Olá leitores,
Para melhor entendimento do tema de hoje, será interessante destacar os dois vocábulos, suas declinações e suas definições contidas no dicionário Aurélio.
Mágoa: Desgosto, amargura, tristeza; sentimento ou impressão desagradável causada por ofensa ou desconsideração; descontentamento; desagrado.
Magoado: Melindrado, ofendido, suscetibilizado; aflito, contristado; dolorido, lastimoso.
Magoar: Melindrar, ofender, suscetibilizar; afligir, contristar, melindrar; provocar mágoa.
Antipatia: Aversão espontânea e instintiva; repugnância.
Antipático: Que inspira antipatia; que sente antipatia; contrário; adverso; discordante.
Antipatizar: Ter ou sentir antipatia.
Com essas definições em mente, façamos agora um exercício de imaginação sobre a seguinte situação.
Numa discussão coloquial, devido a uma discordância ou a uma ofensa, a relação de duas pessoas é rompida. Desse rompimento resta uma energia ruim. Por causa disso, futuramente, todas as vezes que um dos lados ouve ou fica sabendo algo de bom e positivo que ocorre com o outro lado, será mal recebido, mal interpretado por este. Haverá desgosto de saber que o outro está bem, que ele continuou a caminhar, melhorou, está progredindo ou até obteve vitórias em sua vida.
Esse sentimento tóxico é a antipatia - mesmo não vendo ou convivendo com essa pessoa, esse sentimento nos desgasta. A mágoa sustenta, alimenta, é o combustível para a antipatia.
Muitas vezes antipatizamos com algumas pessoas que encontramos e vice-e-e-versa. Nesse caso, elas trazem em suas personalidades características nossas que desconhecemos em nós e não gostamos.
Antes de trazer sugestões para resolver o problema da mágoa, tentemos compreender qual ou quais as funções dela em nossa vida emocional ou psíquica. Vale lembrar que a frustração, o ódio, o orgulho, a inveja e aqueles sentimentos culturalmente considerados negativos, somente podem ser considerados tóxicos quando não sabemos quais as suas funções dentro de nós. Há de se buscar educação emocional, através do processo de conscientização, para entender ao que eles vieram.
A principal função da mágoa é nos revelar que existe algo em nós difícil de aceitar. A maior revelação dessa função é sobre como sempre idealizamos as pessoas esperando demais delas ou sobre como idealizamos o mundo e suas leis. Esse é o aprendizado principal quando nos magoamos - devemos diminuir as expectativas que mantemos em níveis muito altos, inclusive em relação ao ofensor.
Outro aprendizado trazido pela mágoa é a nossa impossibilidade de dizer não quando necessário - quando isso ocorre, aumentamos os riscos de manipulação e abuso em nossos relacionamentos.
A ofensa é algo muito dolorido e difícil de tratar. Sensatamente temos que acreditar que ela existe por um motivo - motivo este que deveria ser analisado e descoberto a fim de realizarmos as mudanças necessárias em nossa vida. A mágoa geralmente só ocorre entre pessoas que são importantes em nossa vida.
Outra função da mágoa em nossa vida é buscar desiludirmo-nos sobre o que pensamos a respeito da pessoa que nos ofendeu. Ela ocorre como uma reciclagem sobre quem nos magoou.
A mágoa é um sentimento riquíssimo que nos faz viver com os pés na realidade, pois deixamos de fantasiar família, colegas, amigos, parentes e todos nossos relacionamentos.
A fim de realizarmos com mais acerto nossa maneira de extrair o melhor da mágoa em nosso benefício, podemos fazer uso de duas habilidades que podem ser exercitadas com a nossa força de vontade.
A primeira habilidade é fazer um exame de consciência, uma reflexão sobre o acontecido entre você e a pessoa que supostamente o ofendeu - uso a palavra supostamente porque só nos ofendemos quando não aceitamos que todos podem ter direito a ter ideias diferentes da nossas.
A segunda habilidade é acolhermo-nos como seres humanos passíveis de erro, perdoando-nos. Não podemos voltar ao passado - só poderemos trabalhar o perdão no presente.
Na Bíblia, no evangelho de Mateus 5:25, Jesus sugere: "Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão."
Podemos interpretar dessa maneira: O adversário, o inimigo com o qual necessitamos a nos conciliar nos momentos conflitantes de uma relação é o nosso próprio coração, nosso mundo emocional. Quando não há essa conciliação, o juiz ao qual nosso coração, nosso mundo emocional nos entrega é o egoísmo e este nos entrega ao oficial implacável da mágoa que nos encarcera na prisão mental/psíquica da ofensa e da vingança.
Assim, quando não percebemos os alertas, as lições da mágoa, nos encarceramos literalmente nas teias do desequilíbrio e da antipatia.
Quando perdoamos somos os primeiros beneficiários deste ato. Limpemos nosso coração para enxergar a beleza que a vida quer nos mostrar em relação ao futuro.
"Os piores inimigos não estão lá fora. Vivem dentro de você."
Boa reflexão!
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