quarta-feira, 29 de setembro de 2021

O REVOLUCIONÁRIO PODER DO PENSAMENTO GLOBAL

Caros leitores amigos,

O texto desta semana foi provocado pela reflexão do TED Talk da escritora turca Elif Shafak que tem como título "O revolucionário poder do pensamento diverso/diversificado/diferente" (em tradução livre de "The revolutionary power of diverse thought").  Eu gostei muito da fala dela embora ela tivesse citado filósofos socialistas, ideologia a qual não concordo em muitos aspectos.  Essa fala foi há 3 anos, mas continua atual; foi antes da pandemia.

Nessa época em que o mundo está dividido politicamente em direita e esquerda, seu discurso trouxe ideias novas que não compactuam com essa noção dualista que os países adotaram como sendo a única verdadeira.

Todos os povos que ela citou e, incluiu-se num deles, são nações despedaçadas por governos ditatoriais e embora pareça que ela pertença à ala esquerda do mundo com a conhecemos, em realidade ela apenas está desse lado por causa de seu nascimento e/ou residência.

Bem, então supõe-se que ela fugiu (ela nasceu na Turquia, mas agora mora em Londres) para fazer parte da ala direita do mundo? Também não.

Então em que lugar da escala direita/esquerda ela pertence?  A resposta é: a nenhum dos dois lados.

Bem, tentarei transcrever o que ela nos trouxe em sua fala da melhor maneira possível.

No início do discurso de vinte minutos aproximadamente ela nos remete a "sentirmos" as palavras, ou melhor, a percebermos o sabor delas.  Algumas palavras têm um sabor bem diferente, tais como: criatividade, igualdade, amor, revolução e pátria.

Ela explica como muitas vezes frente a determinadas perguntas de seus leitores em dia de lançamento de seus livros, ela se calou com medo de falar o que pensa ou de dar uma resposta inadequada naquele momento.  Muitos assuntos são complexos e, agora, nessa palestra ela afirma que ninguém nunca deveria se calar para dizer o que pensa, nem ter medo de assuntos complexos.

Assim, falando de palavras agridoces quando ela se refere à sua pátria, a Turquia, surgem para ela emoções diferentes à respeito de sua própria pátria - embora tendo grande amor à ela, também experimenta uma grande frustração com seus políticos e então tem emoções e sentimentos de desespero, de medo, de raiva.

Para ela, os políticos prestam pouca atenção às emoções das pessoas.  A humanidade passa por um novo estágio na história mundial onde os sentimentos coletivos guiam as nações e os políticos.  As redes sociais polarizadas (não gosto dessa palavra, pois ela divide, separa, mas está na moda e foi a palavra que ela usou) alcançam a todos.

Emoções como ansiedade, ressentimento, medo, raiva, desconfiança não são levadas em conta, mas os políticos aproveitam essa circunstância para controlar e explorar os cidadãos como se houvessem dois campos imaginários opostos.

Ela faz uso de um conceito do filósofo polonês Zygmunt Bauman, falecido em 2017, para falar de países líquidos e países concretos sendo que, os líquidos (do oriente) estão em constante movimento, com águas turbulentas e os concretos (do ocidente) são países mais estáveis.

Nesses países líquidos há a necessidade dos ativismos, do feminismo (pois neles a mulher é a que mais sofre) e dos direitos humanos.  Quem vem desses países líquidos deve continuar lutando por esses valores essenciais à vida, como no caso dela.

Para ela, hoje vivemos em "ambientes líquidos" em quase todo o planeta.  Então, não há mais tão claramente a divisão em países líquidos e concretos.

Muitas vezes, ela continua, nos sentimos estranhos em nossa pátria; neste mundo cheio de desafios e diante de mudanças rápidas, muitas pessoas querem desacelerar e quando tudo é desconhecido as pessoas sentem saudades do familiar; quando as coisas ficam muito complicadas as pessoas desejam simplicidade.

Neste momento da história aparecem os demagogos: eles afirmam que vivemos em tribos, eles "conhecem" os sentimentos coletivos e dizem que estaremos mais seguros se estivermos junto com nossos iguais; eles não gostam da pluralidade, não sabem lidar com a multiplicidade.

Ela cita o filósofo alemão Adorno "A intolerância à ambiguidade é um sinal de uma personalidade autoritária". ( Parece a marca de nosso tempo?)

Os demagogos, ela continua, estão negando o nosso direito de sermos complexos.  O tribalismo encolhe as mentes e os corações.

Ela cita então o escritor iraniano/persa Hafiz: "Você carrega na alma todos os ingredientes necessários para transformar sua existência em felicidade.  Tudo o que você precisa fazer é misturar esses ingredientes."

Ela se considera uma alma global com conexões múltiplas e histórias múltiplas.  Para ela, os demagogos querem estimular a dualidade (concordo com ela).

Quase ao final ela cita o escritor e pensador libanês Khalil Gibran: "Aprendi o silêncio com os que falavam; tolerância com os intolerantes e bondade com os cruéis." Os demagogos populistas podem nos ensinar que a democracia é indispensável; com os isolacionistas aprenderemos a necessidade de uma solidariedade global e com os tribalistas aprenderemos a beleza da diversidade e do cosmopolitismo.

