Caros amigos leitores,
Hoje será a vez da décima regra de Jordan B. Peterson: "Seja preciso no que diz."
Para explicar melhor essa regra, Peterson faz uso de dois exemplos, os quais parecem não ter nada a ver com a mesma.
Imaginemos um casal de meia idade, lá pela casa dos cinquenta anos (nem sei se essa idade é considerada meia idade, entretanto acredito que deva ser, visto que a raça humana já está vivendo até os 100 anos). A vida deles é aparentemente boa, sem grandes problemas ou desafios a enfrentar. Repentinamente, a esposa leal, sincera é confrontada com a evidência da infidelidade de seu marido.
Um dia ela o vê numa cafeteria no centro da cidade com outra mulher, interagindo com ela de uma maneira difícil de ignorar e racionalizar. Ela, a esposa, viveu ao lado do marido por longos anos - ela o via como ela achava que ele era: confiável, trabalhador, amoroso, dependente. Em seu casamento, ela se portava como uma rocha, ou assim ela o acreditava. Mas ela havia percebido que ele, ultimamente, tornou-se menos atencioso e mais distraído. Ele começou, como clichê, a ficar no escritório mais tempo. Pequenas coisas que ela dizia ou fazia o irritavam injustificadamente. Quando ela o viu na cafeteria, as limitações e os equívocos de suas percepções tornaram-se imediata e dolorosamente óbvias.
A teoria anterior sobre seu marido entra em colapso. Primeiramente, ela entende seu marido como um complexo e aterrorizante estranho. Mas essa é só a metade do problema. Sua teoria sobre ela mesma também entra em colapso - ela também torna-se uma estranha para ela mesma. Seu marido não é quem ela pensou que ele fosse - mas ela tampouco o é. Ela não é mais a bem amada, esposa segura e parceira valorosa - talvez ela nunca o tivesse sido.
Então, ela começa a se fazer algumas perguntas: ela deve se ver como uma vítima ou como uma co-conspiradora partilhando de uma ilusão? Seu esposo é o quê? Um amante insatisfeito? Um mentiroso psicopata? O próprio demônio em pessoa? Como ele pode ser tão cruel? O que significa esse lar em que ela tem vivido? Como ela pode ser tão ingênua? Ela se olha no espelho. Quem é ela? O que está acontecendo? Alguns de seus relacionamentos são reais? Alguns deles do passado foram reais? O que aconteceu com o futuro?
Deixemos essa história um pouco de lado e vamos ao segundo exemplo - é sobre uma história infantil de Jack Kent chamada "Não existe essa coisa de dragão!" (em tradução livre). O conto parece muito simples na superfície, mas tem um significado simbólico profundo.
Um menininho chamado Billy Bixbee, numa manhã visualiza um dragão sentado em sua cama. Ele é do tamanho de um gato e é bem amigável. Billy conta para a mãe e ela diz que não existe essa coisa de dragão.
Então, o dragão come todas as panquecas de Billy e começa a crescer. Logo ele cresce tanto que preenche todos os espaços da casa. Sua mãe tentava passar o aspirador e o fazia com dificuldade porque tinha que entrar e sair pela janela da casa para fazer esse serviço, porque o dragão ocupava praticamente todos os espaços. Ela demorava muito para fazer isso. Então, o dragão fugiu levando a casa junto.
O pai de Billy veio para casa após o trabalho e encontrou um espaço vazio no lugar da casa. O carteiro contou à ele para onde a casa tinha ido. Então, ele vai atrás da casa e, quando a encontra, sobe pela cabeça e pescoço do dragão que estavam esparramados pela rua e se reúne à sua esposa e filho. A mãe continua insistindo que o dragão não existe, mas Billy insiste: "Mãe, há um dragão."
Instantaneamente, o dragão começa a encolher. Então ele está do tamanho de um gato novamente. Aí todo mundo acredita que um dragão desse tamanho existe e que é preferível do que se fosse gigantesco. A mãe então tentou entender porque ele ficou tão grande. Billy sugere: "Talvez ele quisesse ser notado."
A história do dragão traz, praticamente, a explicação para o primeiro exemplo, o da esposa traída. Tudo o que se sente, os problemas de um relacionamento, de uma casa, é varrido para debaixo do tapete, onde o dragão se delicia com as migalhas. Mas ninguém fala nada quando a ordem da casa/do relacionamento se revela inadequada ou em processo de desintegração, em face do inesperado e do ameaçador. Entretanto, Peterson afirma que "a comunicação entre as pessoas requer a admissão de terríveis emoções: ressentimento, terror, solidão, desespero, ciúme, frustração, ódio, tédio. Momento a momento é fácil manter a paz. Mas, por trás da fachada, na casa de Billy Bixbee, ou em qualquer outra casa como a dele, o dragão cresce. Um dia ele explode de uma forma que ninguém consegue ignorar. Ele arranca a casa de suas fundações. Todas as trezentas mil questões não respondidas, as mentiras sobre elas, que foram evitadas, racionalizadas, escondidas como um exército de esqueletos num grande e medonho armário, irrompem como um dilúvio, inundando tudo. Não há uma arca porque ninguém construiu uma, embora todos sentiram que a tormenta estava se formando."
