Caros amigos leitores,
Este ano, em meu consultório resolvi começar um Clube de Leitura. Em recentes pesquisas científicas e baseado no livro de Maryanne Wolf "O Cérebro no Mundo Digital", descobriu-se a respeito da importância da leitura para a evolução mental e criativa do ser humano. Em seu livro, essa neurocientista americana versa exatamente sobre essa descoberta - do poder da leitura profunda e de textos desafiadores. Para ela, "a leitura profunda, contínua, é vital para desenvolver novamente a atenção, perdida através dos dispositivos digitais, e manter o pensamento crítico e a empatia por outras pessoas."
Assim já tivemos a primeira reunião sobre o livro do mês de março, o primeiro da lista - "O Pequeno Príncipe" - resolvi então trazer a vocês algumas ideias sobre o mesmo discutidas na ocasião.
"O Pequeno Príncipe" de Antoine de Saint-Exupéry foi escrito em 1940 e devolve a cada leitor o mistério da infância. Aqueles que já o leram sabem o valor da história - ela é cheia de frases bem colocadas e nos faz pensar em nossa criança interior. Difícil catalogá-lo: Livro infantil? Aventura? Ficção científica? Fantasia? Na ficha do livro está catalogado como Fábula/Ficção Francesa.
O autor conta que queria ter se tornado pintor (as aquarelas no livro são de sua autoria), mas ao invés disso tornou-se aviador. Fiquei a imaginar se ele teria deixado de sonhar... Entretanto, quando voava podia vislumbrar terras e mares distantes, outras culturas...
O personagem do aviador na história (provavelmente o próprio autor do livro) acaba pousando num deserto por conta de uma falha no motor do avião e nesse local encontra o pequeno príncipe com quem tem grandes diálogos.
Impossível não se enternecer com o pequeno príncipe perdido no deserto vindo de uma estrela distante. Como toda criança é cheio de perguntas.
O deserto nos reporta ao inconsciente onde podemos ter uma "conversa" com nossa criança interior - é um local de meditação - recordemo-nos de Jesus...
O carneiro fala da inocência - essa característica tão importante e tão pura que a grande maioria das crianças possui.
O príncipe "possui" uma flor e cuida dela com todo o zelo - ao se despedir dela entristece-se e no decorrer da história sempre pensa nela e em como ela estaria se sentindo - sozinha talvez...Na discussão do grupo concluímos que a flor seria nossa alma - única, bonita, especial - tem perfume e cor, mas também tem espinhos - é preciso cuidar dela com carinho e zelo.
O livro é repleto de símbolos e talvez seja esse um dos motivos por ter sido tão lido no mundo todo. Cada um de nós o percebe de uma maneira diferente, porém todos que o leem acabam se emocionando e realmente indo de encontro à vida espiritual.
Nas viagens pelos diversos planetas/asteroides que o pequeno príncipe realiza, o autor nos remete a vários símbolos e reflexões.
No primeiro planeta/asteroide ele encontrou um rei que menciona duas frases de impacto da história: "É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar"; "É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros".
O segundo planeta era habitado por um vaidoso. A conclusão do príncipe após encontrá-lo: "Os vaidosos só ouvem os elogios."
No terceiro planeta encontra um bêbado que bebia porque queria esquecer que tinha vergonha de beber.
O quarto planeta era habitado por um empresário que possuía as estrelas e passava o dia a contá-las.
O quinto planeta era ocupado por um acendedor de lampiões - de acordo com o príncipe/o autor da história, o acendedor de lampiões era o único que não se ocupava de outra coisa que não fosse ele próprio - mas ele iluminava o caminho para os outros.
O sexto planeta era habitado pelo geógrafo - este deixou o príncipe pensativo e triste pois ele disse que as flores são efêmeras e não são anotadas num livro de geografia - então ele se recordou de sua flor. Ficou triste também por se dar conta de que possuía em seu asteroide apenas uma flor e três vulcões (e quem de nós não tem ternura, mas também não tem explosões de raiva de vez em quando...)
O sétimo planeta foi a Terra onde ele andou por muitos países; encontrou uma cobra no deserto que lhe disse uma frase intrigante: "Aquele que eu toco, eu o devolvo à terra de onde veio - mas tu és puro e vens de uma estrela..." Foi nesse deserto que ele encontrou o aviador.
Na minha opinião, a parte que é mais significativa é o seu encontro com a raposa - ele entende o poder de cativar e ser cativado por alguém e também a importância da criação de laços. É nessa parte do livro que existem as frases mais usadas no mundo e são aquelas que nos trazem mais reflexões. São elas:
"A gente só conhece bem as coisas que cativou."
"Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz."
"Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos."
"Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas."
Ao final, o autor finalmente se reconcilia com o seu eu interior/sua criança interior e cresce, amadurece - e o Pequeno Príncipe volta em espírito, para sua estrela após o encontro fatal com a cobra.
A cada mês discutiremos um livro no clube - aqueles que residirem em Curitiba e quiserem participar do Clube de Leitura é só avisar-me com antecedência - é aberto a quem quiser, desde que venha à reunião com o livro do mês lido. Abaixo colocarei a lista do ano, caso alguém tenha interesse em ler... A cada mês trarei uma breve resenha sobre a discussão do livro lido.
1. Março: "O Pequeno Príncipe" - Antoine de Saint-Exupéry
2. Abril: "A Letra Escarlate" - Nathaniel Hawthorne
3. Maio: "O Signo dos Quatro" - Arthur Conan Doyle
4. Junho: "Esaú e Jacó" - Machado de Assis
5. Agosto: "A Volta do Parafuso" - Henry James
6. Setembro: "A Cidade e as Serras" - Eça de Queiroz
7. Outubro: "O Processo" - Franz Kafka
8. Novembro: "A Arte da Guerra" - Sun Tzu
Obs. Os meses não listados são meses de férias.
Boa Semana!
O Pequeno Principe é um presente valioso. Li e refleti sobre este livro, com alunos, há uns vinte anos. Também para mim,a parte mais significativa é o encontro com a raposa.
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