Ela finaliza afirmando que a pátria, a terra natal pode ser portátil; podemos carregá-la onde estivermos.  Concordo, pois afinal somos todos habitantes do planeta Terra que é a nossa pátria.

Assim como ela, finalizo com uma palavra: Liberdade - que sabor ela tem para você?

(Quem quiser assistir esse TED Talk, ele está no YouTube com legendas em português).

Até semana que vem!


 






quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A GATA TRANFORMADA EM MULHER

Olá leitores,

Errata:  Antes de entrar no texto de hoje, gostaria de me desculpar.  Na postagem anterior, quando listei todos os textos do ano ficou faltando um texto: "O Destino do Herói" de 23.07.21, o qual versa sobre outra regra do novo livro de Jordan Peterson.

Então agora vamos à fábula de hoje.

"Uma gata mimosa, bela e delicada, era, para seu dono a coisa mais amada que havia neste mundo.

E o homem, desvairado e inconsequente, amava perdidamente essa gata além dos limites do que é normal.  Um dia ergueu os braços para o céu e, em prece, implorando aos deuses auxílio, fez promessas, orações e magias.  Tanto fez até que conseguiu dos deuses que aquele felino se transformasse em mulher: uma dama lindíssima, uma bela mulher, como convinha a todo homem.

Cego de amor, casou-se com ela.  Homem apaixonado, marido carinhoso, ele a adulava, embevecido pela beleza daquela, cuja origem felina ele havia esquecido completamente.  Para o homem, ela era uma mulher igual a todas as outras.

Numa noite, porém, alguns camundongos entraram no quarto conjugal.  A mulher sentiu a presença deles e, seguindo seus instintos de gata, começou a caçá-los.  Arqueada e ofegante, ela se atirou sobre os ratos, que escapam por um triz.

Ela não conseguiu da primeira vez, mas, na noite seguinte, com os sentidos mais aguçados pela experiência da véspera, assim que os camundongos apareceram, saltou do leito e, em posição felina, arremessou-se sobre eles e os apanhou.

Depois de conservar por muito tempo um licor, o vaso continua a guardar seu odor.  Não perde o pano a antiga dobra, por mais que se tente esticá-lo:  passado um tempo, ele a recobra.

O natural não sofre abalo quando escondido.  Só descansa.  Subitamente, entra na dança, e não há como refreá-lo, nem a bastão, espada ou lança.  Fecha-se a porta com tramela, e ei-lo que sai pela janela."

Hammed interpreta essa fábula, tendo como simbolismo principal a vocação.  Então, primeiramente, falemos sobre a vocação.

A palavra vocação vem do latim vocacio, que quer dizer chamado. No dicionário Aurélio, vocação é "1. Escolha, chamamento, predestinação; 2. Tendência, disposição, pendor; 3. Talento, aptidão.

Num artigo de "O Estado de São Paulo" publicado em 02.08.2003, o jurista, já falecido, Miguel Reale, afirma que existe a ideia de que "ao nascer, cada ser humano chega para exercer uma profissão determinada, para a qual estaria sendo chamado."

Assim podemos concluir que somos chamados a realizar determinada tarefa que nos auxiliará no nosso crescimento pessoal.  Quando seguimos em direção a esta vocação sentimos certa facilidade e certo prazer decorrente desta facilidade.  Entretanto muitos não a seguem como uma meta a ser alcançada e a utilizam como um hobby - então ainda sentem certa alegria na caminhada do dia-a-dia, mas há outros que nem ouvem esse chamado e são esses os que vivem suas vidas de maneira triste, mal humorados e tornam-se pessoas fracassadas e mal sucedidas.

Para Hammed é a "vocação que induz uma pessoa a escolher seu próprio caminho." Muitas vezes é graças à vocação que um indivíduo pode tornar-se um ser único, não se misturando às massas inconscientes nem se influenciando com o psiquismo delas.  Cada um de nós possui vidas,  personalidades diferentes - cada um de nós é um ser único com anseios, passados, características psicológicas e potenciais diferentes.  Quando não nos conhecemos, não olhamos para dentro de nós mesmos, não ouvimos o chamado e não seguimos a vocação que se nos apresenta, temos dificuldade para crescer e quando o fazemos, há muito sofrimento envolvido.

Miguel Reale, no seu já citado artigo, também menciona fatores físicos que podem determinar a atividade profissional.  No esporte, o mais alto pode tornar-se um bom jogador de basquete.  

Lembro-me de uma história de um homem que vivia num vilarejo e que se sentia mal por ser pequeno e de baixa estatura.  Certo dia, um menino havia caído dentro de um buraco e ele foi o único no vilarejo que pode entrar nesse buraco para retirar o menino, devido ao seu pequeno porte.  Então, ele sentiu-se bem e aceitou sua condição física, porque viu e compreendeu nela um propósito.

Cada um de nós deve aceitar sua condição física do jeito que é; a compleição física pode apresentar certas características que auxiliam a pessoa numa tarefa a ser executada.  Entretanto não se pode esquecer o livre arbítrio, a vontade e que em muitas circunstâncias há que se fazer ajuste no físico quando houver necessidade de viver uma vida mais plena - por exemplo, quando houver perigo de vida (obesidade mórbida, por exemplo).

Miguel Reale salienta também que "a vocação é um dom que exige preparo e educação." Ele afirma que "no mundo não se recebe nada de graça, sem estudo e dedicação." 

