Caríssimos leitores,
Em 2008 casei-me com o Zé depois de 10 anos de namoro. Então mudei-me para a casa dele, pois ele morava sozinho e durante nossa estadia de dois anos nesse local iniciamos nossa busca por outra cidade para morar - São Paulo já não dava mais. Primeiramente procuramos locais no estado de São Paulo, entretanto nada nos encorajava de sair de uma cidade onde tinha tudo o que valorizávamos: arte (cinema, museus, exposições de arte, música, teatro), áreas verdes para relaxar, refletir e descansar, nossos amigos, para uma cidade que não tinha tudo isso, ou pelo menos parte disso. Então resolvemos procurar uma cidade grande, mas obviamente não tão grande quanto Sampa.
Então pensamos no sul (sabe aquela história "o Sul é o meu país"...) e como gostamos do frio, veio a ideia de tentarmos a "cidade ecológica", a capital mais fria do Brasil (pelo menos era...) - Curitiba.
Em 11.06.2011 chegamos em Curitiba, literalmente de mala e cuia.
Como todo início de qualquer coisa é difícil, esse não foi muito diferente. Afinal de contas, estávamos mudando para uma cidade praticamente desconhecida (anteriormente, estive aqui por uns 4 dias para conhecer) e não conhecíamos ninguém. Uma das vantagens era começar com o "pé direito" com tudo e com todos.
Como chegamos em junho, lembro-me do frio intenso, e eram caixas e mais caixas para desembalar e organizar - foram duas mudanças - a da residência no bairro do Capão da Imbuia e a do consultório no centro da cidade.
Bem, depois de dias já instalados começamos a nos socializar primeiramente com nossos vizinhos - a maioria muito amáveis e cordatos e as pessoas que fizemos amizade no início não são as mesmas de hoje. Felizmente hoje temos mais amigos e conhecidos aqui do que em Sampa.
Depois dessa introdução gostaria de falar da Curitiba que conheci quando aqui cheguei e que infelizmente não é a mesma de hoje.
Vou começar pelo clima - nos primeiros anos que aqui vivemos chovia muito. Eu gosto muito de chuva, uma chuva decente se é que me entendem e não as tempestades que hoje em dia irrompem vez ou outra por aqui. Já escrevi um texto falando da "paulificação" de Curitiba e parece que até no clima está ficando igual, talvez por conta da quantidade de árvores que têm sido abatidas desde 2020 - aqui o povo gosta tanto de São Paulo (principalmente aqueles que nunca estiveram lá) que resolveram fazer o mesmo percurso do crescimento da "locomotiva do Brasil" (São Paulo para quem não sabe), ou seja, São Paulo cortava e cortou tantas árvores que o clima ficou insuportável em dias quentes e as chuvas eram torrenciais que a maioria dos bairros inundava, pois há rios, riachos e córregos por todo lado e com o excesso de chuva tudo ficava alagado. Depois com o tempo e com o replantio de outras árvores (que demoram décadas para crescer) Sampa revitalizou-se. Então aqui está acontecendo a mesma coisa.
O meu bairro que era bonito, peculiar, resolveram cortar todas as árvores de grande porte para a "revitalização" de duas ruas que aqui chamam de "binário" - uma rua sobe e a outra rua paralela desce, onde as ruas eram mão dupla, hoje cada uma delas é de mão única e como eu disse, cada uma delas em direções opostas. Detalhe: as árvores não precisariam ser cortadas, mas deduzo que com as novas vias virão radares e câmeras (pois com árvores não há funcionalidade para tais aparatos).
Outro detalhe da Curitiba que conheci - o transporte coletivo. Quando chegamos o Expresso, o "vermelhão" como é conhecido popularmente, um ônibus biarticulado chegava a cada 6 minutos em qualquer dia da semana. Hoje leva 10 a 12 minutos de segunda a sexta e sábados, domingos e feriados demora de 20 a 30 minutos. Eles continuam eficientes no quesito tempo de chegada de nossa casa para o centro da cidade (20 minutos) como meio de transporte, mas ultimamente têm dado muitos problemas técnicos devido à falta de manutenção e à "idade" - o prefeito quer trocar para ônibus elétricos por conta da Agenda Climática 2030 da "ONU". Que ironia né? E o corte das árvores? Como ajuda o clima?
Na rua Arthur Bernardes, considerada o "cinturão verde" da cidade, existe a previsão do corte de todas as árvores (mais de 250 espécimes, a maioria de grande porte, incluindo até umas 17 araucárias). Então, a Curitiba que conheci como "cidade ecológica" não existe mais.
Outra característica que não existe mais é o silêncio e a limpeza que existiam. Hoje são obras e mais obras, muitos edifícios sendo construídos e imagino onde irão colocar tanta gente na cidade...??...
Parafraseando Rui Barbosa quando chegou em Salvador, na Bahia, vindo de Haia: "Curitiba tinha seus encantos, hoje são obras por todo o lado e lixo por todos os cantos." (Adaptei; Barbosa escreveu sobre Salvador).
Na rua Emiliano Pernetta no centro da cidade destruíram todas as calçadas de ambos os lados para retirada do Petit Pavê (pedras pretas e brancas que criam mosaicos); (na rua XV de Novembro, o calçadão é feito inteiramente com esse pavimento) e substituíram por cimento. Provavelmente, o que foi retirado será para "enfeitar" a casa de algum(s) figurão(ões).
A Curitiba que conheci está sendo descaracterizada urbanística e culturalmente.
Meu marido e eu muitas vezes pensamos em mudarmos para outra cidade, mas depois de reflexões, ainda dá para viver aqui porque ainda é uma das melhores cidades para morar. Mas nos perguntamos: "Até quando?"
Desculpem o desabafo. Aprendi a amar Curitiba como amei a São Paulo da garoa.
Boa semana!
Bom dia Sônia para você e seu marido. Realmente as cidades não param de crescer. Acredito que principalmente as capitais. Aqui no bairro de Pinheiros (sei que você conhece muito bem), em São Paulo-SP, a quantidade de prédios que estão sendo construídos nos últimos anos é impressionante. Existe praticamente um grande empreendimento em cada quarteirão. Aquele Pinheiros que conheci há 20 anos atrás não é mais o mesmo. Muita obra, muita gente, muito barulho. Enfim, acho muito legal esses projetos de vocês de buscar por mudanças, por qualidade de vida. Eu sou do interior do Estado (Assis-SP). E também penso em me mudar daqui uns anos (estou aqui em Sampa faz 20 anos). Gosto muito da "locomotiva do Brasil" como você mencionou. Mas meu espírito quer regressar para um modo de vida mais calmo, mais tranquilo, mais próximo da natureza. Felicidades! Um abração!
ResponderExcluirBelo texto amiga!🌹💚
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