"Nunca subestime o poder destrutivo da omissão."
"E se a esposa traída tivesse continuamente e com honestidade conversado sobre os conflitos no momento em que eles apareceram, à serviço de uma verdade e paz duradouras? E se ela tivesse tratado os micro colapsos de seu casamento como evidência aparente de uma instabilidade eminentemente digna de atenção, ao invés de ignorá-los? E se os tivesse submetidos à consideração? Talvez hoje ela seria diferente e seu marido também. Talvez ela ainda estivesse bem casada, formalmente e em espírito. Talvez eles fossem mais jovens, fisicamente e mentalmente, do que eles são hoje. Talvez a casa tivesse sido construída mais sobre uma rocha e menos sobre a areia."
"Quando as coisas desmoronam, e o caos emerge, podemos sustentar as estruturas e estabelecer a ordem, através da conversação. Se falarmos com precisão e cuidado, podemos ordená-las e repará-las, colocá-las em seu devido lugar, delinear uma nova meta, e ir de encontro à ela - se negociarmos, chegaremos à um lugar comum, quando alcançarmos um consenso. Mas, se falarmos sem cuidado e de uma maneira imprecisa, as coisas permanecerão vagas."
"Não esconda dragões bebês debaixo do tapete. Eles crescerão - ficarão grandes no escuro. Então, quando você menos esperar, eles pularão de debaixo do tapete e te devorarão."
"Quando você decide ter uma conversa com alguém, você precisa definir o tópico da mesma, principalmente se ela for difícil - senão ela se torna uma conversa ampla, sobre vários assuntos e conversar sobre tudo é muita coisa. Talvez esse seja o motivo do porquê muitos casais pararem de se comunicar. Cada argumento degenera em todos os problemas do passado sobre o problema que existe hoje e tudo de terrível que pode acontecer no futuro. Ninguém discute sobre tudo. Ao invés disso, você pode dizer por exemplo: "Essa é a situação que está me deixando infeliz. Isso é o que quero como uma alternativa, embora estou aberto para sugestões, se forem específicas. É isso que posso ceder para parar de fazer com que nossa vida se torne miserável."
Na minha opinião, esse tipo de conversação pode ser realizado por quaisquer pessoas, tais como familiares, amigos, colegas de trabalho, colegas de escola, de esporte, de faculdade, etc.
"Você deve usar de honestidade e precisão em sua fala. Se, ao invés disso, você se encolher e se esconder, o que você está escondendo , transformar-se-á num gigantesco dragão que se oculta embaixo de sua cama, na floresta e nos recônditos escuros de sua mente - e ele o devorará."
Peterson conclui, dando boas dicas para refletirmos:
"Você deve determinar onde você tem estado em sua vida, para poder saber onde você está agora. Se você não sabe onde está, precisamente, então você pode estar em qualquer lugar. Qualquer lugar pode ser muitos lugares para estar, e alguns desses lugares são muito ruins."
"Você deve determinar aonde você está indo na sua vida, porque você não conseguirá chegar lá ao menos que você se mova naquela direção. Caminhar aleatoriamente não vai movê-lo para frente. Ao contrário, te desapontará e te frustrará; te deixará ansioso e infeliz com dificuldades para lidar com a vida (e depois ressentido, vingativo e até pior)."
"Diga o que você quer dizer, assim você mesmo poderá descobrir o seu propósito. Aja de acordo com o que você diz, assim poderá descobrir o que acontece. Então, aí preste atenção. Perceba seus erros. Articule-os. Esforce-se em corrigi-los. É desta maneira que você descobre o significado de sua vida. Essa atitude o protegerá da tragédia que poderia ocorrer em sua vida. E poderia ser de outra maneira?"
"Confronte o caos da Existência. Faça pontaria contra o mar de problemas. Especifique seu destino e corrija sua rota. Admita o que você quer. Conte àqueles que estão ao seu redor, quem você é. Estreite, olhe atentamente e mova-se para frente, diretamente."
"Seja preciso no que diz."
O texto de hoje foi denso, mas acredito que foi produtivo - nos deixa pensativos...
Boa reflexão!
Até semana que vem.