Juntando os conceitos dos dois pensadores, podemos concluir que quando seguimos nossa vocação, ou ouvimos o seu chamado, temos que nos preparar, estudar com afinco, para depois nos dedicarmos a realizar tal tarefa.  Uma coisa é o campo das ideias e outra é a ação propriamente dita.  E, sem a ação não há realização e não há crescimento pessoal.

Para Hammed, a vocação é "uma manifestação inerente e comum a todos" - não é um privilégio somente de grandes celebridades ou personalidades.  A vocação emerge, envolvendo todo o ser, trazendo à tona uma ideia principal ou um sentimento inato - é como "ouvir uma voz que nos é dirigida."

Toda essa reflexão a respeito da vocação encontra-se na expressão qüididade (no dicionário Aurélio: 1. A essência duma coisa; qualidade essencial; 2. O conjunto das condições que determinam um ser particular).

Hammed usa as expressões "é assim mesmo" e "as coisas são como são" para explicar qüididade, mas ela não tem a conotação de passividade, conformismo ou estagnação - mas designa a realidade essencial e natural das coisas.

Na filosofia, qüididade é "aquilo que faz com que a "coisa seja o que ela é"". Aristóteles em seus escritos usava a expressão "ousia": substância essencial.

Pode-se recorrer ao termo qüididade para dizer "o que é", "é natural que seja assim", "deve ser assim mesmo", quando alguém não se conforma com o modo de ser de uma pessoa ou de uma situação.

Muitas pessoas assemelham-se ao dono da gata da fábula - querem mudar a natureza das coisas e pessoas a qualquer preço - não compreendem que cada um entende a vida do jeito que a percebe, de acordo com sua personalidade, vive da maneira que quer ou que consegue e dá aquilo que possui dentro de si.

Quando se fala de disposições inatas, vocações e tendências pessoais, todos têm necessidades e características próprias de "ser como se é", "de estar onde e com quem desejar", tanto na vida pessoal quanto na social.

O progresso no Planeta Terra aconteceu e acontece desde que éramos "antropoides nus" até "especialistas vestidos".  Nessa caminhada evolutiva a humanidade apreendeu um apanhado de ferramentas intelectuais e/ou emocionais, úteis e produtivas, onde foi possível todos trabalharem juntos e se complementarem unidos, facilitando assim nossa evolução como espécie humana.  E, nessa jornada fomos adquirindo padrões naturais de conduta e desempenho, conhecidos hoje como vocações.

Hammed sugere que, com aquilo que foi explicitado até o presente momento, possamos buscar a verdade dentro de nós mesmos, criteriosamente, pois é este o local onde habita a fonte de sabedoria, que poderá nos trazer a paz com a nossa natureza e concomitantemente, a paz com a natureza dos outros.  Neste quesito, uma sugestão aos pais - na educação dos filhos é importante estar de olhos, ouvidos, mente e coração abertos para trazer à tona a verdadeira natureza deles.  A ideia é auxiliá-los a prestar atenção em suas tendências, disposições inatas, gostos e preferências e assim encontrar suas vocações.

Até aqui muita teoria, muito conhecimento no campo das ideias.  E quanto à ação - importante para o crescimento pessoal? Como percebermos a vida em nós?  Em textos anteriores falamos de quietude íntima, de reflexão, de meditação.  Na maioria das vezes, olhamos para fora e raras vezes olhamos para dentro de nós mesmos.  Já foi dito em inúmeras ocasiões que devemos olhar para nosso interior; mas que não podemos subestimar nosso exterior.  É através da vivência, do contato com outras pessoas e situações que descobrimos características de nossa personalidade.  Quando aquietamos nossos pensamentos, podemos observar essas situações com mais discernimento e entrar em contato com nossas tendências inatas.  "Depois de conservar por muito tempo um licor, o vaso continua a guardar seu odor.  Não perde o pano a antiga dobra, por mais que se tente esticá-lo: passado um tempo, ele a recobra."

Aqueles que têm uma espiritualidade/maturidade bem trabalhada, consciente, não ficam imaginando como as coisas deveriam ou poderiam ser.  Eles sabem que, para certas coisas, todos somos impotentes, e acreditam nesta verdade, portanto vivem de acordo com ela.  Essas pessoas sabem da possibilidade de aprimorar, aperfeiçoar a essência de algo ou alguém e, nunca alterá-la ou descaracterizá-la.  Eles têm o conhecimento de que é possível lapidar o diamante, mas não mudar a sua propriedade íntima; é possível entalhar e cortar a madeira, mas não transformar a sua natureza orgânica; é possível esculpir o mármore, mas não modificar a sua estrutura interna.

Por este motivo, essas pessoas sábias não se lastimam ou reclamam quando algo não sai a contento ou quando alguém não preenche as suas expectativas - eles apenas conseguem discernir o que pode ser mudado e o que não está fora de suas possibilidades, distinguem o que é qüididativo e declaram "é assim, assim seja".  Como eles sabem que as leis naturais regem o transcurso da vida, acompanham o fluir das modificações , intuitivamente deixam-se levar através do curso dos fatos e acontecimentos, sem tentar modificá-los de acordo com sua vontade.

