Caros leitores,
No texto de hoje, embora dando continuidade ao livro de Lyle Rossiter, refletiremos sobre uma afirmação de Edward Gibbon, a qual foi colocada como epígrafe do capítulo 5. Edward Gibbon (1737-1794) foi um historiador inglês, e sua principal obra foi "A História do Declínio e Queda do Império Romano". Eis a frase:
"No final das contas, mais do que querer liberdade, eles queriam segurança. Quando os atenienses finalmente não quiseram mais dar à sociedade, mas sim receber dela, quando a liberdade que desejavam era a liberdade da responsabilidade, então Atenas deixou de ser livre."
(Obs.: Atenas fazia parte do Império Romano no período da Antiguidade Clássica.)
Por esta afirmação podemos inferir que a liberdade não condiz com a segurança. Mas como assim?
Rossiter, desde o início de sua obra afirma que a humanidade tem como meta a sua "bipolaridade" (foi explicitado no primeiro texto dessa série) - ou seja, "atingir as capacidades de coexistência para a ação autônoma a serviço da autorrealização e comportar-se de forma altruística a serviço da ordem social". Isto quer dizer que cada pessoa deve cuidar de si própria e, ao mesmo tempo cooperar com os outros na medida do possível de maneira voluntária. Eu acredito que essa é a trajetória do desenvolvimento humano. Sem essa "bipolaridade" - eu e o outro - não há evolução da espécie humana.
Rossiter lembra bem esse aspecto quando afirma "A busca da autorrealização através do trabalho numa sociedade livre quase sempre resulta em benefícios para os outros, uma vez que os esforços de alguém para gratificar a si mesmo pessoalmente ou financeiramente resultam em bens e serviços que também gratificam seus clientes." "O polo altruísta da natureza humana, uma expressão racional de um instinto cuidador biologicamente determinado, é um dos pilares da ordem social."
E novamente falaremos de competência. "A pessoa competente que emerge deste processo pode determinar seus melhores interesses e dirigir sua vida de acordo com eles, enquanto coopera com outros e os beneficia, intencionalmente ou não. Seus impulsos altruísticos a compelem, além do nível de benefício não intencional, a tratar os desafortunados com compaixão." "Por definição, competência implica em capacidades não apenas de autodeterminação, mas também de compaixão."
Eu também acredito que o ser humano "real" busca compreender a vida em sua totalidade e uma vez, frente a uma problemática de seu semelhante, tente ajudar como pode. Coloquei "real" entre aspas pois existem seres humanos que não conseguem auxiliar alguém em crise e nem parecem reais. Muitos desses são aqueles que preferem que o Estado realize essa função.
Nada contra o auxílio do Estado, quando ele protege a liberdade de escolha nos níveis individual e comunitário.
"As regras, regulações e impostos do Estado intrometem-se invariavelmente no tempo, nos esforços, nos objetivos, nas decisões, na paz de espírito e na riqueza material dos cidadãos que estão tentando tocar suas próprias vidas e cooperar uns com os outros voluntariamente." (os grifos são meus).
"Além de seus efeitos destrutivos sobre a questão do altruísmo em si, as iniciativas do Estado sempre diminuem a liberdade dos indivíduos de cooperarem entre si mesmos na solução dos problemas sociais."
Em suma, " No Estado coletivista, a busca do indivíduo por competência, não pode ser completamente realizada através do exercício do livre arbítrio, porque as escolhas estatais sobrepujam as escolhas individuais, e porque o Estado, em seus esforços para aumentar a dependência da população, sempre tem o interesse de limitar a competência."
Boa semana!