surpreendeu.  Aprendi muitas coisas que não sabia sobre vícios químicos, embora ele também tenha dissertado sobre os vícios nossos de cada dia, como a mania de reclamar, por exemplo.  Tentarei passar para vocês o pouco que aprendi.

Primeiramente, ele explicou a diferença de alguns vocábulos no que diz respeito à dependência de substâncias químicas e, como médico psiquiatra ele inicia com os vícios materiais/químicos.  Se o indivíduo usa esporadicamente não há grandes problemas; muitas vezes, pode se tornar um hábito por simples automatismo; quando o indivíduo busca um prazer momentâneo, ocorre o ato impulsivo - a compulsão. E finalmente o vício propriamente dito ocorre quando há a dependência e não se vive mais sem a substância.

Na dependência ocorrem alguns fatores a observar.  O primeiro item é a perda de controle - nove em cada dez fumantes afirmam poder parar de fumar quando quiserem e a qualquer momento - só que não.  O próximo item é obviamente, a persistência no vício; depois, ele "troca" a vida pelo vício; outra característica é a tolerância, ou seja, se, no início pouca droga o satisfazia para sentir aquele prazer que ele sentia, com o tempo ele precisa de mais e mais droga para ter aquela sensação e, por último, o desespero, a angústia e a ansiedade que ele sente quando fica sem a substância.  De acordo com Bruno qualquer tipo de substância química, ou seja, aquela que "mudará" a "química" do seu corpo, passa por todos esses passos, para quem já está dependente, seja um simples cigarro até o crack - guardadas as devidas proporções.

A grande causa que Bruno apontou para a pessoa iniciar um vício é a insatisfação na vida.  O indivíduo tem a tendência a pouca tolerância ao sofrimento seja ele qual for - uma insatisfação com membros da família (pais, irmãos, parentes), no trabalho onde não sente que é valorizado, ou até um trabalho que ele realiza sem gostar dele - trabalha pelo dinheiro, porque precisa trabalhar.  Para Bruno, também pode ocorrer uma predisposição genética; outros indivíduos buscam a alteração da mente - querem "sentir um barato" para fugir de alguma situação a qual eles sentem-se mal.

O viciado vive fora da realidade; ele cria uma nova personalidade por causa de sua baixa auto estima.

Freud em seus estudos e experiências notou que pessoas que buscam o prazer imediato são imaturas; lidar com a realidade possibilita o crescimento do ser, o seu amadurecimento e, consequentemente sua felicidade.  Cada um de nós deve buscar a sua verdade para sentir-se realizado. 

Num segundo momento, Bruno discorre sobre os sete pecados capitais - são, em realidade, os sete "vícios" capitais; os vícios são um problemas moral. São eles:

- Gula: vontade excessiva do corpo; descontrole dos desejos do estômago.  O fumo e a bebida podem entrar nessa categoria, principalmente também por serem aceitos socialmente.  De minha parte acrescento que atualmente os "chefs", os "gourmets" são considerados celebridades e muitas pessoas são "gulosas" pelo incentivo dessa prática no meio social.  Para sobrevivermos não é necessário comermos tanto e nem tudo que vemos pela frente.  As consequências óbvias desse vício são orgânicas: obesidade, colesterol e glicemia altas, diabetes, problemas pulmonares (fumo), problemas hepáticos (bebida), vários tipos de câncer, etc. 

- Luxúria: prazer excessivo da carne; vida dando importância aos instintos, ao sexo; estando na fase instintiva tem dificuldade de amadurecimento como um ser racional.  Nesse quesito, a sociedade também dá um grande incentivo no consumo de roupas, cosméticos, alimentos (afrodisíacos), culto ao corpo. A propaganda dá ênfase à imagem, ao corpo e à beleza - o sexo a cada minuto é valorizado como algo especial e praticamente, todas as pessoas se dobram à esse vício.

- Preguiça: Bruno explica que esse vício é onde a pessoa se desconecta da sua vontade, dos seus desejos e da sua responsabilidade - o preguiçoso é o escravo por comodidade.  Quando se dorme muito também podemos ter o vício da preguiça e com  ela pode se instalar facilmente a depressão.  Com tantas facilidades que a vida moderna nos proporciona é fácil cairmos nesse "pecado".