Para não sermos corrompidos por devaneios, preconceitos, caprichos, obstinações e expectativas devemos perceber a Natureza (homem e coisas) em sua multiplicidade de seres diferentes, pois só assim atingiremos a verdadeira vida interior.

Cuidado com delírios alheios que possam nos induzir a uma maneira de viver que não condiz com nossos atributos naturais ou motivações internas;  cuidado com criações de "scripts" que outros nos escrevem de como deveríamos ser, ou de como deveríamos nos comportar.  Cada um de nós é um ser único em crescimento, com níveis diferentes de entendimento e, portanto, diferenças de comportamento.  

Assim como na fábula, não há como transformar gatos em seres humanos - porque gatos sempre serão gatos e homens sempre serão homens - não há como anular nossa índole - propensão natural, característica inerente a todas as criaturas.

Atualmente a humanidade, com raras exceções, convive presa a regras "desnaturadas", ou seja, distanciada da condição "natural" a que foi chamada a viver.

"O que é inato, natural e instintivo não se elimina - equilibra-se". Essa afirmação de Hammed é muito verdadeira. Em nossa caminhada, quando estamos em meio ao processo de crescimento pessoal, na dominação de nossos impulsos, quando achamos que já os dominamos e quando tomamos todas as precauções possíveis para afastá-los e impedi-los de se manifestar, eis que eles surgem na primeira oportunidade favorável - haja vista o exemplo da gata/mulher que assim que aparecem os ratos sai à caça deles.

Boa reflexão e boa semana!

Até!
















 

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

ANIVERSÁRIO - UM ANO DO BLOG REFLETINDO

Caros leitores,

Dia 17 de setembro de 2021 o blog Refletindo completa um ano de existência - foram 52 textos postados religiosamente um por semana como foi enunciado na primeira postagem com o título de "Apresentação" em 17 de setembro do ano passado.

Eu acredito ter realizado um bom trabalho; sinto-me grata por ter conseguido atingir a meta prometida.

No texto de hoje elencarei todos os 52 textos e um breve resumo de cada um deles; caso alguém tenha perdido e queira ler ou reler algum deles fica mais fácil de buscá-los pelos títulos.

17.09.20 - "Apresentação" - obviamente a apresentação e a proposta do blog Refletindo - reflexões causadas por livros, filmes, textos, fatos do cotidiano.

21.09.20 - "O Sentido da Vida" - reflexão sobre o livro de Viktor Frankl "Em Busca de Sentido" - criador da logoterapia, psiquiatra sobrevivente dos campos de concentração nazistas na Segunda Guerra Mundial.

29.09.20 - "Educação" - conceito de educação e reflexões sobre o livro de Sri Prem Baba "Transformando o sofrimento em alegria" o qual traz um capítulo sobre educação.

07.10.20 - "Mantenha-se ereto - com os ombros para trás e as costas retas" - reflexões sobre o livro de Jordan B. Peterson, um psicólogo clínico canadense contemporâneo "Doze regras para a vida"; o título da postagem refere-se à primeira regra.

12.10.20 - "Uma amizade inusitada" - reflexões sobre o documentário "Professor Polvo".

19.10.20 - "Como alguns hábitos do dia-a-dia levam à violência social" - reflexões sobre um TED Talk (Technology, Entertainment, Design) do YouTube de Christiane-Marie Abu Sarah de Dallas, Texas, EUA.

27.10.20 - "Nosso planeta, nossa morada" - reflexões sobre o documentário da National Geographic de David Attenborough "Nosso Planeta".

04.11.20 - "Você cuida de si mesmo?" - reflexão sobre a segunda regra do livro de Jordan B. Peterson "Doze regras para a vida".

10.11.20 - "Nossa vida depende delas" - reflexão sobre uma das minhas paixões - as árvores - reflito também sobre o livro "A vida secreta das árvores" de Peter Wholleben.

18.11.20 - "Mude de destino mudando de hábito" - sobre o livro de Gretchen Rubin "Melhor do que antes - o que aprendi sobre criar e abandonar hábitos". Adorei esse livro e foi ele que me deu a ideia de começar um blog.

25.11.20 - "A verdade que liberta" - o que é a verdade? Reflexões sobre as fake news/os boatos do cotidiano.

01.12.20 - "Seja amigo de pessoas que querem o seu melhor" - terceira regra do livro de Jordan Peterson já citado.

07.12.20 - "Ler ou não ler - eis a questão!" - reflexões sobre minha paixão principal - a leitura - com algumas dicas de livros.

14.12.20 - "Algumas reflexões sobre a vida em sociedade" - sobre a reciclagem de lixo; o racionamento de água aqui em Curitiba.

22.12.20 - "Fratelli Tutti" - "Todos Irmãos" - Parte I - sobre a encíclica do Papa Francisco de 04.10.20 - uma parte dela; ela é extensa e rica em boas ideias; coloquei Parte I mas ainda não me deu vontade de voltar à ela para escrever outras partes - quem sabe mais para a frente.

29.12.20 - "Você é um ser único" - quarta regra do livro de Jordan Peterson.

04.01.21 - "Ano Velho" - reflexões sobre o primeiro ano da pandemia.

12.01.21 - "Filhos, regras e limites" - quinta regra do livro de Jordan B. Peterson.

19.01.21 - "Seja impecável com a sua palavra" - reflexões sobre o livro "Os Quatro Compromissos" do tolteca Don Miguel Ruiz; o primeiro compromisso.

