Caros leitores,
Primeiramente, antes de responder a pergunta do título, temos que compreender o que é angústia.
Angústia no dicionário Aurélio é:
1. Estreiteza, limite, redução, restrição.
2. Ansiedade ou aflição intensa; ânsia, agonia.
3. Sofrimento, tormento, tribulação.
Só pela definição do dicionário, no que diz respeito à primeira definição, já podemos perceber o estado de uma pessoa que sente angústia - limitada, reduzida, restrita. A impressão que temos é de uma pessoa contida dentro de um local fechado, com limitações de movimentos, restrita, reduzida a um tamanho pequeno. Assim, é uma pessoa fechada em si mesma, em sua intimidade, só.
Com todas essas imagens no pensamento, podemos ter uma ideia bem exata de como se sente uma pessoa angustiada.
A segunda definição do dicionário já traz a ideia emocional - ansiedade, aflição intensa, agonia. Atentemos para o detalhe de que não é uma simples aflição - é uma aflição intensa. E, assim, a terceira definição já traz a ideia de sofrimento, tormento, tribulação.
Agora que conseguimos definir praticamente com exatidão o que é angústia concluímos que a sensação da angústia é desconfortável, é um sofrimento que deveríamos evitar.
Mas, antes de responder a pergunta inicial, também podemos inferir que a angústia é um estado temporário, pelo menos deveria o ser. Com certeza, existem pessoas que podem vir a senti-la mais frequentemente.
Então, como livrarmo-nos dela ou até evitar senti-la? É o que tentaremos analisar no texto de hoje.
A angústia, entretanto, tem uma finalidade - aparece para tentar restabelecer o equilíbrio emocional/espiritual, o qual foi abalado por algum motivo. A angústia nos avisa da desorganização de nosso mundo interior - está a serviço de algo que nós ainda não compreendemos no momento em que ela surge ou que não temos consciência para mudar. O alerta da angústia é para nos mostrar que estamos nos auto abandonando e indo em direção contrária às nossas necessidades de realização interior.
O estado de auto abandono acontece quando:
- Não enfrentamos nossos medos - para enfrentá-los obviamente, precisamos descobri-los, aceitarmos que os temos; muitos tipos de medo são difíceis de detectar; às vezes, os dissimulamos e dizemos para nós mesmos que estamos usando de prudência ao invés de aceitarmos que estamos receosos de enfrentar determinadas situações - afinal de contas, a prudência não invalida o enfrentamento de uma situação - apenas nos faz usar de estratégias, ou vagar para ir em frente. Sendo assim, busquemos descobrir nossos medos, compreendê-los para poder enfrentá-los.
- Queremos ter controle de tudo - ninguém tem o controle de tudo o tempo todo - isso de ter controle de tudo é uma ilusão e, melhor dizendo, uma pretensão infantil. Pessoas controladoras não são livres e a falta de liberdade impede a evolução. Quando desejamos controlar tudo e todos somos controlados por tudo e todos e nem nos damos conta dessa via de mão dupla.
- Usamos de muita perfeição nas atitudes - aqui vai outro componente de ilusão - não somos perfeitos, embora estejamos no caminho - se o fôssemos estaríamos em outro planeta. Na Terra aprendemos errando. Muitas vezes, tentativa e erro nos levam a descobrir coisas incríveis sobre o mundo e sobre nós mesmos.
- Convivemos exaustivamente com a culpa - se somos criaturas que nos sentimos culpadas por tudo o que acontece, temos dificuldade de encontrar alegria para viver e, sem esse fator, a vida se torna insustentável.
Todos esses caminhos da dor emocional citados acima nos levam ao auto abandono.
A angústia ocorre para nos trazer de volta para nós mesmos. Ela sinaliza nosso desvio de rota no caminho da evolução. Ela aparece para nos dizer que não há como resolver coisas de fora, sem resolver mudar o nosso interior. Quando nos entregarmos ao auto amor, nossa vida emocional não precisará do sentimento de angústia.
O auto abandono aparece sutilmente nos atos de orgulho, ciúme, inveja, tristeza pela insatisfação de nossa vida não ser como gostaríamos, na impaciência e na intolerância com o progresso e a melhoria das pessoas que amamos (gostaríamos que elas progredissem ou melhorassem junto conosco, na mesma velocidade), na compulsão em fazer escolhas pelos outros, no destempero (raiva), na sensação de fracasso diante do que deveríamos fazer nas frustrações de nossa vida. Ao nos atermos a esses atos surgem as sensações de perda, de culpa as quais fatalmente nos levam a angústia - tornamo-nos restritos, fechados, presos, contidos. A angústia aparece para nos mostrar que a saída para nossos problemas está dentro de nós. Parece óbvio, chavão, mas não percebemos, pois se o fizéssemos, não sentiríamos angústia.
Ao primeiro sinal de angústia nos perguntemos: o que não estou aceitando? O que estou tentando controlar? Depois dessas perguntas respondidas perceba o padrão de comportamento no seu dia a dia, seus hábitos ao lidar com as situações e busque mudá-los. Já foi dito que não podemos esperar resultados diferentes tendo sempre o mesmo comportamento.
Caso a elucidação dessas duas perguntas não for suficiente, há de se realizar uma investigação mais profunda.
Em suma, dois comportamentos são causas muito comuns nos momentos de angústia:
1. O controle sobre o que não é para ser administrável - os relacionamentos e as situações inalcançáveis;
2. A não aceitação dos acontecimentos na vida.
Esses dois comportamentos consomem muita energia inutilmente e nos levam ao auto abandono.
Assim, lembremo-nos de que a angústia propriamente dita não é um mal, mas um aviso que devemos acatar; através da interiorização temos a oportunidade de nos entregarmos ao auto amor e assim, termos uma vida mais plena a cada dia que passa.
Boa reflexão e boa semana, pessoal!