Olá leitores,
Quando uma pessoa se torna opressora de si mesma podemos fazer uso da expressão corriqueira "fulano/a não precisa de inimigos - ela/ele consegue fazer tudo sozinho/a." Dentro dessa pessoa ocorre uma verdadeira guerra que pode trazer consequências mentais, físicas e/ou emocionais.
Então como nós fazemos isso, porque o fazemos e como nos livrarmos da auto opressão?
A pergunta inicial, fácil de ser respondida, é: quem é que liga e desliga o fio condutor de nossos pensamentos e sentimentos? Somos nós, não é mesmo? Vocês poderiam perguntar: mas eu conheço uma pessoa que faz tudo o que o marido diz para fazer sem questionar. Essa pessoa usa o livre arbítrio? Eu diria que sim - ela decidiu que faria tudo o que o outro manda - talvez movida por medo, preguiça/comodidade, interesse. Neste caso, o livre arbítrio está oculto no medo, na preguiça/comodidade, no interesse. Neste caso até podemos afirmar que ela pode se auto oprimir, porque decidiu entregar seu livre arbítrio para outra pessoa. Bem, tudo isso ocorre em nível inconsciente. A dor, o sofrimento que advém de fazer o que o outro quer são reais, ou seja, conscientes. Esse tipo de pessoa sofre, mas não entende o porquê de tal sofrimento. Cabe a ela realizar uma análise de sua vida, de sua pessoa, de sua personalidade a fim de descobrir a gênese de sua existência sofrida.
O que dizer da pessoa que faz uso do seu livre arbítrio plenamente - ou seja, o oposto da personalidade anterior? Essa pessoa faz somente o que quer, o que gosta, o que a satisfaça, passando por cima das regras sociais e familiares. Essa pessoa também é passível de auto oprimir-se? Eu diria que não - este é mais um caso de egoísmo e orgulho exacerbados. Ela também terá uma existência sofrida, pois nunca levará em conta a opinião, o sentimento, a ideia dos outros e nós sabemos que, uma vez vivendo em sociedade, há que se obedecer a certas leis, regras do convívio social; esse tipo de pessoa pode frustrar-se ou até irritar-se frente a alguns contratempos. Sabemos que muitas vezes, para viver em harmonia devemos acatar opiniões, sentimentos e ideias alheias.
Bem, então que tipo de personalidade está mais propensa a auto opressão? Bem, são as pessoas que se autocensuram, com sentimentos de culpa, de recriminação, com complexo de inferioridade - são indivíduos irresponsáveis pelo próprio destino. Este tipo de personalidade é muito parecido com o primeiro tipo apresentado - aquela criatura que não faz uso do livre arbítrio, isto é, nas duas situações são pessoas que não fazem uso de seu livre arbítrio inconscientemente - só que no caso anteriormente explicado ela o faz por medo, interesse e/ou preguiça/comodidade e, neste caso mais complexo, o faz por insegurança, culpa, baixa auto estima, auto recriminação - são como eu chamo de "vítimas profissionais" - os famosos Hardys "ó vida, ó azar" ou aqueles que dizem "tudo eu".
Essas pessoas, tanto o primeiro caso como este caso, são pessoas que ignoram que possuem livre arbítrio e com este a capacidade de mudarem suas vidas. Esses auto oprimidos sentem-se injustiçados pelos outros, são facilmente influenciados pelo meio externo - pena que são influenciados negativamente, pois não conseguem ver a realidade como ela é. Só conseguem ver a injustiça que lhes ocorre, então não conseguem ver nada de bom, só de ruim.
Aqui quero fazer um parêntese: lembremo-nos de que irradiamos vibrações ou ondas que se propagam ao nosso derredor. Nós emitimos aquilo que pensamos e sentimos e outra pessoa que esteja na mesma sintonia, capta nossos sentimentos/pensamentos.
Pessoas auto oprimidas têm uma vida difícil - possuem dificuldade de enxergar a realidade - não conseguem analisar, discernir e sentir a vida como ela é - lhes falta uma "visão sistêmica" da vida humana. Como sua capacidade de análise está obstruída elas não conseguem fazer uma síntese de experiências vividas - não conseguem perceber que já realizaram muitas coisas positivas na vida as quais poderiam impulsioná-las em direção a uma existência mais plena.
As doenças psicossomáticas existem neste contexto.
Para cultivarmos a auto opressão basta semear culpas, mágoas, críticas, ilusão, baixa auto estima, dependência, etc. em nosso campo emotivo, intoxicando, por nós mesmos, nossa vida íntima.
Então, como nos livrar da auto opressão? Através do exercício da auto observação analisando nossos pensamentos, emoções, atos e atitudes. Entretanto, esta visão interior não pode usar de acusações e julgamentos e sim usar da observação imparcial e objetiva. A verdade deve ser conhecida tal como é. Quando nos conscientizamos de nossa maneira de pensar, nosso mundo interior fica mais claro e podemos mais facilmente administrar nossas atitudes psíquicas. Desse modo, aprendemos a raciocinar e nesse raciocínio conseguimos mensurar o tamanho de nossas dificuldades e conflitos existenciais. É por este motivo que é tão importante ter consciência de quanto ignoramos da vida dos outros e da nossa própria vida. Quando percebemos que não sabemos tudo, exercitamos a humildade e em exercitando-a há um incentivo na busca do aprendizado e da sabedoria.
Platão, filósofo grego, discípulo de Sócrates, mestre de Aristóteles, tem uma frase muito boa que nos traz grandes reflexões: "As pessoas ignorantes não procuram sabedoria. O mal da ignorância está no fato de que aqueles que não são bons nem sábios estão, apesar disso, satisfeitos consigo mesmos. Não desejam aquilo de que não sentem falta."
Quando estudamos a nós mesmos saímos do circuito fechado no qual nos encontramos e nos permitimos desenvolver nossas habilidades que dormitam em nosso mundo íntimo. Quando habitamos o mundo da auto ilusão interpretamos atitudes, fatos, sensações de maneira errônea, tomando-as por coisas completamente diferentes.
E, finalmente, junto à auto-observação, exercitemos a auto aceitação. Esta deve ser serena e honesta. Quando admitimos o que somos e o que sentimos, sem nos condenarmos ou punirmos, facilitamos a conscientização de nossos desacertos e de nossa ignorância - e, quando descobrimos as fontes que perturbam nossa existência, poderemos fazer as mudanças necessárias em nossa personalidade para vivermos uma vida mais plena.
E então, você faz uso do livre arbítrio? Se não, espero que essas dicas possam ser úteis para que você faça uso dele.
Boa reflexão!