26.01.21 - "Não leve nada para o lado pessoal" - o segundo compromisso.

01.02.21 - "Não tire conclusões" - o terceiro compromisso.

11.02.21 - "Dê sempre o melhor de si" - o quarto e último compromisso.

16.02.21 - "Deixe sua casa em perfeita ordem antes de criticar o mundo" - sexta regra do livro de Jordan Peterson.

25.02.21 - "Recapitulações" - "Bloqueio do Escritor" - experiência pessoal do primeiro ano de pandemia.

04.03.21 - "Busque o que é significativo, não o que é conveniente" - sétima regra do livro de Jordan Peterson.

12.03.21 - "A ansiedade nossa de cada dia" - tópico sugerido por uma leitora - ansiedade.

19.03.21 - "Fale a verdade, ou, pelo menos, não minta" - oitava regra do livro de Jordan Peterson.

25.03.21 - "Escolha sua meditação" - reflexões sobre vários tipos de meditação.

01.04.21 - "Clube Paulista de Patinação - CPP" - reflexão sobre meus tempos de adolescência como patinadora e dicas na educação de filhos.

08.04.21 - "Saber ouvir" - nona regra do livro de Jordan Peterson.

15.04.21 - "Esopo/La Fontaine/La Rochefocauld/Hammed: Fábulas" - apresentação de uma série de textos sobre fábulas.

21.04.21 - "Medo do novo" - três fábulas sobre o medo do novo com cães, coelhos e um peixinho vermelho.

29.04.21 - "Seja preciso no que diz" - décima regra do livro de Jordan Peterson.

03.05.21 - "O corvo e a raposa" - a fábula.

14.05.21 - "O skate como forma de aprendizado" - décima primeira regra do livro de Jordan Peterson.

19.05.21 - "A rã e o boi" - a fábula.

26.05.21 - "Acaricie um gato quanto encontrar um na rua" - décima segunda e última regra do livro de Jordan Peterson.

02.06.21 - "O lobo e o cachorro" - a fábula.

12.06.21 - "Vícios - nós os temos ou eles nos têm?" - reflexões sobre um curso de 5 aulas que participei online com o psiquiatra Bruno Lamoglia na Plataforma da Brasil Paralelo.

16.06.21 - "Os dois alforjes" - a fábula.

24.06.21 - "A andorinha e os outros pássaros" - mais uma fábula.

28.06.21 - "Instituições e Regras X Criatividade Moral" - reflexões sobre o novo livro de Jordan B. Peterson "Além da Ordem - Mais doze regras para a vida" - primeira regra.

06.07.21 - "A raposa e as uvas" - outra fábula.

14.07.21 - "Coreia do Sul X Coreia do Norte" - reflexão causada por uma série coreana da Netflix "Pousando no Amor" que traz de maneira superficial o conflito entre as duas Coreias - trago também dados mais completos sobre a separação das Coreias pesquisados na Wikipédia.

28.07.21 - "A raposa e a cegonha" - outra fábula.

04.08.21 - "Omissão nos relacionamentos" - terceira regra do novo livro de Jordan Peterson.

11.08.21 - "O cachorro que trocou sua presa pelo reflexo" - outra fábula.

19.08.21 - "Todos estamos conectados" - reflexão causada por um vídeo do YouTube de um índio da tribo Hopi dos EUA.

26.08.21 - "O olho de Hórus" - a mitologia egípcia de Osíris, Set, Isis e Hórus contada na visão e reflexão de Jordan Peterson em outra regra de seu novo livro.

03.09.21 - "O moleiro, o menino e o burro" - outra fábula.

10.09.21 - "Abandone a ideologia" - sexta regra do novo livro de J. Peterson.

Bem, aí estão todos os títulos das postagens anteriores.  Espero continuar escrevendo e postando - gosto de escrever, me ajuda a refletir e evoluir.  Espero também que eu esteja ajudando os leitores a realizarem também suas reflexões e posterior autoconhecimento.

Boa semana!

Rumo ao segundo ano! Até!








 

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

ABANDONE A IDEOLOGIA

Caros amigos leitores,

Uma vez, numa consulta homeopática, a profissional em questão perguntou-me o que eu mais valorizava na vida.  Pensei por alguns momentos pois não era uma pergunta fácil de ser respondida, e disse que era a liberdade.  Desde esse dia essa questão tem, vez ou outra, permeado meus pensamentos.

Essa semana participei, pela primeira vez, de uma manifestação em prol da liberdade, no meu meu caso mais específico, da liberdade de expressão - acredito que ela engloba todos os outros "tipos" de liberdade - uma vez que você não tem o direito de verbalizar o que pensa, a sua liberdade já não existe.

Já ouvi muitas pessoas afirmarem que fulano(a) ou sicrano(a) não poderia falar o que fala em público e portanto, deveria ser preso.  Eu não penso assim.  A pessoa deveria levar uma advertência, ou em casos mais graves, ser afastada do cargo que ocupa temporariamente, mas não presa. Essas mesmas pessoas também afirmam que esse fulano(a) ou sicrano(a) está dando um mau exemplo aos outros com o que fala ou escreve e pode acabar influenciando outras pessoas de maneira negativa ou até "contaminar" o ambiente com sua energia deletéria. Essa afirmação pode até ter um componente passível de acontecer, entretanto aquelas outras pessoas que ouvem ou leem o que se fala ou escreve podem vir a se influenciar caso aquilo faça "eco" em suas personalidades.  Visto sob esse prisma  eu poderia afirmar que a base do conflito encontra-se no sistema educativo, social, familiar, moral de uma sociedade em particular.

