terça-feira, 7 de junho de 2022

A LUZ NO FIM DO TÚNEL

Caros amigos leitores,

Hoje tratarei de um assunto que muitos consideram polêmico, outros acham mórbido e outros ainda acreditam que não se deve falar desse assunto - a morte e o morrer. Contudo, na minha opinião, esse assunto deveria ser discutido desde a infância.  Muitos pensarão:  "Que horror! Para que as crianças precisam lidar com esse tema?"

Antes de qualquer conclusão precipitada, tentarei me explicar.

No primeiro ano da faculdade de psicologia, a professora de filosofia (sim, nós tínhamos aula de filosofia na faculdade de psicologia...) nos deu o livro "O que é a morte?" da famosa coleção "Os Primeiros Passos".  Lembro-me que foi uma comoção geral na classe: "Para que falar da morte se estou estudando psicologia?" - foi o que a maioria pensou.  Mas o que a maioria não sabia era que as transformações da vida também eram e são consideradas pequenas mortes - se vou ajudar outros a se autoconhecerem ou entenderem o mundo em meu consultório, obviamente terei que ajudá-los a compreender as transformações de suas próprias vidas no decorrer do processo terapêutico.  Esse foi o início da compreensão do significado da morte para mim.

Agora, reflitamos sobre os vários tipos de "morte" que ocorrem ao nosso redor durante nossa vida.

Vamos começar pelas mortes simbólicas, as quais podemos chamar de "perdas": quando "perdemos" um emprego; quando somos roubados e "levam" nosso carro, por exemplo; quando nosso tênis predileto depois de muito uso se desgastou e precisamos jogá-lo fora e adquirir outro; quando nosso celular pega um vírus e "perdemos" nossos dados pessoais, fotos preferidas e até contatos pessoais; quando nossa casa "dá" perda total por incêndio ou enchente e temos que nos mudar para outra casa, e assim por diante.  Esses são exemplos de "mortes" simbólicas - "mortes" essas que trazem muitas transformações em nossa existência. 

Agora falemos sobre "outras"  mortes - mortes de árvores, plantas, flores - muitas delas exterminadas por causarem incômodos para algumas pessoas; mortes de animais de estimação, nossos pets - quanta tristeza, principalmente para as crianças - esse seria o primeiro passo para ensinar os pequenos sobre o mistério da morte, o qual, ao meu ver não tem mistério algum - é um fato concreto, uma realidade fatal, eu diria a única certeza de que temos na vida: TODOS, absolutamente TODOS chegaremos nesse momento.

Nesse segundo momento, ainda ressalto juntamente com a morte dos pets, a morte de conhecidos, parentes e amigos.  Nesse interim, continuemos a refletir sobre a morte do outro.  Esta, deixa um vazio, uma tristeza saudosa...

E então, chegamos a segunda metade da vida (aliás, qual seria ela? Hoje as pessoas chegam até quase os cem anos vividos - sendo assim, a metade da vida seria os 50 anos? Bom, que seja...).  Nessa etapa, começamos a pensar no nosso passamento.  Claro está que muitos não refletem sobre isso, mas outros se veem com questionamentos tais como: "Como será? Quando? O que estarei fazendo? Sentirão minha falta? Para onde irei? Há outra vida além dessa? Ou será apenas uma escuridão total?"

Eu, de minha parte, felizmente, sou daquelas pessoas que acredita numa vida após o desenlace, sim; creio numa outra dimensão, e então há um certo conforto em saber que não há o vazio, a escuridão total; há uma luz no fim do túnel e pretendo ir em direção à ela quando for a minha vez.  E vocês?

Bem, enquanto esse término terráqueo não ocorre, o ideal é fazer o melhor que podemos aonde nos encontramos, não é mesmo?

Em 2020, durante o primeiro ano ausente do contato social real, assisti no YouTube, no TEDx FMUSP, uma palestra da médica Ana Claudia Quintana Arantes (essa palestra ainda corre solta pelas redes sociais (ainda bem) - já passou por mim umas três vezes...). Ela é médica geriatra e trabalha com cuidados paliativos (Cuidados Paliativos de acordo como que a OMS descreveu em 2002 - " Cuidados Paliativos consistem na assistência, promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria de qualidade de vida do paciente e de seus familiares diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e do alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais."). Em suma, ela "cuida de pessoas que morrem." - palavras ditas por ela mesma em seu livro ao qual li e recomendo "A morte é um dia que vale a pena viver."

Embora esse livro seja sobre como cuidar de pessoas em processo terminal em sua maioria, ele também nos faz pensar em como melhorar nosso relacionamento com nossa própria vida.

O tema de hoje veio à baila ao assistir ontem uma entrevista do médico imunologista Roberto Zeballos - ele fala de sua profissão, de como chegou lá, da época do "combate" à pandemia, mas também fala de física quântica, de espiritualidade e da não finitude de nossa alma.  Essa entrevista dele tocou-me profundamente pois muitas coisas que ele mencionou são pensamentos dos quais também compactuo - me senti acolhida pela sua fala e a mesma trouxe-me mais força, conforto e a certeza de que a vida de cada um de nós vale a pena nesse planeta - mesmo aquelas pessoas que muitas vezes possamos achá-las "descartáveis", essas, se encontram equivocadas a respeito do valor de suas próprias vidas.

Assim, falar da morte é falar da riqueza da vida; é aproveitar cada minuto dela sendo mais simples, muitas vezes mais "invisíveis", mas ao mesmo tempo tendo mais espaço para fazer desse mundo um lugar melhor para viver.

Para finalizar, deixo aqui uma fala do escritor e poeta alemão Rainer Maria Rilke, transcrito no livro de Ana Claudia Q. Arantes, citado anteriormente:

"Precisamos aceitar nossa existência em todo o seu alcance; tudo, mesmo o inaudito, tem de ser possível nela.  No fundo, esta é a única coragem que se exige de nós: sermos corajosos diante do que é mais estranho, mais maravilhoso e mais inexplicável entre tudo com que deparamos."

Boa semana!



 




 

Um comentário:

  1. Para quem acredita num Ser Supremo, a morte do corpo é uma incógnita como o nascimento: não lembramos. Abençoado esquecimento! E como Pai Amoroso somente quer o nosso bem, não há nada a temer. O que nos assusta na morte do corpo, talvez seja a dor física que venhamos a sentir.

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