- Ira: situações onde se passa raiva causam sofrimento não só para terceiros, mas para a própria pessoa; pessoas com ataques de raiva debilitam o organismo e podem causar rupturas sociais, tais como perda de amizades, perda do emprego; a pessoa pode ser considerada pelos outros como antissocial.

- Soberba: conhecida também como orgulho/vaidade - é a contemplação de si mesma, o apego à própria excelência - o ego da pessoa está inflado.

- Avareza: desejo de riqueza; medo de perder o que se tem.  O "amo" principal: a riqueza - pessoas que tem o vício do trabalho podem estar nessa categoria.

- Inveja: admiração pelo outro com o objetivo de destruí-lo e diminuí-lo.

A desvirtualização do amor se encontra na soberba, na avareza e na inveja.

O excesso dos desejos da carne se encontra na avareza, na luxúria e na gula.

Bruno ainda em sua terceira aula descreve outros vícios: o álcool com a finalidade de, muitas vezes afastar a timidez; a cafeína para melhorar a produtividade, mas traz aumento da ansiedade; os calmantes que com o uso contínuo podem levar à demência; vício da procrastinação (incluída nos sete pecados  - a preguiça); vício da internet, onde a grande perda é o foco, a concentração - há um estado de hipotonia social - nunca uma relação virtual pode ser comparada a uma relação real - com o tempo há uma perda cognitiva, perda da inteligência humana; vício do videogame - aqui pode haver um ganho nas habilidades cognitivas mas há o afastamento da própria realidade - serve como fuga para os problemas diários e assim há a dificuldade para amadurecer, crescer; vício em sexo, masturbação e pornografia - Bruno o colocou como o maior anestésico para a vida e, concordo com ele - o consequente enfraquecimento da humanidade - nesse vício o homem estaria "voltando para a época das cavernas", praticamente involuindo ou estagnando em sua evolução.

Assim, na quarta e última aula, Bruno traz algumas sugestões de tratamento para os vícios.

Primeiramente, temos que conhecer os vícios e aceitá-los como tais e com esse conhecimento também saber a capacidade e as limitações  que temos que enfrentar para lidar com os vícios - para isso também temos que conhecer a natureza deles - como eles funcionam, porque os temos (ou será que eles nos têm?).  Precisamos identificar obviamente nossa personalidade e nossos comportamentos.

Como foi dito no início, todo vício tem como base psíquica uma baixa resistência à dor, ao sofrimento.

Muitas vezes não conseguimos realizar  esse autoconhecimento sozinhos - talvez precisemos de um amigo, parente ou profissional/terapeuta.

Bruno finaliza com algumas técnicas que podem ajudar.  São elas:

1. Abstinência voluntária.  Buscar estímulos positivos - Por exemplo: meditação, leitura, exercícios físicos.

2. Substituição dos vícios.  Por exemplo, no vício da maledicência, buscar o lado  bom dos outros (sempre há o lado bom, mesmo na pior pessoa que você julga conhecer...).

3. Olhar para você como um vencedor quando deixar, por um momento, de incorrer no vício; tirar lições da derrota.

4. Espalhar cartões de motivações pela casa.

5. Desenvolver outras habilidades sociais.  Por exemplo, aprender um instrumento musical, começar um esporte ou hobby novo, realizar um trabalho voluntário em qualquer área.

Bem, antes de mais nada, identifique o seu vício - ele pode ser material quando envolve o corpo ou até mental e/ou espiritual quando envolve seus pensamentos, sentimentos e emoções.  Nem todas as coisas que fazemos rotineiramente podem ser consideradas vícios - só aquelas que causem mal aos outros, a nós mesmos e, principalmente, se nos atrasam o amadurecimento, o crescimento espiritual.

Tudo o que realizamos na vida deve nos trazer prazer e bem estar, entretanto essas sensações não podem trazer sofrimento para terceiros ou atrapalhar nosso crescimento e o dos outros.

Já conseguiu identificar algum vício em você?

Boas reflexões e boa semana!

  








  



 


2 comentários:

  1. Fumei por 11 anos e consegui deixar o vício com abstinência voluntária. Incrível como o olfato e o paladar eram afetados pelo cigarro. Quanto a comida, sei que devo ingerir menor quantidade. O que me consola é que temos o hábito de ingerir legumes, verduras e frutas diariamente e carne em porções razoáveis.

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    1. Largar vícios é realmente difícil, mas é muito gratificante quando o fazemos.

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