Muitos de nós gostamos e nos sentimos bem em verbalizar nossas crenças - então porque não ouvir ou ler outras visões de mundo? Se alguém não está satisfeito com o que vê ao seu derredor porque não pode ter o direito de contestar, criticar ou até apontar soluções para isso? Alguém já disse "posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las" (Evelyn Beatrice Hall - apesar de muitas vezes essa frase ser atribuída a Voltaire, a frase é dela, que a escreveu para ilustrar as crenças de Voltaire, na sua biografia sobre o autor "Amigos de Voltaire") (www.pensador.com/frase/MTIyMA). Concordo com essa afirmativa.

Muitas vezes ouço ou leio muitas coisas de que não aprecio e até às vezes, me chocam.  Entretanto, o que foi dito ou escrito foi opinião ou pensamento de uma pessoa que acredita no que disse ou escreveu.  Também aprendemos a "separar o joio do trigo" nessas ocasiões - a vida é uma escola.

Jordan B. Peterson, que é considerado pela "sociedade" como uma pessoa ultra conservadora (termo controverso) trouxe uma ideia muito boa, a refletir: "Abandone a Ideologia" (de seu último livro "Além da Ordem - mais doze regras para a vida - regra VI).

O mundo atualmente está repleto de ideologias e cada pessoa "deveria" escolher uma delas para poder estar incluído no meio social.  Peterson afirma que caso alguém se recuse a pertencer a alguma delas ou criticar sua importância será tacitamente ou explicitamente "demonizado".  Para ele, os adeptos de uma ideologia são intelectualmente equivalentes aos fundamentalistas - rígidos e inflexíveis.  Eles conhecem e sabem de tudo: todo o passado, todo o presente, todo o futuro.

Para ele a maioria dos adeptos de uma ideologia são pessoas ressentidas; se consideram sempre as vítimas de um sistema e lutam contra aqueles que eles acreditam serem seus opressores.

"Um mundo onde só você e as pessoas que pensam como você é bom é também um mundo onde você estará cercado por inimigos prontos para te destruir, os quais você deve combater."

Ao refletir sobre esse texto de Peterson, posso expandir esse tema afirmando que quando nos dispomos a abraçar uma ideologia e nos encontrarmos fechados aos outros tipos de pensamentos e ideias, tornamo-nos fanáticos e nossa vida se preenche de momentos desarmônicos, aflitivos, estressantes.  Não somente nossa mente e alma tornam-se inquietas, em turbulência, mas também nosso corpo sofre.

Lutemos por uma causa sim, mas que seja de maneira pacífica, abraçando cada pessoa em suas ideias individuais porque afinal de contas, todos somos humanos, irmãos/habitantes de um mesmo planeta. Se minha mente está em ordem, pacífica, tudo ao meu redor é encarado com calma, reflexão, tolerância e fraternidade.

Na manifestação ao qual participei aqui em Curitiba, onde moro, foi muito boa.  Tranquila, alegre, com famílias, crianças, pets - todos nós unidos pela liberdade;  senti-me feliz por ser brasileira.  Foi uma experiência diferente que me trouxe paz interior, embora posteriormente muitos canais da mídia visualizaram essa manifestação como sendo negativa. Não sei se todas as pessoas sentiram o que senti - mas não ter nenhuma ideologia fechada ajudou a sentir-me bem.

O texto de hoje termino com a fala de Jordan Peterson.

"Nós devemos conceituar nossos problemas do tamanho que eles são e começar a resolvê-los, não culpando os outros, mas tentando acessá-los pessoalmente enquanto simultaneamente abraçamos a responsabilidade pelo resultado da solução.

Tenha alguma humildade. Arrume seu quarto.  Cuide de sua família. Siga sua consciência.  Endireite sua vida.  Encontre algo produtivo e interessante para fazer e se comprometa com isso. Quando conseguir fazer tudo isso, encontre um problema maior e tente resolvê-lo, se ousar.  Se isso também funcionar, procure projetos mais ambiciosos.  E, como um começo necessário para esse processo...abandone a ideologia."

Boa semana!

Até!









 

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

O MOLEIRO, O MENINO E O BURRO

 Caros leitores,

Hoje traremos mais uma fábula.  Para quem não sabe moleiro pode ser o proprietário de um moinho ou aquele que mói cereais profissionalmente.

Vamos à história.

"Na Grécia Antiga, originou-se este apólogo contado por Malherbe, poeta invulgar, a Racan também poeta, quando este lhe pediu sugestão sobre uma decisão a respeito da vida.

Perguntou Racan a quem deveria ele satisfazer: deveria ele satisfazer às suas vontades, satisfazer às vontades da corte ou às do povo?

Malherbe pensou um pouco e disse:

- Não sei se é prudente contentar toda a gente.  Eis um conto que poderá ajudá-lo a encontrar a resposta:

Um velho moleiro e seu filho, que já tinha seus quinze anos, foram vender seu burro, um dia, no mercado.

O moleiro e seu filho levavam o animal e, a fim de não cansá-lo e alcançarem bom preço, resolveram conduzi-lo, desde o começo, com as patas amarradas e presas num varal carregado pelos dois.

O primeiro que os viu quase morreu de rir.  O moleiro, então, colocou o animal no chão, mandou seu filho montar e continuou andando.  Nisso, passaram três comerciantes e, horrorizados com a cena, comentaram:

- Onde já se viu? O rapaz, robusto, montado no burro, e o velho, a pé.

O moleiro, então, pediu que o filho descesse e cedesse o lugar para ele.  Passaram três moças e uma delas disse:

- Que falta de vergonha! O marmanjo vai sentado como um rei e o pobre menino a pé.

O moleiro, embora soubesse que sua idade permitia que ele seguisse montado, colocou o filho na garupa e continuou seu caminho.

Nem bem o burro deu trinta passos, passou outro grupo e um deles comentou:

- Vocês não têm dó do seu animal doméstico? Como podem sobrecarregar assim o pobre burrico? Se vão vendê-lo na feira, ele vai chegar lá no puro osso!

- Por Deus - diz o moleiro - sofre da moleira quem quer agradar gregos e troianos!

E mais uma vez o moleiro procurou agradar ao caminhante.  Os dois desceram do burro e seguiam pela estrada: o burro na frente e eles atrás.  Alguém os viu e fez chacota:

- Dois burros andando, enquanto o outro trota!

Quem tem cão não precisa ir à caça com gato; quem tem burro não gasta a sola do sapato.  Que queiram ir a pé é natural.  Então, para que trazer o animal?  Belo trio de burros!

Pensou o moleiro:

- Certamente, como um burro eu agi, mas daqui para frente farei como achar bom, sem escutar ninguém.

E assim ele fez.

Quanto a vós, quer sigais Marte, o amor ou o rei,

Quer fiqueis na província ou sejais viajantes,

Quer prefirais casar ou vos tornar abade:

Todos hão de falar, falar, falar..."

A fábula de hoje fala de decisões a serem tomadas, escolhas na vida.  O filósofo e psicólogo William James escreveu: "Quando você precisa tomar uma decisão e não a toma, está tomando a decisão de nada fazer." Então quem não faz escolhas, escolhe não escolher.  Você pode não querer plantar nada, mas uma vez feita a plantação, a colheita é obrigatória - entretanto, aquele que não planta, não colhe, não evolui, não vive - estagna.  Mas, poucos trilham o caminho de nada plantar - sempre realizamos algo.

Como de costume, Hammed expande a parte filosófica de cada fábula e nos faz refletir em termos psicológicos.  Então, ele afirma que para se ter êxito numa empreitada é preciso ter como guia interno o seguinte lema: "Devo parar de escutar simplesmente o que as pessoas dizem; só presto atenção no porquê (o grifo é meu) elas dizem."

Então, reflitamos: cada pessoa interage com outra, fala com outra de assuntos que digam respeito à sua própria personalidade, de acordo com sua maturidade - então o porquê cada um fala o que fala é aquilo que faz eco dentro de si.

Às vezes, quando se analisa esse porquê percebemos as razões, as motivações de vida de cada um.  Em muitas circunstâncias o outro opina sobre a vida alheia tendo como ponto de partida sua própria vida - suas experiências do passado - tanto as bem sucedidas quanto as mal sucedidas - mas isto não quer dizer que ele esteja certo ou errado - apenas que ele já passou por aquela experiência e você não. Então, você reflete, analisa, visualiza as consequências na medida do possível e escolhe: ou faz como a pessoa sugere ou faz diferente dela.

Como a perfeição não é deste mundo, quem erra, agiu para tentar acertar.  Também se sabe que não se acerta todo o tempo e, o mais importante, não se erra todo o tempo.  Assim, caminhamos para frente, passamos por experiências agradáveis ou não, mas adquirimos uma bagagem tal que a cada momento temos a possibilidade de errarmos menos.  Esta é a maneira de crescer; de adquirir a tal maturidade citada no início.

Na fábula, o moleiro faz uso da atitude de agradar a todos.  Mas esta atitude leva ao insucesso porque se fundamenta na crença da perfeição e pode levar o indivíduo de encontro à decepção, à adversidade e ao infortúnio.

Outra característica daquele que quer agradar a gregos e troianos é que ele acredita que se fizer o que os outros sugerem, cairá nas graças deles.  Na história, ele mudava de atitude de acordo com cada pessoa que ele encontrava pelo caminho e as sugestões de cada um eram diferentes e até muitas vezes incoerentes e opostas umas das outras.  O moleiro faz papel de tolo porque ou não sabia realmente como fazer, ou porque não queria ser ridicularizado pela próxima pessoa que encontrava, mas era exatamente o que acontecia.  Ao final, caiu em si e fez aquilo que sua realidade interna ditou.

A arte de viver consiste exatamente no equilíbrio das forças: internas e externas. Nesta caminhada pela vida, é óbvio que não desejamos sofrer e buscamos a felicidade, o bem estar, a paz.  Todavia para alcançar estas metas dois itens são imprescindíveis: o conhecimento dos outros e do mundo e o conhecimento de si mesmo.  Sem isso não há caminhada possível para frente.

Com certeza nesta jornada precisamos ser acolhidos pelo calor dos outros, pela estima das pessoas que respeitamos, pela consideração dos que nos são importantes - do contrário nossa autoestima pode ficar abalada.  Mas, como nos lembra Hammed - nós mesmos é que criamos "nossa régua para medirmos os outros." Como disse no início, cada fato que ocorre em nossa vida está intimamente ligado com nossas características de personalidade e isso ocorre também com cada pessoa que cruza nossa existência.  Porém, se tivermos este dado em nossas mentes, podemos considerar isoladamente cada um dos elementos de uma dada situação e então, perceber que cada atitude leva a um objetivo e aí fazer a pergunta: "Qual é o objetivo final que quero atingir?" Lógico está que nesta empreitada posso aceitar sugestões de como chegar lá, de pessoas que já trilharam este caminho e fazer minha escolha, e esta pode agradar a uns e desagradar a outros.

A criatura que faz tudo para agradar ao outro, não faz o que quer e muitas vezes, não faz o que deveria fazer.  Ela acha que se não fizer de um jeito, não poderá fazer de outro - ela não percebe que, muitas vezes, dá para fazer dos dois modos.  Tomemos como exemplo uma pessoa que dá carona a outras duas que vão para a mesma região da cidade.  A pessoa que dirige o carro quer ir por um caminho, mas as outras duas pessoas querem, ambas, ir por rotas diferentes uma da outra.  Isto pode causar confusão, desentendimento e se não houver uso do bom senso não se chega à local algum mesmo que as três rotas cheguem à mesma região da cidade.

O tipo de pessoa de que falamos aqui é aquela que se caracteriza pelo "culto à linearidade".  Acha que tudo na vida é linear e não percebe que harmonia e desarmonia, ordem e desordem, construção e destruição convivem juntas no planeta e que ela mesma é amada e odiada em situações diferentes por pessoas diferentes.  Ela não compreende que tudo faz parte da vida.  Essas pessoas tendem a dividir o mundo em dois.  Essa divisão coloca o mundo como se fosse formada por dois princípios hierárquicos diferentes e opostos.  Como se o bem e o mal não fizessem parte do mundo (ainda) em que vivemos. Lembremo-nos de que toda criatura possui defeitos e qualidades/potenciais.  Então, elas racionalizam emoções e sentimentos, vivem de forma hierárquica, onde acreditam que a existência humana segue uma escala rígida de valores, de grandeza ou de ordem de importância e dessa maneira, creem que criaturas e criações devem sujeitar-se uns aos outros.  Bem, vivem assim por falta de reflexão.

O culto à hierarquia mantém algumas doutrinas que se atém a separar seres superiores e seres inferiores e que os primeiros estão fadados a mandar nos segundos e estes a obedecer os primeiros.  Em realidade, a inferioridade e a superioridade dos seres é reconhecida pelas suas atitudes e ideias morais e que, nesse sentido, em nível social, muitos que estão na escala hierárquica superior (sic!) podem ser inferiores moralmente e vice e versa.  Mas, no mundo de relações sociais da Terra isto não é claro.  Muitas vezes, é bom, honesto, aquele que parecer bom, honesto.  Não se analisa o seu mundo interno e, às vezes, nem seus atos e ideias.  Mas o homem reflexivo não pode analisar a si mesmo, os outros e o mundo de maneira superficial - deve usar de observação, intuição, buscar inspiração do alto para depois concluir alguma coisa.

Esta fábula demonstra que só podemos e devemos acreditar em nosso julgamento interno porque sempre haverá pessoas que discordem de nossas ações ou condutas.

Aquele que tem coerência na vida é o indivíduo que não adota como verdade absoluta o ponto de vista da maioria e sim aquele que constrói seu próprio julgamento sobre as coisas através de reflexão e avaliação de fatos comprovados.  Para ser coerente não se deve aceitar passivamente as ideias alheias e sim colocá-las sob o crivo da razão, perscrutando dúvidas sobre aquilo que todos acreditam costumeiramente.  O homem coerente faz reflexões constantes sobre suas próprias ideias, porque sabe que elas não são fatos e que podem ser questionadas.  Para criar uma coerência existencial devemos nos habilitar para distinguir valores éticos e estéticos para formar uma opinião pessoal que não seja influenciada por preconceitos, egocentrismo e pela moda social.

Aquele que é coerente busca a lógica e a observação criteriosa porque quer compreender melhor a realidade de si, do outro e do mundo que o cerca.

É impossível agradar a todos.  Não importa o que fizermos, deixarmos de fazer, falarmos ou deixarmos de falar, sempre existirá alguém que usará de ironias, ou escárnios quando se referir aos nossos atos e/ou palavras.

Mas quando tomarmos nossas próprias decisões, baseadas em nossa realidade interna, quando recuarmos da crítica, começarmos tudo novamente, quando desobrigarmo-nos da aprovação dos outros e seguirmos em frente, teremos alcançado nossa coerência existencial, e nos sentiremos mais tranquilos, mais serenos para caminhar para frente, de encontro aos nossos objetivos maiores na vida.

Para concluir, Hammed acertadamente afirma que cabe somente a nós viver e desenvolver a nossa vida, vivenciando os acertos e erros que as experiências nos trazem como aprendizado e então determinar o que é melhor para nossa existência.

Boa reflexão e boa semana a todos!









 







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